Soja: Não vai ser igual ao ano passado, mas nem por isso será ruim

26/03/2021 Agricultura POR: MARINO GUERRA

Instabilidade climática afetará a produtividade, mas preço compensará

 

Sob o ponto de vista climático, a temporada 20/21 de grãos na região de abrangência da Copercana não deixará saudades para os produtores. Com o mês de outubro e o início de novembro secos, seguidos de volumosas pancadas de chuva, foi difícil decidir qual data seria ideal para o plantio.
O dilema foi formado pela seguinte dúvida, se entrasse no período habitual (outubro e novembro) era evidente o risco de até perder as sementes pela seca ou por uma tromba d´água, enquanto que esperar significa o aumento de pressão da devolução das áreas que precisam iniciar o processo de plantio da cana.
“Principalmente as variedades mais precoces são exigentes conforme as suas fases, elas têm a data certa para florar, para encher as vagens. Especialmente no processo de enchimento a falta de chuva é um problema sério, causando redução do potencial produtivo da planta”. Disse o engenherio agrônomo da Copercana, Thiago Zarinello.

O agrônomo da Copercana, Thiago Zarinello, fala que com o plantio tardio, o final do processo de enchimento dos grãos é afetado nas variedades precoces em decorrência da diminuição do tempo de sol a partir de março

 

Essa instabilidade também foi sentida pelos cooperados, como comenta o produtor de Pitangueiras-SP, Marcos Luiz Consoli: “De quando que estou com meu pai, ainda não tinha passado um ano assim. Sempre iniciamos o nosso plantio no fim de outubro, geralmente não passa do feriado de finados. Esse ano iniciei no dia 21 de novembro, tentamos alguma adubação foliar melhor para amenizar a seca, conseguimos produzir, mas muito menos em relação aos anos anteriores, as plantas não cresceram”.

Marcos Consoli afirma nunca ter visto uma temporada de grãos tão difícil como a atual

 

O também produtor de Pitangueiras-SP, José Alfredo Nicolli Filho, que cultiva soja em rotação de cultura com a cana há cinco anos, passou pelo mesmo problema. Ele conta que nas temporadas anteriores plantava entre o dia 20 de outubro e 20 de novembro, em 2020 ele iniciou os trabalhos em 25 de outubro e foi finalizar somente em 12 de dezembro.
Perante todas as dificuldades, já calcula sua produtividade cair de 73 sacos por hectares (safra passada) para 55. Contudo, o seu custo também cairá de 51 sacos para cerca de 30, o que no final das contas fará com que a margem se assemelhe muito o período anterior, onde o clima foi bom e o preço nem tanto, enquanto que agora, a chuva foi fraca, mas o preço é ótimo.
Para conseguir esse resultado, Nicolli aponta para dois detalhes que julga determinante, o uso de variedades tardias, que conseguem entregar mais grãos em anos difíceis e também ao fato de ter travado (vendido antes) somente 20% de sua produção, fazendo com que o restante ele consiga comercializar depois que os valores tiveram forte alta, o que afeta diretamente a planilha de custos.
O produtor ainda lembra um detalhe na conta de benefícios da soja, a quantidade de nitrogênio que ela deixa para a cana, o que influencia no investimento em adubação do novo canavial que será plantado.

Nicolli credita no baixo travamento antecipado e no plantio de variedades tardias os dois principais motivos que fizeram dessa safra com margens ligeiramente maiores que a do ano passado