Dados divulgados nesta terça-feira (23) pela União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica) apontam que a quantidade de cana processada nas usinas da região Centro-Sul do país subiu 5,63% na safra 2015/2016 em relação ao período anterior.
O foco das empresas tem sido o etanol, sobretudo o hidratado, ou seja, o que é usado como opção de combustível, e direcionado ao mercado interno.
No acumulado entre abril do ano passado e a primeira quinzena deste mês, a moagem total foi de 602.688 milhões de toneladas, diante de 570.575 milhões no período correspondente na safra 2014/2015.
O número supera o valor até então projetado, de 590 milhões de toneladas.
Somente nas primeiras duas semanas de fevereiro - período que tradicionalmente seria de entressafra -, houve um aumento de 480% na moagem, com 32 usinas ainda em atividade. Até o fim do mês, a expectativa é de que 25 ainda estejam produzindo.
Safra chuvosa
O excesso de matéria-prima da safra anterior, as chuvas e um preço reduzido do etanol - houve alta histórica desde 2002, mas baixa entre janeiro e dezembro ao menos nas usinas paulistas - contribuíram para elevar o processamento, segundo a Unica. Além disso, o excedente foi uma alternativa das indústrias para suprir a necessidade de ampliar o faturamento.
"Essa safra que passou foi marcada pela alta quantidade de etanol produzida. Isso aconteceu por duas razões básicas: uma ligada à safra em si, que foi um pouco mais chuvosa, o que favorece a produção de etanol, mas sobretudo por uma demanda do mercado", afirma Rui Chammas, presidente do grupo Biosev, com quatro usinas na região de Ribeirão Preto (SP) - em Morro Agudo (SP), Sertãozinho (SP) e Colômbia (SP).
Apenas nessas unidades, no acumulado referente ao terceiro trimestre do ano-safra 2015/2016, até dezembro, a empresa moeu 15,6 milhões de toneladas contra 14,6 milhões em 2014 - um aumento de 6,9%.
Percentual parecido - de 6,5% - representou o crescimento da moagem geral em todas as instalações do grupo no país. O balanço final deve ser divulgado em junho.
"Ano passado, em nove meses, foram 26,8 milhões de toneladas. Este ano já moemos 28,6 milhões", diz o presidente.
Chammas afirma que a capacidade de processamento acompanhou a evolução do desempenho da lavoura, cuja produtividade subiu de 72 para 76,6 toneladas de cana por hectare entre 2014 e 2015, e espera antecipação da próxima safra.
"Este ano não é de se surpreender que as usinas estejam moendo ao longo do mês de março."
Foco no etanol hidratado
O caso da Biosev sintetiza o desempenho do etanol hidratado no Centro-sul, único entre os produtos da cana que manteve produção em alta no acumulado e representou 61% da geração alcoólica.
Com 16.968.166 metros cúbicos, a safra 2015/2016 superou em 12% a de 2014/2015, com 15.201.541 metros cúbicos. Fato que evidencia uma priorização na produção e uma maior liquidez no mercado, causada por mudanças políticas e econômicas.
O balanço de vendas mostra que, apesar de uma queda de 12% em fevereiro, no acumulado a comercialização do combustível subiu 32%, com saldo de 16.539.214 metros cúbicos.
O etanol anidro, que compõe a mistura da gasolina, teve queda de 2% na produção no mesmo período, mas ampliou sua margem de vendas em 4,59%, com 9.568.446 metros cúbicos negociados.
Açúcar em baixa
Com baixa de 4% no acumulado da safra, a produção de açúcar bateu as 30.731.682 toneladas em fevereiro, diante de 31.978.461 um ano antes.
Na primeira quinzena de fevereiro, o produto representou apenas 20,39% da canautilizada pelas usinas.
"As quantidades de açúcar e etanol anidro registradas são, em grande parte, para atender compromissos firmados anteriormente e os estoques obrigatórios de etanol exigidos pela ANP", informou, por meio de sua assessoria de imprensa, o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues.
Rodolfo Tiengo
A queda de braço entre tradings e produtores com a proximidade do vencimento do contrato para março levou o açúcar à maior alta percentual diária em três décadas, segundo os analistas consultados pelo jornal Valor Econômico desta quarta-feira (24). Ontem (23), no vencimento março/16 da bolsa de Nova York, a commodity foi cotada em 14,00 centavos de dólar por libra-peso, alta de 139 pontos no comparativo com a véspera.
No lote maio/16, a alta foi de 114 pontos e na tela julho/16, de 97 pontos em relação ao dia anterior. Analistas disseram ao jornal que tradings tentam influenciar o spread entre os papéis para março e maio, para controlar a quantidade de açúcar que será vendida quando o primeiro contrato expirar e quem receberá esses volumes. A maior projeção da Organização Internacional do Açúcar para o déficit global do produto em 2015/16 deu suporte adicional aos preços.
Os preços do açúcar na bolsa londrina também explodiram. Na tela maio/16, os negócios foram firmados em US$ 395,90 a tonelada, valorização de 22,70 dólares. Nos demais vencimentos, a alta oscilou de 17,50 a 21,00 dólares.
Segundo o boletim da H. Commcor, após a Datagro elevar sua projeção de déficit global 15/16 para 4,37 m/t, ontem foi a vez da ISO revisar sua estimativa para 5,02 m/t de déficit para safra 15/16, ante 3,5 m/t estimados em novembro. Segundo a organização, a estimativa de produção global caiu de 169,4 m/t para 166,8 m/t, enquanto o consumo global foi cortado de 172,9 m/t para 171,9 m/t.
Mercado doméstico
Já em São Paulo, os preços do açúcar caíram ontem, conforme os índices do Cepea/Esalq, da USP. A saca de 50 quilos do tipo cristal foi negociada a R$ 80,80, recuo de 0,27% no comparativo com a véspera.
Etanol diário
Os preços do etanol se mantiveram valorizados ontem, conforme a Esalq/BVMF. Os negócios foram firmados em R$ 1.889,50 o metro cúbico, alta de 0,45% em relação ao dia anterior.
Patrícia Mendonça