Só haverá um agronegócio pós-2020

23/12/2020 Agronegócio POR: José Luiz Tejon Megido

Doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai, mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, jornalista, publicitário. Especializações em Harvard, MIT e Insead. Coordenador acadêmico do Master Science em Food &Agribusiness Management pela Audencia em Nantes/França, Coordenador do Agribusiness Center Fecap/SP e professor convidado da FGV in Company e FIA/USP. Comentarista da Jovem Pan, do Estadão on-line e diversas mídias. Autor e coautor de 34 livros.

Temos uma discussão hoje sobre o futuro do agro. Mas só vejo um: ESG, a sigla em inglês para Environment Social and Governance. Em português bem claro, o único agronegócio que vai ao futuro é aquele que incluir obrigatoriamente o meio ambiente, a responsabilidade social e a governança.

Perguntei ao Evandro Gussi, presidente da Unica, qual sua visão sobre o agro mundial a partir do novo governo democrata americano, sua resposta foi: “Esperamos que a vitória de Joe Biden leve os Estados Unidos a uma posição inteligente na utilização de biocombustíveis para a redução de emissões de CO2 na matriz energética global”.

O efeito do etanol nos automóveis flex em grandes centros urbanos como São Paulo é decisivo na diminuição de doenças respiratórias. E qual é a nova ordem global pós- Covid 19 para o agro? Um Health System, um sistema de saúde, desde insumos, saúde do solo, plantas, animais, dos biomas até a saúde humana dos consumidores finais, da população.

Outro líder do agronegócio brasileiro, que além de presidir o Cosag - Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), também preside a Tereos, com fortíssima identidade no setor sucroenergético, Jacyr Costa, assim me respondeu à mesma questão: “Com a vitória de Joe Biden veremos uma maior valorização da agenda ambiental, com a volta da adesão ao acordo de Paris e ampliação do uso de biocombustíveis, principalmente do etanol, cujo maior produtor mundial é os Estados Unidos da América”.

O açúcar, o biocombustível, a cogeração de energia, o desenvolvimento de itens industriais sustentáveis a partir do setor, as boas práticas agronômicas no campo e nos fornecedores de cana, o zelo anti-queimadas, toda essa gestão envolverá cada vez mais uma autêntica governança da cadeia produtiva de ponta a ponta da sua criação de valor, ou do berço ao berço, como falamos na administração da sustentabilidade e dos impactos ambientais.

O novo agronegócio será inexoravelmente apenas um. Se pequenos, médios ou grandes produtores. Se integrados ou cooperativados. Se orgânicos, biodinâmicos, se clássicos, se nos padrões do Plano ABC - agricultura de baixo carbono, com integração lavoura pecuária e floresta, ou venha da plasticultura, permacultura; se com bem-estar animal, com nutrição diferenciada a partir de algas, biossoluções, seja qual o segmento ou nicho que possamos olhar, haverá unicamente um ponto convergente, um hub único: ESG.

Nos supermercados brasileiros já iniciamos o programa Rama - Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos, com uma governança a partir da Abras - Associação Brasileira de Supermercados, com tecnologia de rastreabilidade da Paripassu. O setor de rações do Brasil já se uniu à Federação Internacional da Indústria de Rações, ao lado da Europa, Estados Unidos e Canadá, para uma governança de banco de dados e compartilhamento de informações para a previsibilidade da quantidade e da originação dentro dos padrões green deal da Europa. Da mesma forma, iremos ver a governança ser ampliada com a criação do mesmo modelo das rações para a alimentação humana. E iniciativas como do próprio setor sucroenergético brasileiro junto à Índia, para uma ampliação da renda legítima dos seus agricultores com etanol, além do açúcar somente.

Tudo isso é revelador da governança das cadeias produtivas, e como elas partem para acordos globais. Com ela vêm a responsabilidade social e o meio ambiente. Não haverá espaço para negar e remar contra a maré. O único agronegócio do futuro será com meio ambiente, responsabilidade social e governança. Fora disso representará estar fora do mercado. E nesse campo, o segmento sucroenergético do Brasil pode e deve se apresentar ao mundo como protagonista e símbolo da energia saudável.

Nosso Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, talvez o símbolo mais lindo do agronegócio, consta nas histórias que os marinheiros ao carregarem as peças de açúcar nas caravelas, com o calor carioca, derretiam e exalavam o cheiro doce do açúcar. Isso ao lado daquele morro no formato do pão teria gerado o nome do Porto do Pão de Açúcar.

Brasil, um açucareiro doce do planeta, um Pão de Açúcar e de biocombustíveis de saúde para o planeta. Temos tudo para além de fazer, conquistar a imagem da reputação de quem faz muito bem feito. 2021 marca o início do século XXI. Vamos embarcar no novo futuro. ESG, um só agronegócio.