Sustentabilidade disruptiva
27/05/2019
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
É consenso no mundo agro que uma das suas maiores falhas é a incapacidade de se comunicar com a população das cidades. Nesse ponto existe um claro paradoxo que se forma não somente observando a opinião pública brasileira, mas mundial. Isso porque ao mesmo tempo em que a produção agropecuária brasileira é a mais eficiente do planeta, sob o aspecto produtividade versus preservação ambiental, sofre ataques constantes por todos os flancos ao menor ruído noticiado.
Um exemplo recente desse efeito é a aprovação da “Lei dos Agroquímicos”, projeto que visa melhorar a qualidade dos defensivos agrícolas eliminando barreiras desnecessárias no processo de aprovação de novas moléculas. Contudo, quando o assunto volta à pauta no Congresso Nacional, memes e opiniões vazias surgem aos milhares, levando aos receptores da informação conclusões rasas contrárias à evolução. E com isso não só o agro, mas o Brasil, precisa adiar por mais um tempo seu processo evolutivo.
Claro que parte dessa derrota na batalha da opinião pública muito se dá devido à criação de bolhas de pontos de vista causadas pelas redes sociais, o que faz com que as pessoas sejam intolerantes às opiniões contrárias e passem a buscar informações que agradem aquilo em que acreditam, mesmo que essas venham de fontes obscuras e com a veracidade totalmente questionável.
Governos anteriores também acumulam responsabilidades nessa guerra, pois na tentativa de agradar a “gregos e troianos” escolheram como cabeças das pastas relacionadas à agricultura e ao meio-ambiente pessoas com posições extremas, criando um muro entre dois setores que precisam andar juntos.
Em tempo, o início dos governos Bolsonaro e Dória, através da escalação de jogadores que pretendem vestir a mesma camisa, dão sinais de que, pelo menos na esfera política, esse antagonismo caminha para um sistema harmônico, principalmente com discursos e atitudes únicas, o que fará com que as poucas arestas sejam aparadas. Isso é fundamental para o Brasil conseguir romper a bolha da opinião pública mundial e finalmente ser reconhecido como a maior potência, observando o triângulo da sustentabilidade (social, ambiental e econômica).
No entanto, o setor produtivo precisa também fazer a sua parte. Nessa esfera, as associações ganham uma imensa responsabilidade, pois a batalha da mudança de imagem é a união da comunicação social, da política e do ganho de produtividade, razão da criação dessas entidades.
Perante essa constatação, a Canaoeste surge como um case de sucesso ao agregar em seu portfólio soluções disruptivas voltadas à integração produção e meio-ambiente, mostrando para toda a sociedade o quanto os produtores de cana-de-açúcar estão avançados no sentido da sustentabilidade.
Em um pequeno resumo de suas ações, está a formação, desde o começo do século, de um dos departamentos ambientais, sob o ponto de vista jurídico e técnico, mais experientes e estruturados do mundo agro nacional.
A formação dessa estrutura permite receber soluções tecnológicas com eficiência. Um exemplo foi o lançamento do sistema de monitoramento de incêndios via satélite, que permite comunicar às equipes brigadistas sobre os focos de fogo criminal ou acidental em uma velocidade ímpar.
Dessa maneira, andando lado a lado com a tecnologia e com cuidado para escolher aquilo que realmente importa, não só a Canaoeste, mas as organizações líderes do agro, são disruptivas não somente nos processos, mas na cabeça dos que deixam-se seduzir pelo senso comum.
Meio ambiente e agricultura de alianças trocadas
Evento realizado na Canaoeste com a presença do secretário da Infraestrutura e MeioAmbiente, Marcos Penido, mostra uma comprometida união entre os dois lados
No acender das luzes do mês que marca o início da safra 19/20, a primeira sob os governos Bolsonaro e Dória, a Canaoeste realizou em seu auditório (Sertãozinho-SP) o fórum “Soluções Agroambientais”. De temática delicada, o evento é de fundamental importância para o setor produtivo se organizar nesse momento de possível retomada.
O encontro contou com a participação de várias lideranças de diversas áreas que envolvem a cadeia da cana-de-açúcar. A abertura foi realizada pelo deputado federal Arnaldo Jardim, que mostrou como os setores público e privado vêm se articulando para conquistar seus objetivos. “O setor como um todo vem mostrando que a atividade de produção vai casar com a de conservação”, disse.
Representando o governo do Estado de São Paulo, participaram o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marco Penido, e o assessor técnico da Secretaria de Agricultura, José Luiz Fontes, representando o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado, sr. Gustavo Junqueira. Os dois, moderados pelo gestor jurídico e ambiental da Canaoeste, dr. Juliano Bortoloti, deram início aos trabalhos com o primeiro painel, cujo o tema foi Compensação de Reserva Legal.
“Ninguém é dono da verdade, estamos trabalhando para entender todos os lados e com isso construir uma realidade sustentável em conjunto”. Com essa frase, na conclusão do painel, Penido conseguiu demonstrar que no governo de João Dória, a separação entre ambientalistas e agricultores chegou ao fim e que o foco é encontrar o ponto de equilíbrio em tudo o que envolve as duas matérias, incluindo a questão da compensação.
Nesse quesito, a maior novidade ficou por conta da transferência da atribuição de compensação das reservas legais, da pasta ambiental, para a da agricultura. Isso, segundo Fontes, não demandará tempo de aprendizado, pois o pessoal já está envolvido com o processo de regulamentação do PRA (Programa de Regularização Ambiental) desde 2015.
O secretário ainda ressaltou que não somente a função, mas toda a estrutura e conhecimento foram transferidos, além de ser um bom exemplo de que as duas pastas conseguem trabalhar bem em conjunto.
“Quem conversa com o agricultor é o pessoal da Cati (Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável) e, se um carro da Secretaria de Meio Ambiente parar na propriedade, o produtor já vai achar que será autuado. Diante disso é importante que a mensagem seja passada por alguém de confiança”, concluiu Penido.
Para finalizar, o mediador parabenizou os participantes e também o governo do Estado de São Paulo pela proatividade para com o setor produtivo. “Com certeza essa união será um case de como atingir um ponto de equilíbrio no setor. Nesse momento o Estado dá exemplo de proatividade, principalmente se comparado com a reatividade de outrora”, observou Bortoloti.
O segundo painel tratou de tecnologia e contou com representantes de dois importantes centros de inovação, o pesquisador Marcos Landell, do Centro de Cana do IAC, e o gerente executivo da EsalqTec (incubadora tecnológica ligada a universidade), Sérgio Marcus Barbosa. Para contribuir com a visão de uma startup agro que se consolidou no mercado, o CEO da IDGeo, Ronan Campos, também fez parte da mesa que foi moderada pelo gestor corporativo da Canaoeste, Almir Torcato.
Com base no tema, Torcato provocou os convidados sobre a visão de que o produtor de cana é conservacionista. O primeiro a falar foi Landell, que mostrou o quanto a produtividade dos canaviais está abaixo do possível. Ele também reconhece que com a baixa remuneração dos últimos anos é complicado o investimento em tecnologia, porém vê que a sua introdução é a única maneira de ampliar os ganhos e sair desse círculo vicioso.
Campos, executivo da startup, salientou que é preciso aprimorar o desenvolvimento de tecnologias específicas para o produtor e não pegar um produto já pronto e adequá-lo para o campo. Já Barbosa vê o produtor rural conservacionista, mas que sempre adotou tecnologias. Isso explica o sucesso do agro nacional, que é baseado no desenvolvimento científico.
Ele ainda citou outro gap que trava o avanço tecnológico do agro que é a falta de capacitação da mão de obra.
A segunda provocação de Torcato se referiu à participação da nova geração no comando das operações agrícolas. Ao responder, Landell focou na facilidade que os jovens têm em identificar possibilidades de crescimento para o negócio e citou o caso de um produtor que investiu na produção de MPBs (Mudas Pré Brotadas) e praticamente triplicou o faturamento da produtividade.
Campos destacou a capacidade de compartilhamento de dados ao dizer que “informações isoladas não servem para nada”. Por sua vez, Barbosa ressaltou que a tecnologia como ferramenta é um dos motivos fundamentais para as novas gerações ficarem no campo e assumirem a atividade herdada de seus avós.
O tema mais polêmico foi reservado para o terceiro painel, que teve como debatedores a consultora jurídica para assuntos ambientais da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso Nacional, dra. Samanta Pineda; a consultora socioambiental, Iza Barbosa, e o diretor da Reservas Votorantim, David Canassa. A conversa contou com a mediação do vice-presidente da Orplana, Eduardo Romão.
O clímax foi atingido quando Samanta enumerou, em primeiro lugar, as causas que exigem do setor a mesma união registrada durante a aprovação do Código Florestal, que são o desafio da implementação do RenovaBio até o final do ano, a aprovação da lei dos agroquímicos e a lei federal que regulamenta os licenciamentos ambientais e que trará segurança jurídica ao setor produtivo.
Em seguida, ela pediu o apoio do secretário Penido em algumas causas do setor que precisam ser resolvidas na esfera estadual. Entre elas estão as revisões das TACs (Termo de Ajuste de Conduta) e TCRAs (Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental) que necessitam ser renegociadas conforme o código ambiental; a regulamentação da pulverização vizinha, tendo em vista o enorme pedido de indenização de supostos apicultores que alegam prejuízos; a regulamentação da Lei do Cerrado (se as áreas preservadas podem contar como Reserva Legal ou Área de Preservação Permanente nas propriedades) e a uniformização cartorária para a regulamentação de propriedades rurais.
Como resposta, o representante da pasta ambiental aceitou o desafio e ainda abriu as portas da secretaria para que todas as soluções sejam encontradas em parceria com o setor produtivo. “Queremos a participação ativa de vocês para evitar erros na criação desses projetos, quero fazer uma cartilha como foi a 'Caminho Suave' na educação, onde a grande genialidade esteve em sua simplicidade”, afirmou Penido.
Ainda no painel, Canassa ressaltou a necessidade do setor produtivo brasileiro em se unir e chegar articulado às discussões mundiais para defender a bandeira, assim como as grandes nações do mundo fazem. Já a consultora Iza Barbosa focou na importância do setor em gerar índices voltados à sustentabilidade de qualidade para mostrar o quanto é evoluído no tema em relação ao resto do planeta.
Lançamentos
Ao longo do evento, a Canaoeste também apresentou soluções ligadas ao tema e que estão disponíveis para os seus associados. O grande destaque foi a parceria Legado das Águas Votorantim para a compensação da Reserva Legal.
O projeto permitirá que o produtor associado não precise reduzir sua área produtiva ou tenha que investir na compra de alguma reserva para complementar o espaço verde, com base no Código Florestal, mas poderá arrendar, a preço diferenciado e dentro do Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão de 31 mil hectares (aproximadamente o tamanho da cidade de Curitiba-PR).
Além do valor de arrendamento diferenciado, o associado que decidir participar do projeto não pagará o ITR (Imposto Territorial Rural) para manutenção e segurança da área, ficando livre do risco de incêndio, o que pode gerar pesadas multas e ainda todo o custo de replantio.
A associação também lançou o seu aplicativo, ferramenta mobile que irá agilizar a comunicação de incêndio, fazer o check-list das adequações da propriedade em relação ao programa de prevenção a incêndios, servir como ponte de comunicação entre a associação e o associado, além de diversas melhorias que, em breve, estarão no ar (e também na palma da mão do produtor) cobrindo as esferas ambiental e agronômica, como o programa de mapeamento de biomassa, por exemplo.
A cana-de-açúcar preservando a Mata Atlântica
Produtor pode fazer a compensação de sua Reserva Legal contribuindo para a conservação de um paraíso ecológico
Enxergar a importância ambiental do Legado das Águas, programa que faz parte do projeto “Reserva Votorantim”, do grupo empresarial criado e liderado durante anos por Antônio Ermírio de Morais, não é tarefa difícil. Porém, tão bonita como sua exuberante natureza, é a materialização da sustentabilidade racional, do perfeito encaixe entre os setores produtivo e ambiental e, com isso, a leva de benefícios sociais gigantescos.
Para entender a magnitude do projeto é preciso voltar no tempo, quando na década de 50, dentro de uma mente extremamente diferenciada, foi criado um dos maiores conglomerados empresariais da história do Brasil. O executivo percebeu que teria problemas para comprar a energia demandada para operar uma fábrica de alumínio em fase de construção, no interior de São Paulo, e implantou um projeto de construção de usinas hidrelétricas próprias na bacia do Rio Juquiá (Vale do Ribeira, Sul do Estado).
Até aí nada de genial. O grande diferencial foi em sua percepção de que era preciso conservar as nascentes dos rios para que a água não viesse a faltar em suas usinas. E para manter essas intactas, também era necessária a conservação da floresta.
Diante dessa constatação, a Votorantim adquiriu propriedades, em um primeiro momento, às margens do rio e, posteriormente, foi ampliando o raio de alcance em muitos quilômetros, chegando até os 31 mil hectares de hoje, sendo a maior reserva privada de Mata Atlântica.
A título de comparação, seu tamanho é maior que as Ilhas Maldivas, representa dez florestas da Tijuca e cinco parques da Cantareira. Um outro ponto é que ao lado de parques estaduais e outras áreas de proteção ambiental, faz parte de um importante corredor do bioma que liga os estados do Rio de Janeiro e Paraná.
Com o passar do tempo, a reserva passou a ser interessante para novos negócios, o que a fez se transformar numa empresa que oferece soluções ambientais através da gestão e conservação desses ativos, possibilitando a geração de valor econômico, financeiro e reputacional para os clientes.
Dessa forma, seu portfólio é baseado em geração de conhecimento científico atrelado à conservação, modo alternativo para compensação de Reserva Legal, desenvolvimento de viveiros para comercializar plantas nativas de alta qualidade (com variabilidade genética e rastreabilidade), ecoturismo, atividades educacionais e estudos do meio.
A parceria fixada com a Canaoeste trata da compensação da Reserva Legal através do arrendamento da área faltante para atingir os 20% de áreas necessárias, de acordo com o Código Florestal. Essa compensação seria realizada em um local dentro do Legado, celebrado em contrato com regras claras e valores definidos, com garantia de renovação no final de sua vigência.
Então, se um proprietário rural tiver 15% de Reserva Legal e for associado Canaoeste, ele poderá compensar os 5% que faltam dentro do Legado. Essa área é alocada nos documentos do proprietário rural, garantindo o cumprimento da obrigação de manter sua área verde dentro dos atributos legais requeridos no Código Florestal.
Além da compensação, a reserva consegue fazer dinheiro com o viveiro de plantas nativas, já que possui capacidade produtiva de 200 mil mudas por ano, que podem ser utilizadas em projetos de recomposição florestal dentro do bioma, em trabalhos de paisagismo que contribuirão para a certificação de sustentabilidade em edificações e parcerias para reflorestamento de centros urbanos.
No entanto, para provar que as mudas vieram realmente da mata nativa, em 2017 foi dado início a um processo de rastreabilidade de cada planta, desde a matriz até o consumidor final. O sistema consiste na identificação de cada muda com um QR Code e informações sobre sua origem, produtos usados em sua adubação, manejo e cuidados, entre outras.
O ecoturismo também é um ramo de negócios que cresce bastante. Dentro desse espectro, a reserva pode oferecer atividades variadas como trilhas e travessias, onde as primeiras consistem em distâncias menores, mas que proporcionam aos que a praticam a possibilidade de conhecer melhor toda a estrutura através de visitas aos viveiros, orquidários, telhado verde, caminhadas sobre uma passarela suspensa de 1,4 km e um mirante com vista especial para a estonteante Mata Atlântica. Tudo isso andando menos de sete quilômetros.
Para quem deseja encarar desafios maiores há também duas travessias: uma de 12 km que é realizada em um dia, e outra de 23 km - com direito a passar uma noite em plena mata. As duas atividades proporcionam aos seus praticantes a experiência de percorrer encostas, atingir o cume da Serra de Paranapiacaba, atravessar riachos e cachoeiras, fora a observação direta de plantas e animais.
Outra atividade que atrai muitos turistas é a observação e produção de imagens de aves. A reserva tem catalogadas mais de 300 espécies, sendo muitas delas endêmicas da Mata Atlântica, o que lhe qualifica como uma das principais áreas no Brasil.
E claro que pelas características do local, o pessoal da mountain bike não ficaria de fora. Há uma pista no meio da mata com um trajeto de aproximadamente 30 km com ganho de elevação de 1,36 mil metros em estrada de terra/chão batido, classificado, devido à altimetria, como de nível intermediário de dificuldade.
Para finalizar o menu de atrações, não poderia faltar uma atividade aquática e o caiaque foi o esporte escolhido. O trajeto consiste em remar (caiaque duplo de alta estabilidade) por uma represa, permitindo a participação de iniciantes.
Durante o percurso é feita uma parada na “Praia de Pedra”, local que conta com estrutura formada por banheiro seco e quiosque, sendo possível realizar um lanche e destinar um tempo para banho na represa ou até mesmo remar em pranchas de stand-up paddle.
Quem está longe da reserva (localizada no Vale do Ribeira, cerca de 450 km de Ribeirão Preto), caso da maioria dos associados, pode aproveitar as diversas atrações se hospedando em um alojamento com 17 quartos e capacidade para 35 pessoas.
Em 1994, à Folha de S. Paulo, Antônio Ermírio de Morais deu a seguinte declaração em uma entrevista: “Não adianta impedir o uso dos recursos naturais, é preciso encontrar formas de utilizá-los de forma racional. O Brasil tem imensas riquezas que precisam ser exploradas. Cabe aos brasileiros estabelecerem os meios que permitam o progresso social e a preservação ambiental”.
Todas as forças do Legado das Águas corroboram para a afirmação do empresário e parece que finalmente a classe política e parte dos setores ambiental e agrícola começam a interpretar tal afirmação. Lógico que ainda há um trabalho árduo para o estouro das bolhas de quem está nas extremidades, mas a eficiência, com certeza, será a ferramenta ideal para o serviço.