Setor precisa no mínimo de 20 anos para se recuperar

20/04/2015 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital - Revista Canavieiros
Cenários e as perspectivas do segmento sucroenergético para a safra atual foram discutidos durante a IV Reunião Ordinária do GESUCRO (Grupo de Estudos para Gestão Sustentável e Controladoria da Cadeia Sucroenergética), realizada no dia 24 de fevereiro, em Sertãozinho-SP. O coordenador do grupo, Marcos Françóia, diretor da MBF
Agribusiness, deu as boas-vindas no evento, que contou com a participação de
empresários, advogados e consultores da agroindústria canavieira.
“O setor precisa de 20 anos no mínimo para se recuperar do alto endividamento que tem hoje”, afirmou o executivo lembrando que, em junho do ano passado, a dívida do segmento girava em torno de R$ 60 bilhões e, agora, já ultrapassa os R$ 77 bilhões. “O faturamento do preço que nós temos em um saco de açúcar está muito próximo de
R$ 100,00, sendo que 60% do setor está num quadro de endividamento maior do
que isso, ou seja, tudo que você gerar de margem vai gastar com custos financeiros”,
desabafou.
De acordo com José Américo Rubiano, presidente da consultoria Rubiano AS, o setor sucroenergético vive uma crise sem precedentes, visto que há demanda para todos os produtos que as usinas podem fornecer. Segundo ele, três aspectos estruturais preocupam a cadeia produtiva canavieira e devem receber tratamento emergencial: o elevado endividamento, o passivo tributário e a falta de recursos para investimentos. 
“Se nós não resolvermos isso, não resolveremos mais nada, pois são soluções estruturantes e necessárias para que a cadeia produtiva possa realmente retomar”,
alertou, perguntando ao mesmo tempo como é possível se resolver essa questão
“em um momento em que o Brasil não está pagando nem água, luz e telefone de
algumas de suas embaixadas, ou seja, nós vivemos um momento de muita dificuldade,
onde o Estado brasileiro não tem condições de socorrer o setor privado, mas ele pode junto com o setor privado desenvolver uma política que consiga orientar essa cadeia produtiva no sentido da sua recuperação”, alegou.
Uma solução proposta pelo consultor seria a criação de um Refis (Programa de Recuperação Fiscal) específico para o setor, com prazos de carência de um ciclo da cana. “Como há dificuldade de acesso aos recursos, seria constituído um fundo de  investimento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que vai ao mercado alavancar recursos”, explicou. 
As “Perspectivas Econômicas e de Preços para o Setor Sucroenergético” foram apresentadas por Fabrício Brandmart Ferraz, diretor da trading Eridania, responsável pela América do Sul, na ocasião. “O rastro de destruição na quebra física e financeira da nossa matriz energética, o sucateamento de empresas, como a Petrobras, é algo que
vai demandar muito tempo para se recuperar, e talvez, ironicamente, seja o fundo do poço que traga algum alento ao nosso setor através do caminho da energia”, analisou.
Ao dar um panorama dos mercados, o executivo lembrou que as moedas enfraquecidas
contra as altas cotações do dólar estão afetando o poder de compra de importadores de açúcar, tais como a Rússia e a Indonésia. Já a baixa do preço do petróleo está abalando o fluxo de caixa de produtores, como Irã, Iraque, Angola e Nigéria. 
“A importação na Rússia, em 13/14, foi 60% maior que o ano anterior, os estoques estão elevados o suficiente para satisfazer demandas até a próxima safra”, disse, ressaltando que na Indonésia - um dos principais destinos do açúcar brasileiro - as licenças de importação ainda foram não alocadas pelo governo e a China continua sendo uma caixa preta, já que o governo pode inesperadamente financiar as usinas a juro zero e mudar as regras do jogo a qualquer momento. “Hoje, existe no mercado uma supertendência de uma superoferta se transformar em deficit.
Isso está começando a se configurar, mas nada ainda se confirma”, lembrou. Embora tenha afirmado que o futuro do setor no Brasil ainda seja uma incógnita, as recentes decisões podem pontuar o início de mudanças. “A CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) não afetará o mix de cana e nem reduzirá a oferta de açúcar. Já o aumento na mistura de etanol na gasolina, de 25% para 27%, pode gerar mais consumo
de etanol em 1 bilhão e a redução de ICMS, em Minas Gerais, de 19% para 14%, pode significar um aumento de 700 milhões de litros de consumo”, analisou.
Outro fato que pode favorecer o segmento no país, principalmente o biocombustível
nacional, é o câmbio. “Com o dólar alto, a janela de importação de etanol americano fechou”, disse. “Para reverter a situação do setor no curto prazo serão necessárias decisões governamentais muito firmes no sentido de mostrar para a sociedade
brasileira o espaço do etanol na matriz energética, aumentarmos o consumo de
etanol, pagar um preço justo pelo produto, aproveitar a energia do bagaço de cana pagando um preço compatível com o preço da energia no mercado interno
brasileiro hoje”, afirmou Manoel Vicente Bertone, ex-secretário de Produção
e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, consultor e atual CEO do Benri (Biomass Energy Researds Institute), uma empresa resultante de uma parceria entre a DATAGRO e a Fermentec, dedicada às atividades agrícolas e indústrias
de produtores de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade.
Segundo Bertone, o Governo não reconhece as externalidades do setor, que é um forte distribuidor de renda. Enquanto isso, os americanos fizeram um programa de etanol de milho que não é viável e hoje já produzem muito mais do que o Brasil. “Eles tomaram a
decisão de ter independência energética, de incluir o etanol de milho, que é um etanol de comida, portanto, contra as regras de sustentabilidade internacional, e transformaram em um programa vitorioso do qual muitas vezes nós nos beneficiamos, porque  importamos etanol de milho e usamos em nossos carros. Os americanos estão errados?
Nós é que estamos errados e fazendo política inadequada”. 
O ex-secretário ainda falou um pouco sobre as decisões que a presidente Dilma tomou em seu primeiro mandato e a forma como ela está reagindo diante das decisões exigidas neste momento perante a herança maldita implantada em seu Governo. “A gente deixa de acreditar que ela esteja fazendo as coisas com a convicção que darão certo”, disse, argumentando que a situação do setor sucroenergético só melhorará
quando mudar a presidência.
“Precisamos de soluções do ponto de vista fiscal e financeiro para alongar a dívida a uma taxa de juros que seja razoável com lucratividade do setor e, então, em 10 anos, com muito otimismo, o setor começará a se recuperar”, concluiu.
O encontro contou ainda com palestra do professor e consultor da MBF Agribusiness, Marcos Túlio Búllio, que explanou sobre o papel da controladoria no setor bioenergético, seus conceitos e responsabilidades e a análise de investimentos. 
A próxima reunião da Gesucro acontece no dia 19 de maio. 
Cenários e as perspectivas do segmento sucroenergético para a safra atual foram discutidos durante a IV Reunião Ordinária do GESUCRO (Grupo de Estudos para Gestão Sustentável e Controladoria da Cadeia Sucroenergética), realizada no dia 24 de fevereiro, em Sertãozinho-SP. O coordenador do grupo, Marcos Françóia, diretor da MBF Agribusiness, deu as boas-vindas no evento, que contou com a participação de empresários, advogados e consultores da agroindústria canavieira.
“O setor precisa de 20 anos no mínimo para se recuperar do alto endividamento que tem hoje”, afirmou o executivo lembrando que, em junho do ano passado, a dívida do segmento girava em torno de R$ 60 bilhões e, agora, já ultrapassa os R$ 77 bilhões. “O faturamento do preço que nós temos em um saco de açúcar está muito próximo de R$ 100,00, sendo que 60% do setor está num quadro de endividamento maior do que isso, ou seja, tudo que você gerar de margem vai gastar com custos financeiros”, desabafou.
De acordo com José Américo Rubiano, presidente da consultoria Rubiano AS, o setor sucroenergético vive uma crise sem precedentes, visto que há demanda para todos os produtos que as usinas podem fornecer. Segundo ele, três aspectos estruturais preocupam a cadeia produtiva canavieira e devem receber tratamento emergencial: o elevado endividamento, o passivo tributário e a falta de recursos para investimentos. 
“Se nós não resolvermos isso, não resolveremos mais nada, pois são soluções estruturantes e necessárias para que a cadeia produtiva possa realmente retomar”, alertou, perguntando ao mesmo tempo como é possível se resolver essa questão “em um momento em que o Brasil não está pagando nem água, luz e telefone de algumas de suas embaixadas, ou seja, nós vivemos um momento de muita dificuldade, onde o Estado brasileiro não tem condições de socorrer o setor privado, mas ele pode junto com o setor privado desenvolver uma política que consiga orientar essa cadeia produtiva no sentido da sua recuperação”, alegou.
Uma solução proposta pelo consultor seria a criação de um Refis (Programa de Recuperação Fiscal) específico para o setor, com prazos de carência de um ciclo da cana. “Como há dificuldade de acesso aos recursos, seria constituído um fundo de  investimento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que vai ao mercado alavancar recursos”, explicou. 
As “Perspectivas Econômicas e de Preços para o Setor Sucroenergético” foram apresentadas por Fabrício Brandmart Ferraz, diretor da trading Eridania, responsável pela América do Sul, na ocasião. “O rastro de destruição na quebra física e financeira da nossa matriz energética, o sucateamento de empresas, como a Petrobras, é algo que vai demandar muito tempo para se recuperar, e talvez, ironicamente, seja o fundo do poço que traga algum alento ao nosso setor através do caminho da energia”, analisou. Ao dar um panorama dos mercados, o executivo lembrou que as moedas enfraquecidas contra as altas cotações do dólar estão afetando o poder de compra de importadores de açúcar, tais como a Rússia e a Indonésia. Já a baixa do preço do petróleo está abalando o fluxo de caixa de produtores, como Irã, Iraque, Angola e Nigéria. 
“A importação na Rússia, em 13/14, foi 60% maior que o ano anterior, os estoques estão elevados o suficiente para satisfazer demandas até a próxima safra”, disse, ressaltando que na Indonésia - um dos principais destinos do açúcar brasileiro - as licenças de importação ainda foram não alocadas pelo governo e a China continua sendo uma caixa preta, já que o governo pode inesperadamente financiar as usinas a juro zero e mudar as regras do jogo a qualquer momento. “Hoje, existe no mercado uma supertendência de uma superoferta se transformar em deficit.
Isso está começando a se configurar, mas nada ainda se confirma”, lembrou. Embora tenha afirmado que o futuro do setor no Brasil ainda seja uma incógnita, as recentes decisões podem pontuar o início de mudanças. “A CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) não afetará o mix de cana e nem reduzirá a oferta de açúcar. Já o aumento na mistura de etanol na gasolina, de 25% para 27%, pode gerar mais consumo de etanol em 1 bilhão e a redução de ICMS, em Minas Gerais, de 19% para 14%, pode significar um aumento de 700 milhões de litros de consumo”, analisou.
Outro fato que pode favorecer o segmento no país, principalmente o biocombustível nacional, é o câmbio. “Com o dólar alto, a janela de importação de etanol americano fechou”, disse. “Para reverter a situação do setor no curto prazo serão necessárias decisões governamentais muito firmes no sentido de mostrar para a sociedade brasileira o espaço do etanol na matriz energética, aumentarmos o consumo de etanol, pagar um preço justo pelo produto, aproveitar a energia do bagaço de cana pagando um preço compatível com o preço da energia no mercado interno brasileiro hoje”, afirmou Manoel Vicente Bertone, ex-secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, consultor e atual CEO do Benri (Biomass Energy Researds Institute), uma empresa resultante de uma parceria entre a DATAGRO e a Fermentec, dedicada às atividades agrícolas e indústrias de produtores de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade.
Segundo Bertone, o Governo não reconhece as externalidades do setor, que é um forte distribuidor de renda. Enquanto isso, os americanos fizeram um programa de etanol de milho que não é viável e hoje já produzem muito mais do que o Brasil. “Eles tomaram a decisão de ter independência energética, de incluir o etanol de milho, que é um etanol de comida, portanto, contra as regras de sustentabilidade internacional, e transformaram em um programa vitorioso do qual muitas vezes nós nos beneficiamos, porque  importamos etanol de milho e usamos em nossos carros. Os americanos estão errados? Nós é que estamos errados e fazendo política inadequada”. 
O ex-secretário ainda falou um pouco sobre as decisões que a presidente Dilma tomou em seu primeiro mandato e a forma como ela está reagindo diante das decisões exigidas neste momento perante a herança maldita implantada em seu Governo. “A gente deixa de acreditar que ela esteja fazendo as coisas com a convicção que darão certo”, disse, argumentando que a situação do setor sucroenergético só melhorará quando mudar a presidência.
“Precisamos de soluções do ponto de vista fiscal e financeiro para alongar a dívida a uma taxa de juros que seja razoável com lucratividade do setor e, então, em 10 anos, com muito otimismo, o setor começará a se recuperar”, concluiu.
O encontro contou ainda com palestra do professor e consultor da MBF Agribusiness, Marcos Túlio Búllio, que explanou sobre o papel da controladoria no setor bioenergético, seus conceitos e responsabilidades e a análise de investimentos.  A próxima reunião da Gesucro acontece no dia 19 de maio.