Por: Fernanda Clariano
Há pouco mais de 60 anos, todas as operações agrícolas da colheita de cana-de-açúcar no Brasil eram manuais - o carregamento mecânico só foi introduzido na década de 50. A cana era totalmente queimada e a colheita mecanizada era ainda muito precária em outros países como os EUA e a Austrália.
Com o passar dos anos, as tecnologias avançaram muito, o setor buscou várias maneiras para sobreviver à crise e reduzir os custos de produção. A mecanização total da cultura e, em especial o plantio e a colheita mecanizada, foram cada vez mais demandadas, atingindo atualmente 82% a 96% da área cultivada, respectivamente no Centro-Sul do Brasil, mas ainda há muito espaço para crescer.
Os resultados obtidos pelo uso das tecnologias mais recentes voltadas ao processo de produção agrícola foram destaques no 20º Seminário de Mecanização e Produção de Cana-de-Açúcar, realizado pelo Grupo IDEA, nos dias 21 e 22 de março, em Ribeirão Preto SP.
Um público de 550 pessoas, entre produtores de cana, profissionais de usinas, pesquisadores, consultores, técnicos e executivos de empresas ligadas ao segmento, acompanhou durante os dois dias do evento palestras, debates e cases de sucesso apresentados por especialistas do setor. Dentre os assuntos abordados, custos de manutenção; o avanço do transporte canavieiro; tecnologias para a adoção dos espaçamentos duplos alternados; o avanço tecnológico em pneus agrícolas, novas tecnologias nas colhedoras e inovações; sistemas de manutenção de máquinas, entre outros.
“A nossa função é divulgar e disseminar essas tecnologias que estão surgindo todos os dias. Nos últimos 20 anos a mecanização canavieira evoluiu como um todo. A colheita mecanizada foi um marco como também o uso do drone; o uso do GPS e o piloto automático, essas são tecnologias determinantes para que chegássemos ao ponto aonde chegamos", disse o diretor do grupo IDEA Dib Nunes na abertura do evento.
Entusiasta do setor sucroenergético, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, marcou presença no evento e saudou os participantes. “Vocês são guerreiros, fazem um trabalho totalmente diferenciado e precisam ter o reconhecimento e serem valorizados pela sociedade que não sabe o quanto o fim da queima custou para o setor. A contribuição deste setor quando abriu mão particularmente da colheita manual para entrar com todo o processo de mecanização precisa ser proclamada e merece o reconhecimento da sociedade. No Estado de São Paulo tivemos uma queda de número médio de 10 toneladas por hectare a menos de produtividade agrícola. A mecanização trouxe isso que é um desafio crescente, pelas características que tinham os equipamentos, pela necessidade de se mudar o espaçamento das culturas e vocês estão dando a volta por cima - Parabéns a esse setor!”, reconheceu o secretário.
Critérios técnicos para a escolha de caminhões canavieiros
Na hora de comprar um caminhão, um trator, uma caminhonete ou qualquer veículo automotivo, as usinas e os produtores às vezes enfrentam algumas dificuldades. Habitualmente essas aquisições são regidas, aplicando alguns critérios tradicionais, como preço e condições de pagamento; simpatia por determinada marca ou veículo; garantia estendida a custo razoável, ou seja, alguns fatores não técnicos.
Durante apresentação no seminário, o consultor Luis Nitsch contextualizou um novo conceito para a aquisição de um veículo automotivo, mais precisamente - caminhão canavieiro, que é um veículo de carregar e rebocar. De acordo com o consultor, o que faz qualquer veículo terrestre de rodas andar são suas rodas – é a força em suas rodas de tração chamada de torque.
“Um caminhão utilizado no transporte de cana, seja ele do tipo plataforma ou cavalo-trator, depende exclusivamente do torque nas suas rodas de tração para as tarefas mais intensas do dia a dia, que são, principalmente, suas arrancadas e superação de aclives, com suas caixas de carga plenamente preenchidas”, ponderou Nitsch, que também apontou um critério técnico para a escolha ou aquisição de um veículo canavieiro. “É importante valorizar quanto custa cada Nm (Newton/metro) que é a unidade de torque atualmente utilizada, quanto custa cada Nm que se tem nas rodas de tração. Dado isso, calcula-se que torque tem nas rodas por meio de uma série de cálculos aritméticos e se chega ao valor do torque médio nas rodas. A partir daí divide-se o preço do caminhão pelos Nms que o caminhão oferece nas suas rodas de tração para chegar a um valor. O veículo que tiver o Nm mais barato provavelmente será o melhor a se adquirir”, garantiu.
A formação da boa lavoura de cana-de-açúcar
A escolha entre espaçamentos reduzidos e tradicionais em cana-de-açúcar foi tema discorrido pelos palestrantes o gerente de Desenvolvimento de Tecnologia Agrícola do Grupo Tereos, José Olavo Vendramini; o consultor, Lourival Monaco Júnior e o diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes Júnior, que destacaram a importância do preparo do solo e do controle do tráfego para a obtenção de um bom resultado.
De acordo com Dib Nunes, as tecnologias para a adoção dos espaçamentos duplos alternados evoluíram rapidamente por esforço dos corajosos entusiastas e devido à busca desesperada de melhorias para sair da crise do setor. “A sua implantação requer uma série de análises locais e um projeto bem equacionado de mudanças, procedimentos e investimentos. Em algumas condições podem garantir pelo menos, os significativos ganhos operacionais e a menor compactação das linhas de cana”, salientou o diretor do Grupo IDEA que ainda comentou “Nos espaçamentos duplos alternados, há um ganho operacional da ordem de 20 a 25%. Existe também uma significativa redução de compactação, há trabalhos que comprovam redução de até 90%. Eu acredito que isso é uma grande atratividade para a mudança de espaçamento”, disse.
Para Lourival Junior, não existe uma recomendação precisa se o plantio alternado é melhor ou o reduzido, por isso, é importante analisar a área - elaborar projetos personalizados. “Cada um tem que analisar a sua área, exige um planejamento prévio, exige investimento ao longo do tempo porque é uma mudança radical, é uma mudança na forma de trabalhar, você tem que fazer várias adaptações”, destacou Junior que ainda afirmou “dizem que o plantio alternado virou uma muleta, mas eu o vejo como uma alternativa e tende ajudar, mas é preciso ser feito com critério”.
O plantio mecanizado bem-sucedido
Com a adoção da mecanização em praticamente em 100% das propriedades, é necessário aumentar a performance para não ter perdas. O resultado passa pela avaliação do clima, o tipo de solo, e também pela manutenção e controle dos suprimentos, mas a qualificação da mão-de-obra ainda é a principal chave para o sucesso. De acordo com o consultor e produtor de cana, Carlos Dalben, “um dos pontos que temos trabalhado muito é a questão da capacitação das pessoas que estão utilizando as tecnologias incorporando máquina, lavoura, solo e clima. A junção desses itens pode levar ao sucesso ou não de uso de tecnologia seja ela qual for”, avaliou Dalben.
Colheita mecanizada
M
elhorar a qualidade da matéria-prima e reduzir os problemas de manutenção e ainda é um grande desafio. Segundo o
gerente de tecnologia agrícola da ATVOS, Douglas Rocha, quetem uma longa jornada dedicada a aumentar a produtividade das máquinas agrícolas,
afalta de planejamento e de sistematização acarreta diversos prejuízos ao sistema, além de aumentar os custos, como a redução da capacidade operacional das máquinas; maiores riscos de acidentes (batidas, quebras, tombamentos, etc.) e perdas de áreas produtivas em carreadores. Rocha reforçou que as condições da cultura e do terreno influenciam diretamente no desempenho com deslocamento da colhedora. “As colhedoras de cana-de-açúcar têm capacidade para operar em velocidades de até 9,0 km h-1, entretanto, é observado que essas máquinas trabalham melhor com uma velocidade de deslocamento entre 4,0 e 6,0 km h-1, sendo que isso ocorre, possivelmente, pela falta de sistematização dos talhões destinados a colheita mecanizada”. Em sua apresentação, o gerente de tecnologia agrícola também comentou sobre a importância do preparo adequado do solo para prevenir torrões. “É importante que o preparo do solo seja feito em condições adequadas de umidade. Solos muito secos resultam na formação de grandes torrões e são necessárias muitas operações para regularizar a situação. Por isso, é preciso analisar as características de cada fazenda, como o teor de argila, topografia e condição de umidade no momento da operação. Respeitando essas premissas, teremos condições favoráveis para uma melhor brotação da cultura, com desenvolvimento das raízes e aproveitamento dos nutrientes”.
Mostra de máquinas e equipamentos
Paralelamente ao seminário, foi realizada a 8ª Mostra de Máquinas e Equipamentos Agrícolas, local onde os participantes puderam conferir, de perto, os últimos lançamentos em máquinas e implementos de grandes fabricantes nacionais e internacionais, como DMB, Case IH, New Holland, MAN, Valtra, Teston, Duraface, Sollus, Jacto, Grunner e TMA.
“Essas empresas que participam da mostra de máquinas e equipamentos contribuíram e contribuem para sobrevivência do setor, são empresas guerreiras. A pesquisa ajuda, mas atualmente está muito forte na área de variedades e fraca na área de máquinas e equipamentos que são desenvolvidas pelas próprias empresas a custo de milhões de investimentos”, lembrou o idealizador do evento, Dib Nunes.
Prêmio “Usinas Campeãs de Produtividade Agrícola da Safra 2017/18”
O 20º Seminário de Mecanização também foi palco para a entrega do Prêmio “Usinas Campeãs de Produtividade Agrícola da Safra 2017/18”, tradicionalmente realizado pelo Grupo IDEA e pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). A premiação foi conduzida pelo diretor do grupo IDEA, Dib Nunes, e pelo gerente comercial do CTC, Luiz Antônio Paes.
Foram avaliadas mais de 100 usinas que representam cerca de 70% da produção de cana-de-açúcar no Brasil. Na safra 2017/18 alguns problemas enfrentados derrubaram a eficiência e a colheita deve ficar próximo da registrada no último ciclo na região Centro-Sul, cerca de 595 milhões de toneladas.
“A safra 17/18 foi uma safra que se caracterizou por produtividades mais baixas do que a média histórica, parecida com a dos últimos anos, por outro lado tivemos uma condição muito favorável de acúmulo de sacarose, então o ATR dessa safra foi superior à média das ultimas safras. Ou seja, você está conseguindo usando tecnologias, com cuidados na lavoura, e principalmente adotando material genético, a tecnologia da genética da cana, variedades mais novas, variedades mais responsivas para essa condição nova que temos de colheita mecanizada e plantio mecanizado, sustentar ainda produtividades que justificam e animam o setor”, afirmou o Paes.
Este ano, a grande campeã nacional em produtividade agrícola foi a Usina Santo Ângelo de Minas Gerais. A unidade conquistou o índice IDEA de 234, 0 pontos, TCH registrado de 97, 2 t/ha, ATR de 138,9 kg/t, e idade média do canavial de 4,4 cortes.
Confiras as outras usinas campeãs de produtividade agrícola:
Estado de São Paulo
Usina Vale do Paraná (região de Araçatuba)
Nova América Agrícola (região de Assis)
Usina Santa Maria - Grupo J. Pilon (região de Piracicaba)
Usina Guaíra (região de Ribeirão Preto)
Usina Itajobi (região de São José do Rio Preto)
Usina São Manoel (região de Jaú)
Estado de Goiás
Cerradinho Bioenergia
Estado do Paraná
Usina Dacalda
Estado do Mato Grosso do Sul
Usina Angélica (Grupo Adecoagro)
“O segredo para ser viável hoje, é ter produtividade. Quem tem produtividade agrícola tem o custo mais baixo e naturalmente sobreviverá as intempéries e às crises, que se avolumam todos os anos”, disse Dib Nunes.
Palco de novidades
-A Case IH lançou no 20º Seminário de Mecanização a colhedora de cana-de-açúcar modelo A8810DA, com duplo alternado. A nova tecnologia teve 29 melhorias implantadas. O modelo A8810DA tem motor FTP Industrial Cursor 9. Outra novidade é que o tanque de combustível foi feito com material plástico desacoplado do chassi. Com capacidade de 620 litros de diesel, além de ter maior autonomia, ele elimina o risco de corrosão e diminui a chance de possíveis vazamentos. O pacote de radiadores tem gavetas com puxadores, permitindo a troca independente de cada componente.
“Essa é uma oportunidade para mostrarmos o que temos de melhor, nossas tecnologias estão no mercado com o objetivo de contribuir com a produtividade e rentabilidade do produtor rural”, disse o especialista em Marketing de Produto da Case IH, Regis Ikeda
-A Solinftec apresentou o programa Alice - umaplataforma de inteligência artificial dentro da própria plataforma Solinftec de gestões de informações, de equipamentos, pluviômetros e equipamentos pluviométricos. O programa tem capacidadede analisar a leitura de todos dados das máquinas, dos operadores e climáticos em relação a rendimentos sem nenhuma intervenção do operador.
“A Alice consegue corelacionar dados e falar para o gestor - para o diretor de uma usina de uma forma mais dinâmica - por voz (por celular), contribuindo para a tomada de decisão. Atualmente as usinas têm as Centrais de Operações onde as pessoas precisam manipular esses dados para poder tomar uma decisão. A nossa ideia é que a Alice manipule esses dados de forma inteligente e tome essa decisão para levar informações ao operador da máquina em tempo real”, pontuou o gerente comercial sucroenergético e expansão internacional da Solinftec, Emerson Crepaldi.
- A DMB Máquinas e Implementos Agrícolas, apresentou o Sulcador de Máquina Automatizada. Onovo acessório da Plantadora de Cana Picada - PCP 6000 possibilitará a eliminação de ondulações no terreno e torrões, criando condições adequadas para a melhoria da brotação, redução de falhas no canavial e diminuição da quantidade de mudas utilizadas no plantio. O desenvolvimento do sulcador com dispositivo destorrador que está sendo disponibilizado para o mercado este ano, foi destacado pelo gerente de marketing da DMB, Auro Pardinho. “Com o avanço da mecanização no plantio e na colheita, as mudanças passaram a ocorrer nos equipamentos de maneira significativa. O aprimoramento do preparo do solo para o plantio, com o desenvolvimento desse novo implemento, se tornou viável após muito trabalho da área de engenharia da DMB”, disse Pardinho.
Canaoeste sempre presente
O engenheiro agrônomo da
Canaoeste (Descalvado), Breno Henrique de Souza, participou da 20ª edição do Seminário e falou da importância do evento para a cadeia produtiva da cana-de-açúcar.
“É importante se fazer presente em eventos que contribuam com o nosso aprimoramento e também uma forma de se manter atualizado as novidades do mercado de máquinas agrícolas e poder estender esse conhecimento aos associados. O Grupo IDEA está de parabéns pela realização desse vigésimo Seminário de Mecanização. Podemos notar que a evolução no setor de máquinas agrícolas nesses últimos 20 anos favoreceu muito o setor refletindo na produtividade e no rendimento operacional das mesmas”, disse.
Enquete
Durante o seminário, o público presente participou de uma enquete interativa, uma forma de despertar o interesse dos presentes e saber suas opiniões sobre assuntos técnicos. Confira!
Qual a principal limitação para o uso do espaçamento reduzido?
Adaptação à mecanização - 40,5%
Clima - 8,8%
Falta de experiência e pesquisas - 50,8%
As máquinas estão preparadas para colher cana em espaçamentos duplos reduzidos?
Em área sistematizada sim - 15,3%
Sim, mas ainda têm limitações - 54,4%
Não - 30,3%
Como fica o ATR na cana em duplo alternado em comparação ao espaçamento simples?
Aumenta - 9%
Diminui - 45,3%
Fica igual - 45,8%
- No duplo combinado pelo fato do disco de corte trabalhar entro do sulco, o abalo da soqueira não seria maior?
Sim - 77,1%
Não - 22,9%
- Os espaçamentos reduzidos e duplos alternados reduzidos produzem mais?
Sim - 16%
Não - 22,8%
Nem sempre - 61,2%