Será o fim da tolerância do povo?

24/06/2013 Colunista POR: Revista Canavieiros - Ed 84 - Junho 2013
Efeitos da Macroeconomia: O Brasil continua andando de lado e a novidade do mês foi a disparada do dólar, que chegou a R$ 2,15 no dia do fechamento desta coluna. Ao produtor de cana, uma vez que os preços do açúcar exportado são em dólares, tem-se uma pequena compensação pela queda do preço internacional quando convertido em reais, mas é preciso analisar o impacto causado na inflação. Se conseguirmos controlar, este novo dólar contribui mais ainda com a força do agronegócio brasileiro no mundo. 
Aprendizado de Viagem: Fiz uma palestra em Dourados e outra em Naviraí (ambos em Mato Grosso do Sul), no Brasil que se desenvolve. Imagens impressionantes de cidades planejadas, onde o recurso trazido da cana vem e movimenta a economia. Entre Dourados e Naviraí, passa-se por Caarapó, onde uma usina foi implantada. Os dados abaixo comparam 2005 (antes da Usina) com 2012, vejam vocês o incrível desenvolvimento.
Nos EUA visitei Saint Louis para fazer uma palestra sobre o futuro dos alimentos. É uma das fortes cidades dos EUA no que tange ao agronegócio, sede de diversas multinacionais como Monsanto e Novus. Impressionantes os centros de pesquisa integrando o Estado e as empresas privadas. Realmente em inovação os EUA dão show. 
Cana: terminamos junho com mais um mês onde a colheita vem progredindo bem e o clima ajudando. Porém, continuam os preços do açúcar em patamares muito baixos, e com isto os reflexos no preço do ATR são muito ruins. 
Para o etanol, o consumo tem reagido, agora que em alguns mercados importantes a relação de preços passa a ser vantajosa ao comprador. Aí está a principal saída para o setor, quanto antes vier a recuperação do etanol hidratado, mais consumo teremos e benefícios aos preços. Resta rezar, por que argumentar não adianta mais.
Pessoas Canavieiras (homenagem do mês): Este mês queria fazer uma homenagem especial ao José Coral e seu maravilhoso trabalho pelo setor e pela Afocapi e Coplacana, em Piracicaba. 
Vida nos EUA: impressionante como aqui o sistema universitário caminha junto com o setor privado. Na Universidade de Purdue, onde estou dando aulas neste ano, os prédios tem nomes de empresários, as salas de aula também e mesmo salas de professores e de reuniões, baseado na quantidade de recursos doados durantes os projetos de construção. No Brasil tem gente contrária a esta ideia, acham que estamos privatizando o ensino. Um pensa grande, outro pensa pequeno. Um apresenta 30% das patentes mundiais, outro, 2%. Simples diferença. No Brasil temos que conviver com o grupo que chamo de 4P’s. O pessoal que tem em suas cabeças retrógradas o projeto permanente de perpetuação da pobreza. Vejam algumas fotos da Purdue University.
Haja limão: escrevo esta coluna vendo, à distância, os tristes episódios das manifestações e a reação da Polícia em São Paulo e em outras capitais contra o aumento no preço da passagem do ônibus. Ainda não sei se esta é a verdadeira motivação, mas com certeza são deploráveis as cenas de violência, seja de manifestantes que passam do ponto e perdem a razão, as injustificadas e criminosas depredações do patrimônio público e a reação policial, em alguns casos também exagerada. Choca saber que brasileiros pediram o linchamento de um policial. De qualquer forma, pode ser que o povo finalmente tenha cansado da violência, do baixo crescimento econômico, do difícil pesadíssimo e corrompido processo político brasileiro, da corrupção descontrolada, do lamentável episódio do mensalão, da má gestão em diversas áreas. Quem sabe a tolerância do povo esteja acabando. Resta ver. Como não quero acidificá-los totalmente com limão deixo meu comentário sobre a problemática indígena para a próxima edição. 
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat. Em 2013 é Professor Visitante Internacional da Purdue University.