Sertãozinho: Uma hidrelétrica adormece nos canaviais
14/10/2013
Cana-de-Açúcar
POR: A Cidade
Bagaço não usado para as usinas poderia fazer eletricidade e atender Sertãozinho por um ano e meio.
Sertãozinho, polo fornecedor de bens e serviços para usinas, possui adormecida uma pequena hidrelétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar. São três usinas e duas destilarias, que vão esmagar aproximadamente 10 milhões de toneladas de cana na safra que segue até o fim do ano.
As três usinas estão aptas, com equipamentos já instalados, para produzir energia extra suficiente para ser vendida às distribuidoras, segundo o diretor da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), Luiz Carlos Tasso Júnior. Segundo ele, uma tonelada de cana produz, em média, 0,27 a 0,35 toneladas de bagaço.
“Ou seja, 10 milhões de toneladas de cana geram 2,7 milhões de toneladas de bagaço, sendo que deste total, 45% são utilizados nas caldeiras das próprias unidades, para produzir a própria energia de uso e o restante poderia sim ser utilizado para gerar energia a ser disponibilizada a empresas como a CPFL”, diz o diretor da Canaoeste.
Baseado na sobra do bagaço, que seria de cerca de 1,5 milhão de toneladas, e que, em média, são necessárias três toneladas de bagaço para a geração de um MWh, Sertãozinho poderia vender 500 mil MWh.
Esta quantidade de energia seria suficiente para abastecer a cidade por quase um ano e meio, levando em conta dados da CPFL que mostram que em 2012, o consumo total de Sertãozinho foi de 333.488 MWh e, no primeiro semestre deste ano, foi de 167.937.
De acordo com o consultor em geração de energia Eustáquio Gomides da Silva, o custo para a implantação de uma térmica com capacidade de geração instalada de cinco MW é de R$ 12 milhões, isto em uma usina.
Ou seja, o investimento para a implantação de um MW é de R$ 2,4 milhões.
Potencial de geração esbarra em custo de transporte
Sertãozinho está localizada próxima de linhões de transmissão de energia. Segundo o gerente de Bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar José de Souza, a questão do transporte é um custo que hoje pertence ao vendedor e representa cerca de 30% do investimento para a geração da energia.
“[Sertãozinho] é estratégica e por isso, para maior investimento das usinas, seria fundamental uma política de longo prazo por parte do governo, para equacionar o custo que é muito oneroso, além disso, o preço pago pela energia da biomassa nos leilões teria de ser remunerador, reconhecer os benefícios da bioenergia”, diz Souza.
O preço pago por MWh no leilões realizados pelo Ministério de Minas e Energia é de cerca de R$ 133. O último foi realizado em agosto, quando seis térmicas de usinas venderam sua energia excedente.
“Houve um pequeno avanço neste último leilão porque não houve a competição da energia eólica. A concorrência com a eólica não é equilibrada, porque são produções, custo e benefícios diferentes”, explica.
Apesar das barreiras, o potencial da região é grande. No ano passado, a região de Ribeirão Preto, da qual Sertãozinho faz parte, gerou o excedente de 975.123 MWh, geração de energia que foi vendida e entregue à rede.
“Essa energia dá para atender 2,1 milhões de habitantes pelo período, em termos de residências, seriam 521 mil, ou 1% do consumo residencial do Brasil, por ano. E evitou que 430 mil toneladas de CO2 fossem emitidas”, diz Zilmar.
Geração maior aqueceria a economia local
A cidade de Sertãozinho tem cerca de 500 empresas ligadas ao fornecimento de bens e serviços para as usinas. O aumento do investimento na geração da bioenergia poderia aquecer o setor, que se encontra em ociosidade devido à crise do setor sucroenergético.
De acordo com o presidente do CEISE Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis), Antônio Eduardo Tonielo Filho, o parque industrial da cidade tem todas as condições de atender a demanda gerada, a partir da implantação de novas unidades produtoras de energia produzida pelo setor sucroenergético.
“Temos tecnologia e mão de obra qualificada disponível para produzir as máquinas e os equipamentos necessários. Com a crise, a indústria sertanezina está com a capacidade instalada com ociosidade 40% a 50%, portanto com plena condição de atender, imediatamente, aos pedidos para aumentar a geração de energia do bagaço”, diz.