Foi no próprio quintal que a brasileira Raízen Energia, maior produtora de açúcar e etanol do país, desenvolveu soluções para contornar as dificuldades encontradas nos primeiros passos da produção de etanol a partir do bagaço da cana e também da palha que fica no canavial. Ainda que sua planta em Piracicaba (SP) voltada à produção do etanol celulósico, construída em 2014, ainda não dê retorno financeiro, as tecnologias que a companhia criou dentro de casa destravaram gargalos e passaram a alimentar projeções mais otimistas sobre o futuro desse mercado.
Quando os operadores da usina perceberam, no ano passado, que poderia demorar até seis meses para a troca de uma peça corroída pelo forte poder de abrasão das impurezas minerais da biomassa e dos ácidos usados para quebrar a celulose, já que elas teriam que ser encomendadas a fornecedores estrangeiros, a saída foi "tropicalizar" algumas soluções, lembra José Alberto Abreu, diretor de operações da Raízen.
Engenheiros e mecânicos da própria empresa foram mobilizados para desenvolver materiais e ligas de aço mais resistentes, além de bombas, válvulas e até uma "lavadora" de impurezas da biomassa. Com essa máquina, por exemplo, a parcela de impureza na celulose caiu de 11% para 4%.
Também foi neste ano que as soluções biotecnológicas e químicas que vinham sendo desenvolvidas "dentro da porteira" chegaram à escala produtiva. Em abril, a companhia terminou de construir a parte da usina destinada à quebra do caldo da biomassa cuja molécula tem cinco átomos de carbono (C5). Diferentemente da parte da biomassa com moléculas de seis átomos de carbono (C6), que já é "quebrada" na destilaria comum de etanol, a quebra do C5 demanda uma tecnologia específica que foi desenvolvida em parceria com a dinamarquesa Novozymes.
Se antes o caldo composto por essas moléculas era descartado com a vinhaça, tornando-se adubo para as lavouras de cana, hoje essa substância é processada pelas leveduras transgênicas desenvolvidas pela Novozymes e responde por um terço do etanol celulósico que sai da planta da Raízen Energia. Como a levedura ainda não foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para uso comercial, o organismo é manipulado em um laboratório isolado que foi construído na usina especificamente para isso.
Essas saídas domésticas permitiram que a companhia começasse a azeitar a produção da unidade, que já recebeu R$ 250 milhões em investimentos, nesta segunda safra "cheia" de operação. Desde o início da temporada atual até a primeira semana deste mês, a usina produziu cinco vezes mais etanol do que em toda a safra passada. Entregou até agora 4,5 milhões de litros de etanol anidro, que inclusive já foram comprometidos para exportação. Na projeção mais conservadora, a unidade pode encerrar o ciclo com 6 milhões de litros de etanol produzidos a partir de biomassa, mas há espaço para chegar a 8 milhões de litros, segundo Abreu.
Os volumes ainda são irrisórios diante do tamanho da produção anual de etanol do grupo, que só na última temporada destilou 2 bilhões de litros de etanol. Na unidade de etanol celulósico, a capacidade de produção chega a 42 milhões de litros, mas a perspectiva é de contínuo aumento. Para a safra 2017/18, que começará em abril do próximo ano, o objetivo é ampliar a produção em 15 milhões a 20 milhões de litros.
"Este foi o ano em que nós conseguimos superar os desafios tecnológicos", afirma Abreu. Mas o executivo reconhece que ainda há passos a serem dados, como o desenvolvimento de enzimas mais fortes para "quebrar" as moléculas de biomassa. Ou o desenvolvimento de um filtro para separar melhor a lignina, que é um subproduto do processo e que pode até ter valor comercial por seu elevado potencial energético.
Ainda assim, Abreu afirma que a Raízen já está chegando perto da eficiência pretendida. Desde o início da safra, a usina de Piracicaba conseguiu ter uma produtividade média de 167 litros de etanol para cada tonelada de biomassa seca, e recentemente alcançou um índice de 211 litros por tonelada. O valor ainda está abaixo do rendimento pretendido, de 290 litros por tonelada, mas já superou com folga o resultado do ano passado, que foi de 91 litros por tonelada.
Caso a companhia utilizasse toda a capacidade da planta mantendo o atual nível de eficiência, Abreu avalia que o custo de produção seria 50% maior que o da destilação do etanol da cana. No ano passado, a diferença era de 300%.
O próximo passo, portanto, é ganhar escala, o que deverá ocorrer basicamente com o desenvolvimento de enzimas e levedura na parceria com a Novozymes. "Precisamos ter volume na planta para sermos viável comercialmente e termos retorno financeiro no longo prazo", atesta o diretor. Só então a Raízen julga que estará apota a construir uma segunda usina de etanol celulósico, postura distinta da de dois anos atrás, quando a empresa prometia erguer uma segunda unidade em 2016.
Foi no próprio quintal que a brasileira Raízen Energia, maior produtora de açúcar e etanol do país, desenvolveu soluções para contornar as dificuldades encontradas nos primeiros passos da produção de etanol a partir do bagaço da cana e também da palha que fica no canavial. Ainda que sua planta em Piracicaba (SP) voltada à produção do etanol celulósico, construída em 2014, ainda não dê retorno financeiro, as tecnologias que a companhia criou dentro de casa destravaram gargalos e passaram a alimentar projeções mais otimistas sobre o futuro desse mercado.
Quando os operadores da usina perceberam, no ano passado, que poderia demorar até seis meses para a troca de uma peça corroída pelo forte poder de abrasão das impurezas minerais da biomassa e dos ácidos usados para quebrar a celulose, já que elas teriam que ser encomendadas a fornecedores estrangeiros, a saída foi "tropicalizar" algumas soluções, lembra José Alberto Abreu, diretor de operações da Raízen.
Engenheiros e mecânicos da própria empresa foram mobilizados para desenvolver materiais e ligas de aço mais resistentes, além de bombas, válvulas e até uma "lavadora" de impurezas da biomassa. Com essa máquina, por exemplo, a parcela de impureza na celulose caiu de 11% para 4%.
Também foi neste ano que as soluções biotecnológicas e químicas que vinham sendo desenvolvidas "dentro da porteira" chegaram à escala produtiva. Em abril, a companhia terminou de construir a parte da usina destinada à quebra do caldo da biomassa cuja molécula tem cinco átomos de carbono (C5). Diferentemente da parte da biomassa com moléculas de seis átomos de carbono (C6), que já é "quebrada" na destilaria comum de etanol, a quebra do C5 demanda uma tecnologia específica que foi desenvolvida em parceria com a dinamarquesa Novozymes.
Se antes o caldo composto por essas moléculas era descartado com a vinhaça, tornando-se adubo para as lavouras de cana, hoje essa substância é processada pelas leveduras transgênicas desenvolvidas pela Novozymes e responde por um terço do etanol celulósico que sai da planta da Raízen Energia. Como a levedura ainda não foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para uso comercial, o organismo é manipulado em um laboratório isolado que foi construído na usina especificamente para isso.
Essas saídas domésticas permitiram que a companhia começasse a azeitar a produção da unidade, que já recebeu R$ 250 milhões em investimentos, nesta segunda safra "cheia" de operação. Desde o início da temporada atual até a primeira semana deste mês, a usina produziu cinco vezes mais etanol do que em toda a safra passada. Entregou até agora 4,5 milhões de litros de etanol anidro, que inclusive já foram comprometidos para exportação. Na projeção mais conservadora, a unidade pode encerrar o ciclo com 6 milhões de litros de etanol produzidos a partir de biomassa, mas há espaço para chegar a 8 milhões de litros, segundo Abreu.
Os volumes ainda são irrisórios diante do tamanho da produção anual de etanol do grupo, que só na última temporada destilou 2 bilhões de litros de etanol. Na unidade de etanol celulósico, a capacidade de produção chega a 42 milhões de litros, mas a perspectiva é de contínuo aumento. Para a safra 2017/18, que começará em abril do próximo ano, o objetivo é ampliar a produção em 15 milhões a 20 milhões de litros.
"Este foi o ano em que nós conseguimos superar os desafios tecnológicos", afirma Abreu. Mas o executivo reconhece que ainda há passos a serem dados, como o desenvolvimento de enzimas mais fortes para "quebrar" as moléculas de biomassa. Ou o desenvolvimento de um filtro para separar melhor a lignina, que é um subproduto do processo e que pode até ter valor comercial por seu elevado potencial energético.
Ainda assim, Abreu afirma que a Raízen já está chegando perto da eficiência pretendida. Desde o início da safra, a usina de Piracicaba conseguiu ter uma produtividade média de 167 litros de etanol para cada tonelada de biomassa seca, e recentemente alcançou um índice de 211 litros por tonelada. O valor ainda está abaixo do rendimento pretendido, de 290 litros por tonelada, mas já superou com folga o resultado do ano passado, que foi de 91 litros por tonelada.
Caso a companhia utilizasse toda a capacidade da planta mantendo o atual nível de eficiência, Abreu avalia que o custo de produção seria 50% maior que o da destilação do etanol da cana. No ano passado, a diferença era de 300%.
O próximo passo, portanto, é ganhar escala, o que deverá ocorrer basicamente com o desenvolvimento de enzimas e levedura na parceria com a Novozymes. "Precisamos ter volume na planta para sermos viável comercialmente e termos retorno financeiro no longo prazo", atesta o diretor. Só então a Raízen julga que estará apota a construir uma segunda usina de etanol celulósico, postura distinta da de dois anos atrás, quando a empresa prometia erguer uma segunda unidade em 2016.