Quando o preço do açúcar subiu 40% no Sudão em 2015, Hussein Adawi temporariamente deixou de lado sua empresa de roupas para tentar a sorte com a importação da commodity. Agora, desfrutando dos lucros e da alta demanda, pretende seguir no ramo. "Certas vezes, não damos conta das encomendas", disse o importador, que recebe o açúcar da Tailândia via Porto Sudão, cidade na costa sudanesa no Mar Vermelho.
O Sudão está emergindo como centro regional de negociação de açúcar, e a commodity virou um raio de esperança em uma economia assolada por décadas de conflitos armados e pela queda do preço do petróleo. Ao mesmo tempo, as importações sudanesas deaçúcar refinado — ingrediente fundamental na indústria alimentícia, em um país desértico que carece de adoçantes naturais, como as frutas — vêm contribuindo para a recuperação do preço internacional do produto, segundo analistas e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A mudança de cenário para o açúcar no Sudão é impulsionada pela combinação de liberalização do mercado, de demanda em países vizinhos onde o preço é mais alto e de aumento no consumo doméstico decorrente da chegada de refugiados em números recorde. A situação dos refugiados elevou a demanda sudanesa por açúcar refinado de menos de 900 mil toneladas, em 2014, para mais de 1,5 milhão em 2015, de acordo com a Organização Internacional do Açúcar (OIA).
De acordo com o USDA, o Sudão caminha para ser responsável por quase 30% da nova demanda mundial por importações de açúcar de 2015-2016, que deve crescer cerca de 2,5 milhões de toneladas. Embora a demanda mundial por importações de açúcar tenha caído quase 2% para 50 milhões de toneladas em 2015, as importações do Sudão dobraram, segundo o USDA.
Depois de atingirem a menor cotação em seis anos em agosto na bolsa ICE Futures Europe, os contratos futuros de açúcar branco subiram 23%, de US$ 333,60 para US$ 410,60 por tonelada, na terça-feira, antecipando-se à previsão de produção insuficiente, conforme analistas.
Jodie Gunzberg, chefe mundial de commodities na S&P Dow Jones Indices, disse que as importações pelo Sudão representaram "uma das principais forças que influenciaram na recente alta do açúcar".
As altas recentes do açúcar foram puxadas principalmente pelas condições climáticas instáveis no Brasil e Índia, os dois maiores produtores, e intensificados pelos esforços de muitas usinas brasileiras para trocar a produção de açúcar pela de etanol. Como resultado, a produção deverá ficar abaixo da demanda neste ano pela primeira vez desde 2010, segundo a OIA. Atribui-se às fortes chuvas a diminuição do conteúdo de sacarose nacana, de forma que fica mais lucrativo para os processadores produzirem etanol.
Um dos motivos para a demanda recorde no Sudão é a quantidade de refugiados que fogem de países vizinhos assolados por guerras ou que estão entre os milhões, vindos de países como Eritreia e Somália, rumo à Europa. Mais de 500 mil desses migrantes entraram no Sudão neste ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e seu apetite por pão e suco impulsiona a demanda por açúcar. "Meus clientes não param de aumentar", disse Abdullahi Nimeri, padeiro em Cartum.
O Sudão agora abriga 2,5 milhões de refugiados, segundo a ONU. O aumento na demanda vem enchendo os cofres de empresas como Adawi e Nimeri. Enquanto isso, indústrias de alimentos como a Al Ghurair Resources LLC, de Dubai, expandem as operações no país para alimentar a população cada vez maior.
O aumento no número de refugiados aprofundou o impacto de mudanças no mercado do Sudão que também haviam ajudado a elevar a demanda: a aceleração do crescimento da economia, que impulsionou o consumo, e a remoção do Sudão de listas negras comerciais, que facilitou as importações.
Há três anos, o Sudão cortou impostos de importação do açúcar para resolver problemas de escassez do produto. O incentivo atraiu importadores, o que ajudou o país a se transformar em centro regional. O Ministério da Indústria do Sudão estima que entre 20% e 25% do açúcar importado agora é reexportado para países como Eritreia, Sudão do Sul e Somália, o quádruplo do que em meados de 2014. Alguns analistas e operadores dizem que parte do estoque é contrabandeada para mercados regionais, o que o governo nega.
Outras mudanças ajudaram ainda mais os importadores. Em outubro, a Força-Tarefa de Ação Financeira, órgão internacional que determina padrões para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento a terroristas, removeu o Sudão de sua lista suja, facilitando a transferência de dinheiro para dentro e fora do país. Como resultado, os importadores sudaneses passaram a ter acesso mais fácil a cartas de crédito para importar produtos.
Até quando essa onda vai durar é uma incógnita. O operador de açúcar de Dubai disse que a diferença de preços entre o açúcar no Sudão e em seus vizinhos vai cair gradualmente.
Por enquanto, pelo menos, pessoas como o dono de restaurante Meriam Oya não precisam mais esperar em longas filas pelo escasso açúcar produzido localmente. "O fornecimento constante vem ajudando a atender nossos clientes e nossas margens de lucro vêm melhorando", disse Oya. "Isso está deixando nossa vida muito mais fácil."
Nicholas Bariyo com colaboração de Ed Ballard
Quando o preço do açúcar subiu 40% no Sudão em 2015, Hussein Adawi temporariamente deixou de lado sua empresa de roupas para tentar a sorte com a importação da commodity. Agora, desfrutando dos lucros e da alta demanda, pretende seguir no ramo. "Certas vezes, não damos conta das encomendas", disse o importador, que recebe o açúcar da Tailândia via Porto Sudão, cidade na costa sudanesa no Mar Vermelho.
O Sudão está emergindo como centro regional de negociação de açúcar, e a commodity virou um raio de esperança em uma economia assolada por décadas de conflitos armados e pela queda do preço do petróleo. Ao mesmo tempo, as importações sudanesas deaçúcar refinado — ingrediente fundamental na indústria alimentícia, em um país desértico que carece de adoçantes naturais, como as frutas — vêm contribuindo para a recuperação do preço internacional do produto, segundo analistas e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A mudança de cenário para o açúcar no Sudão é impulsionada pela combinação de liberalização do mercado, de demanda em países vizinhos onde o preço é mais alto e de aumento no consumo doméstico decorrente da chegada de refugiados em números recorde. A situação dos refugiados elevou a demanda sudanesa por açúcar refinado de menos de 900 mil toneladas, em 2014, para mais de 1,5 milhão em 2015, de acordo com a Organização Internacional do Açúcar (OIA).
De acordo com o USDA, o Sudão caminha para ser responsável por quase 30% da nova demanda mundial por importações de açúcar de 2015-2016, que deve crescer cerca de 2,5 milhões de toneladas. Embora a demanda mundial por importações de açúcar tenha caído quase 2% para 50 milhões de toneladas em 2015, as importações do Sudão dobraram, segundo o USDA.
Depois de atingirem a menor cotação em seis anos em agosto na bolsa ICE Futures Europe, os contratos futuros de açúcar branco subiram 23%, de US$ 333,60 para US$ 410,60 por tonelada, na terça-feira, antecipando-se à previsão de produção insuficiente, conforme analistas.
Jodie Gunzberg, chefe mundial de commodities na S&P Dow Jones Indices, disse que as importações pelo Sudão representaram "uma das principais forças que influenciaram na recente alta do açúcar".
As altas recentes do açúcar foram puxadas principalmente pelas condições climáticas instáveis no Brasil e Índia, os dois maiores produtores, e intensificados pelos esforços de muitas usinas brasileiras para trocar a produção de açúcar pela de etanol. Como resultado, a produção deverá ficar abaixo da demanda neste ano pela primeira vez desde 2010, segundo a OIA. Atribui-se às fortes chuvas a diminuição do conteúdo de sacarose nacana, de forma que fica mais lucrativo para os processadores produzirem etanol.
Um dos motivos para a demanda recorde no Sudão é a quantidade de refugiados que fogem de países vizinhos assolados por guerras ou que estão entre os milhões, vindos de países como Eritreia e Somália, rumo à Europa. Mais de 500 mil desses migrantes entraram no Sudão neste ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e seu apetite por pão e suco impulsiona a demanda por açúcar. "Meus clientes não param de aumentar", disse Abdullahi Nimeri, padeiro em Cartum.
O Sudão agora abriga 2,5 milhões de refugiados, segundo a ONU. O aumento na demanda vem enchendo os cofres de empresas como Adawi e Nimeri. Enquanto isso, indústrias de alimentos como a Al Ghurair Resources LLC, de Dubai, expandem as operações no país para alimentar a população cada vez maior.
O aumento no número de refugiados aprofundou o impacto de mudanças no mercado do Sudão que também haviam ajudado a elevar a demanda: a aceleração do crescimento da economia, que impulsionou o consumo, e a remoção do Sudão de listas negras comerciais, que facilitou as importações.
Há três anos, o Sudão cortou impostos de importação do açúcar para resolver problemas de escassez do produto. O incentivo atraiu importadores, o que ajudou o país a se transformar em centro regional. O Ministério da Indústria do Sudão estima que entre 20% e 25% do açúcar importado agora é reexportado para países como Eritreia, Sudão do Sul e Somália, o quádruplo do que em meados de 2014. Alguns analistas e operadores dizem que parte do estoque é contrabandeada para mercados regionais, o que o governo nega.
Outras mudanças ajudaram ainda mais os importadores. Em outubro, a Força-Tarefa de Ação Financeira, órgão internacional que determina padrões para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento a terroristas, removeu o Sudão de sua lista suja, facilitando a transferência de dinheiro para dentro e fora do país. Como resultado, os importadores sudaneses passaram a ter acesso mais fácil a cartas de crédito para importar produtos.
Até quando essa onda vai durar é uma incógnita. O operador de açúcar de Dubai disse que a diferença de preços entre o açúcar no Sudão e em seus vizinhos vai cair gradualmente.
Por enquanto, pelo menos, pessoas como o dono de restaurante Meriam Oya não precisam mais esperar em longas filas pelo escasso açúcar produzido localmente. "O fornecimento constante vem ajudando a atender nossos clientes e nossas margens de lucro vêm melhorando", disse Oya. "Isso está deixando nossa vida muito mais fácil."
Nicholas Bariyo com colaboração de Ed Ballard
Fonte: The Wall Street Journal - USA