Sustentabilidade é questão de sobrevivência!

21/08/2015 Agronegócio POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 110
“A sociedade, mais informada, está cada vez mais exigente. Os mercados já deram claros exemplos de que não aceitarão produtos que descumpram determinados pré-requisitos. É melhor que o agro brasileiro se antecipe e que defina por si só o porquê é sustentável, e que seja capaz de medir e refletir isso, ou terá que engolir excessos de impostos por compradores, que muitas vezes camuflam medidas protecionistas
em mercados cada vez mais competitivos”. O alerta é feito por Mônika Bergamaschi, primeira mulher a comandar a SAA (Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo) em mais de 100 anos da pasta, onde exerceu uma gestão caracterizada por ações pautadas na sustentabilidade.
Engenheira agrônoma formada pela UNESP e mestre em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade Federal de São Carlos, com MBA em Gestão de Empresas com Ênfase em Cooperativismo pela USP, Mônika foi também presidente executiva da ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto) e agora encara novo desafio à frente do Ibisa (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio).
Criado em junho de 2015, o Ibisa é uma entidade que terá como missão promover a inovação e contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
Confira a entrevista exclusiva que a ex-secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo deu à Revista Canavieiros sobre o novo instituto do qual será a presidente executiva:
Mônika Bergamaschi
Revista Canavieiros: Qual será a missão do Ibisa (Instituto Brasileiro para Inovação e sustentabilidade no Agronegócio)?
Mônika Bergamaschi: A missão do Ibisa é promover a inovação e contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do agronegócio brasileiro. São temas estratégicos para que o Brasil aproveite as grandes oportunidades que se apresentam nos mercados globais de alimentos, energia e fibras. Produzir mais e melhor necessariamente envolve a incorporação de tecnologias e a melhoria da gestão.
Revista Canavieiros: Qual a área de atuação do Instituto?
Mônika Bergamaschi: O Ibisa é uma entidade sem fins lucrativos, que atuará na geração e difusão de conhecimento, na comunicação, na estruturação de canais de diálogo com as partes interessadas e na proposição de políticas públicas que promovam a competitividade do agronegócio.
Revista Canavieiros: Quais serão os seus principais desafios no comando da entidade? Qual cargo ocupará no Ibisa?
Mônika Bergamaschi: O Ibisa tem como desafios a construção de posicionamentos construtivos sobre temas-chave que afetam a sustentabilidade do agronegócio, em suas dimensões ambiental, social e econômica. Para tanto, o Instituto atuará na geração de conhecimento, por meio de parcerias, e na harmonização dos pleitos das cadeias de valor, a fim de que seja possível buscar maior interação entre os setores público e privado, o terceiro setor e a sociedade.
Importante lembrar que o Brasil tem conseguido resultados surpreendentes na ampliação da produtividade agropecuária, mas novos patamares requerem soluções novas, daí a necessidade de inovação. Porém, apesar das grandes conquistas, a comunicação das práticas responsáveis para o agronegócio tem deixado a desejar, tanto nacional quanto internacionalmente. Apresentar aos consumidores informações de qualidade, consolidadas, isentas, legítimas sobre a realidade dos processos produtivos do agronegócio brasileiro é um dever e uma necessidade.
Ocuparei a presidência executiva do Ibisa.
Revista Canavieiros: A senhora foi a primeira mulher a assumir o cargo de secretária em mais de 100 anos da SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo). Qual balanço faz da sua trajetória?
Mônika Bergamaschi: A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo coleciona incontáveis conquistas em sua trajetória, seja na geração de conhecimento, difusão de novas tecnologias e na prestação de serviços, seja no incentivo à melhor organização privada, com o fomento ao cooperativismo e ao associativismo.
Sem sombra de dúvidas, a SAA responde por importante parcela do sucesso e da pujança do agronegócio paulista e brasileiro. Isso se deve à dedicação de milhares de profissionais que há mais de um século dedicam suas vidas à pesquisa, à extensão rural e ao desenvolvimento da agropecuária. Em minha passagem pela SAA busquei promover programas e ações voltados ao aumento da produtividade, da adição de valor, com desenvolvimento social e respeito inegociável ao meio ambiente.
Também foi intenso o trabalho de comunicação e valorização da secretaria, dos seus técnicos e dos agricultores. Foi excepcional a oportunidade de estar pessoalmente em centenas de municípios paulistas, buscando junto às comunidades locais a melhor destinação dos recursos e o direcionamento das ações para levar soluções aos problemas encontrados.
Revista Canavieiros: Durante a sua gestão na SAA foi elaborado um Relatório de Sustentabilidade, o primeiro feito por uma pasta de Estado. Qual a importância desse documento?
Mônika Bergamaschi: A GRI, Global InitiativeReport, é uma instituição independente e sem fins lucrativos, que criou uma estrutura mundialmente reconhecida para medir o desempenho econômico, ambiental, social e de governança de empresas, repartições públicas, organizações não governamentais e outras. A metodologia da GRI é utilizada em mais de 60 países. Apesar de novo no Brasil, cerca de 200 organizações já utilizam essas diretrizes para reportar seus impactos. O Relatório de Sustentabilidade da SAA realizou um importante exercício da comunicação, ao medir, divulgar com transparência e prestar contas de seu desempenho, focado na oferta de soluções enquadradas nas dimensões que alicerçam o conceito de sustentabilidade.
Revista Canavieiros: Como o know-how adquirido pela senhora enquanto dirigiu a SAA pode ajudá-la no desempenho de suas funções no Instituto?
Mônika Bergamaschi: Cada pessoa reflete o resultado das escolhas que fez ao longo da vida, e dos processos que delas decorreram. Isso tanto para aspectos pessoais quanto profissionais. A passagem pela SAA foi extraordinária. Tive oportunidade de conhecer diferentes realidades, de vivenciar cenários muito distantes daqueles estampados nas páginas dos jornais e de atuar junto a outras pastas e poderes constituídos.
Esse conjunto de vivências facilita o entendimento de como as coisas funcionam, ou como simplesmente não funcionam, por mais extraordinárias que possam ser as ideias e propostas.
Também ampliei minha rede de contatos, conheci pessoas extraordinárias, e alguns bons exemplos de vida a serem seguidos.
Revista Canavieiros: A senhora possui MBA na área do cooperativismo. Acredita que a associação de pequenos produtores seja um caminho importante para o desenvolvimento do país, mas com um viés sustentável?
Mônika Bergamaschi: Sem dúvidas. A associação é absolutamente vital para qualquer atividade. Ninguém faz nada sozinho, ainda mais em tempos de elevada dificuldade. A associação, a cooperação e a parceria são, portanto, imprescindíveis, e ainda mais para pequenos produtores, que possuem dificuldades ora financeiras, ora técnicas, ora de escala e assim por diante. Vale lembrar que o viés sustentável é condição vital. Já não existe outra possibilidade. É fazer cada vez mais e melhor, ou não fazer.
Revista Canavieiros: Investir em tecnologia e inovação passou a ser sinônimo de sucesso, numa época em que conquistar maior produtividade com sustentabilidade é primordial para a sobrevivência, principalmente no setor sucroenergético. O que deve ser feito para se desenvolver uma agenda sustentável?
Mônika Bergamaschi: Uma ideia é estar aberto para a necessidade de melhorar sempre. O equilíbrio é dinâmico, pois sustentabilidade é um conceito em formação.
Envolve temas complexos ligados aos aspectos sociais, ambientais, econômicos. Envolve a adoção de boas práticas de produção agropecuária, que estão sempre evoluindo com novas tecnologias, insumos modernos e incremento de gestão. Enfim, quem achar que já fez todo o possível está equivocado e deve repensar suas decisões.
É também nesta circunstância que é importante e necessário fortalecer as entidades de representação. Estar atento àquilo que pode ser controlado, e enfrentar juntos problemas decorrentes de variáveis que não podem ser controladas e que vão além das climáticas como as derivadas de políticas míopes que causam desajustes em mercados.
Revista Canavieiros: Grande parte da população associa o termo sustentabilidade somente a aspectos relacionados ao meio ambiente. A disseminação de informação é importante para ampliar este conceito na sua visão?
Mônika Bergamaschi: Sempre. A comunicação é vital em qualquer área, e muito mais nessa. Sustentabilidade está presente no discurso de todos, mas não se sabe exatamente o que ela é, quais são seus princípios, critérios, padrões, ou mesmo como pode ser medida. Mas ainda assim ela está na agenda mundo afora e é necessário tomar a dianteira, valorizar os ativos e melhorar aquilo que já se reconhece que possa ser aperfeiçoado.
É preciso difundir que as três dimensões, ambiental, econômica e social são igualmente importantes. Por alguma razão vivemos um dilema generalizado de que lucro é pecado. Não é. É preciso que o agricultor tenha renda para que possa investir nos temas sociais e nas adequações ambientais. Não há milagre nesta seara.
Revista Canavieiros: Em sua opinião, qual é a importância da adoção de medidas sustentáveis para o desenvolvimento do agronegócio?
Mônika Bergamaschi: É questão de sobrevivência. A sociedade mais informada está cada vez mais exigente. Os mercados já deram claros exemplos de que não aceitarão produtos que descumpram determinados pré-requisitos. É melhor que o agro brasileiro se antecipe e que defina por si só o porquê é sustentável e que seja capaz de medir e refletir isso, ou terá que engolir excessos impostos por compradores, que muitas vezes camuflam medidas protecionistas em mercados cada vez mais competitivos.
Revista Canavieiros: A senhora já afirmou que a agricultura deve estar sempre associada à sustentabilidade, mas ninguém vai investir no verde se estiver no vermelho. Quais incentivos devem existir para as empresas aderirem à sustentabilidade?
Mônika Bergamaschi: É preciso combater a hipocrisia. A sociedade e os mercados que clamam por sustentabilidade terão que pagar por ela. Comunicação, educação, transparência e diálogo para determinar o que e quanto, e disseminar o entendimento de que os custos dos benefícios usufruídos pela sociedade devem ser compartilhados.
Empresas não sustentáveis serão expulsas do mercado mais dia menos dia. O incentivo é saber que o valor será apreciado e percebido.
Revista Canavieiros: A senhora acha possível um pequeno produtor iniciar um projeto sustentável? Como o agricultor pode se inserir na sustentabilidade? 
Mônika Bergamaschi: Não há outra maneira. Se houver problemas ambientais ou sociais, o agricultor será autuado, multado e não conseguirá permanecer na atividade. 
As leis são para todos, independentemente do tamanho. Se não for sustentável do ponto de vista econômico, o próprio mercado cuidará de inviabilizá-lo e excluí-lo. A saída está no associativismo e no cooperativismo: comprar e vender melhor insumos e
produtos, extensão rural compartilhada e boa orientação para gestão dos negócios nos aspectos legais e tributários.
Revista Canavieiros: Na sua visão, quais são as medidas para se criar um  cenário de discussões sobre sustentabilidade de forma atrativa e estimulante?
Mônika Bergamaschi: É hora de ver a sustentabilidade como oportunidade e não apenas como uma ameaça que se resume em custos e possíveis sanções. A participação e a boa informação facilitam o entendimento e evitam riscos desnecessários com desconformidades.
A atuação conjunta pode trazer benefícios e ganhos importantes. O agronegócio é o único setor que ainda tem conseguido algum resultado no atual cenário da economia brasileira. É sabido que muito se espera do Brasil na oferta, com sustentabilidade, de alimentos, fibras e energia nas próximas décadas. Sabemos e podemos contribuir para satisfazer esta demanda, e isso, seguramente, é um estímulo.
Falta os governos despertarem para este grande potencial e fazerem as reformas, os acordos, os ajustes e os investimentos que emperram o desenvolvimento do agronegócio e do Brasil. 
“A sociedade, mais informada, está cada vez mais exigente. Os mercados já deram claros exemplos de que não aceitarão produtos que descumpram determinados pré-requisitos. É melhor que o agro brasileiro se antecipe e que defina por si só o porquê é sustentável, e que seja capaz de medir e refletir isso, ou terá que engolir excessos de impostos por compradores, que muitas vezes camuflam medidas protecionistas em mercados cada vez mais competitivos”. O alerta é feito por Mônika Bergamaschi, primeira mulher a comandar a SAA (Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo) em mais de 100 anos da pasta, onde exerceu uma gestão caracterizada por ações pautadas na sustentabilidade.
 
Engenheira agrônoma formada pela UNESP e mestre em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade Federal de São Carlos, com MBA em Gestão de Empresas com Ênfase em Cooperativismo pela USP, Mônika foi também presidente executiva da ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto) e agora encara novo desafio à frente do Ibisa (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio).
 
Criado em junho de 2015, o Ibisa é uma entidade que terá como missão promover a inovação e contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
 
Confira a entrevista exclusiva que a ex-secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo deu à Revista Canavieiros sobre o novo instituto do qual será a presidente executiva:
 
Revista Canavieiros: Qual será a missão do Ibisa (Instituto Brasileiro para Inovação e sustentabilidade no Agronegócio)?
 
Mônika Bergamaschi: A missão do Ibisa é promover a inovação e contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade do agronegócio brasileiro. São temas estratégicos para que o Brasil aproveite as grandes oportunidades que se apresentam nos mercados globais de alimentos, energia e fibras. Produzir mais e melhor necessariamente envolve a incorporação de tecnologias e a melhoria da gestão.
 
Revista Canavieiros: Qual a área de atuação do Instituto?
 
Mônika Bergamaschi: O Ibisa é uma entidade sem fins lucrativos, que atuará na geração e difusão de conhecimento, na comunicação, na estruturação de canais de diálogo com as partes interessadas e na proposição de políticas públicas que promovam a competitividade do agronegócio.
 
Revista Canavieiros: Quais serão os seus principais desafios no comando da entidade? Qual cargo ocupará no Ibisa?
 
Mônika Bergamaschi: O Ibisa tem como desafios a construção de posicionamentos construtivos sobre temas-chave que afetam a sustentabilidade do agronegócio, em suas dimensões ambiental, social e econômica. Para tanto, o Instituto atuará na geração de conhecimento, por meio de parcerias, e na harmonização dos pleitos das cadeias de valor, a fim de que seja possível buscar maior interação entre os setores público e privado, o terceiro setor e a sociedade.

 
Importante lembrar que o Brasil tem conseguido resultados surpreendentes na ampliação da produtividade agropecuária, mas novos patamares requerem soluções novas, daí a necessidade de inovação. Porém, apesar das grandes conquistas, a comunicação das práticas responsáveis para o agronegócio tem deixado a desejar, tanto nacional quanto internacionalmente. Apresentar aos consumidores informações de qualidade, consolidadas, isentas, legítimas sobre a realidade dos processos produtivos do agronegócio brasileiro é um dever e uma necessidade.
 
Ocuparei a presidência executiva do Ibisa.
 
Revista Canavieiros: A senhora foi a primeira mulher a assumir o cargo de secretária em mais de 100 anos da SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo). Qual balanço faz da sua trajetória?
Mônika Bergamaschi: A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo coleciona incontáveis conquistas em sua trajetória, seja na geração de conhecimento, difusão de novas tecnologias e na prestação de serviços, seja no incentivo à melhor organização privada, com o fomento ao cooperativismo e ao associativismo.
 
Sem sombra de dúvidas, a SAA responde por importante parcela do sucesso e da pujança do agronegócio paulista e brasileiro. Isso se deve à dedicação de milhares de profissionais que há mais de um século dedicam suas vidas à pesquisa, à extensão rural e ao desenvolvimento da agropecuária. Em minha passagem pela SAA busquei promover programas e ações voltados ao aumento da produtividade, da adição de valor, com desenvolvimento social e respeito inegociável ao meio ambiente.
 
Também foi intenso o trabalho de comunicação e valorização da secretaria, dos seus técnicos e dos agricultores. Foi excepcional a oportunidade de estar pessoalmente em centenas de municípios paulistas, buscando junto às comunidades locais a melhor destinação dos recursos e o direcionamento das ações para levar soluções aos problemas encontrados.
 
Revista Canavieiros: Durante a sua gestão na SAA foi elaborado um Relatório de Sustentabilidade, o primeiro feito por uma pasta de Estado. Qual a importância desse documento?
 
Mônika Bergamaschi: A GRI, Global InitiativeReport, é uma instituição independente e sem fins lucrativos, que criou uma estrutura mundialmente reconhecida para medir o desempenho econômico, ambiental, social e de governança de empresas, repartições públicas, organizações não governamentais e outras. A metodologia da GRI é utilizada em mais de 60 países. Apesar de novo no Brasil, cerca de 200 organizações já utilizam essas diretrizes para reportar seus impactos. O Relatório de Sustentabilidade da SAA realizou um importante exercício da comunicação, ao medir, divulgar com transparência e prestar contas de seu desempenho, focado na oferta de soluções enquadradas nas dimensões que alicerçam o conceito de sustentabilidade.
 
Revista Canavieiros: Como o know-how adquirido pela senhora enquanto dirigiu a SAA pode ajudá-la no desempenho de suas funções no Instituto?
 
Mônika Bergamaschi: Cada pessoa reflete o resultado das escolhas que fez ao longo da vida, e dos processos que delas decorreram. Isso tanto para aspectos pessoais quanto profissionais. A passagem pela SAA foi extraordinária. Tive oportunidade de conhecer diferentes realidades, de vivenciar cenários muito distantes daqueles estampados nas páginas dos jornais e de atuar junto a outras pastas e poderes constituídos.
 
Esse conjunto de vivências facilita o entendimento de como as coisas funcionam, ou como simplesmente não funcionam, por mais extraordinárias que possam ser as ideias e propostas.
 
Também ampliei minha rede de contatos, conheci pessoas extraordinárias, e alguns bons exemplos de vida a serem seguidos.
 
Revista Canavieiros: A senhora possui MBA na área do cooperativismo. Acredita que a associação de pequenos produtores seja um caminho importante para o desenvolvimento do país, mas com um viés sustentável?
 
Mônika Bergamaschi: Sem dúvidas. A associação é absolutamente vital para qualquer atividade. Ninguém faz nada sozinho, ainda mais em tempos de elevada dificuldade. A associação, a cooperação e a parceria são, portanto, imprescindíveis, e ainda mais para pequenos produtores, que possuem dificuldades ora financeiras, ora técnicas, ora de escala e assim por diante. Vale lembrar que o viés sustentável é condição vital. Já não existe outra possibilidade. É fazer cada vez mais e melhor, ou não fazer.
 
Revista Canavieiros: Investir em tecnologia e inovação passou a ser sinônimo de sucesso, numa época em que conquistar maior produtividade com sustentabilidade é primordial para a sobrevivência, principalmente no setor sucroenergético. O que deve ser feito para se desenvolver uma agenda sustentável?
 
Mônika Bergamaschi: Uma ideia é estar aberto para a necessidade de melhorar sempre. O equilíbrio é dinâmico, pois sustentabilidade é um conceito em formação.
Envolve temas complexos ligados aos aspectos sociais, ambientais, econômicos. Envolve a adoção de boas práticas de produção agropecuária, que estão sempre evoluindo com novas tecnologias, insumos modernos e incremento de gestão. Enfim, quem achar que já fez todo o possível está equivocado e deve repensar suas decisões.
 
É também nesta circunstância que é importante e necessário fortalecer as entidades de representação. Estar atento àquilo que pode ser controlado, e enfrentar juntos problemas decorrentes de variáveis que não podem ser controladas e que vão além das climáticas como as derivadas de políticas míopes que causam desajustes em mercados.
 
Revista Canavieiros: Grande parte da população associa o termo sustentabilidade somente a aspectos relacionados ao meio ambiente. A disseminação de informação é importante para ampliar este conceito na sua visão?
 
Mônika Bergamaschi: Sempre. A comunicação é vital em qualquer área, e muito mais nessa. Sustentabilidade está presente no discurso de todos, mas não se sabe exatamente o que ela é, quais são seus princípios, critérios, padrões, ou mesmo como pode ser medida. Mas ainda assim ela está na agenda mundo afora e é necessário tomar a dianteira, valorizar os ativos e melhorar aquilo que já se reconhece que possa ser aperfeiçoado.
 
É preciso difundir que as três dimensões, ambiental, econômica e social são igualmente importantes. Por alguma razão vivemos um dilema generalizado de que lucro é pecado. Não é. É preciso que o agricultor tenha renda para que possa investir nos temas sociais e nas adequações ambientais. Não há milagre nesta seara.
 
Revista Canavieiros: Em sua opinião, qual é a importância da adoção de medidas sustentáveis para o desenvolvimento do agronegócio?

 
Mônika Bergamaschi: É questão de sobrevivência. A sociedade mais informada está cada vez mais exigente. Os mercados já deram claros exemplos de que não aceitarão produtos que descumpram determinados pré-requisitos. É melhor que o agro brasileiro se antecipe e que defina por si só o porquê é sustentável e que seja capaz de medir e refletir isso, ou terá que engolir excessos impostos por compradores, que muitas vezes camuflam medidas protecionistas em mercados cada vez mais competitivos.
 
Revista Canavieiros: A senhora já afirmou que a agricultura deve estar sempre associada à sustentabilidade, mas ninguém vai investir no verde se estiver no vermelho. Quais incentivos devem existir para as empresas aderirem à sustentabilidade?
 
Mônika Bergamaschi: É preciso combater a hipocrisia. A sociedade e os mercados que clamam por sustentabilidade terão que pagar por ela. Comunicação, educação, transparência e diálogo para determinar o que e quanto, e disseminar o entendimento de que os custos dos benefícios usufruídos pela sociedade devem ser compartilhados.
 
Empresas não sustentáveis serão expulsas do mercado mais dia menos dia. O incentivo é saber que o valor será apreciado e percebido.
 
Revista Canavieiros: A senhora acha possível um pequeno produtor iniciar um projeto sustentável? Como o agricultor pode se inserir na sustentabilidade? 
 
Mônika Bergamaschi: Não há outra maneira. Se houver problemas ambientais ou sociais, o agricultor será autuado, multado e não conseguirá permanecer na atividade. 
 
As leis são para todos, independentemente do tamanho. Se não for sustentável do ponto de vista econômico, o próprio mercado cuidará de inviabilizá-lo e excluí-lo. A saída está no associativismo e no cooperativismo: comprar e vender melhor insumos e produtos, extensão rural compartilhada e boa orientação para gestão dos negócios nos aspectos legais e tributários.
 
Revista Canavieiros: Na sua visão, quais são as medidas para se criar um cenário de discussões sobre sustentabilidade de forma atrativa e estimulante?
 
Mônika Bergamaschi: É hora de ver a sustentabilidade como oportunidade e não apenas como uma ameaça que se resume em custos e possíveis sanções. A participação e a boa informação facilitam o entendimento e evitam riscos desnecessários com desconformidades.
 
A atuação conjunta pode trazer benefícios e ganhos importantes. O agronegócio é o único setor que ainda tem conseguido algum resultado no atual cenário da economia brasileira. É sabido que muito se espera do Brasil na oferta, com sustentabilidade, de alimentos, fibras e energia nas próximas décadas. Sabemos e podemos contribuir para satisfazer esta demanda, e isso, seguramente, é um estímulo.
 
Falta os governos despertarem para este grande potencial e fazerem as reformas, os acordos, os ajustes e os investimentos que emperram o desenvolvimento do agronegócio e do Brasil.