A reportagem da Revista Canavieiros conversou com o produtor rural Guilherme Piai Silva Filizzola, que recentemente foi empossado para comandar a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, cargo antes ocupado por Antônio Júlio Junqueira, que deixou a função por razões de ordem familiar.
Nascido no interior do Estado de São Paulo, na cidade de Presidente Prudente, Piai se formou em Administração de Empresas e cursou pós-graduação em Gestão Pública.
Antes de assumir a secretaria, foi diretor-executivo da Fundação ITESP (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) e ainda colabora com a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), onde é conselheiro.
Piai chega à secretaria executiva da pasta para reforçar frentes de extrema importância para o agro paulista e nesta entrevista fala sobre suas principais prioridades, metas e os desafios do agro paulista. Confira!
Revista Canavieiros: O que significa para você estar à frente da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo?
Guilherme Piai Silva Filizzola: Para mim é uma honra assumir a Secretaria de Agricultura de São Paulo, um grande desafio concedido a mim pelo governador Tarcísio de Freitas, que tem o objetivo de implementar programas com a importância do agronegócio paulista, que é o setor mais forte de nosso Estado e do País.
Revista Canavieiros: Qual é a sua visão para o desenvolvimento da agricultura no Estado de São Paulo durante a sua gestão como secretário?
Piai: O desenvolvimento da Agricultura depende de parcerias com a iniciativa privada e do incremento do salário dos servidores. Precisamos de recursos cada vez mais robustos e linhas de crédito subsidiadas para que possamos ajudar o produtor rural a empreender e crescer com dignidade, principalmente, os pequenos produtores paulistas.
Revista Canavieiros: Quais são as principais prioridades e metas que você estabeleceu para a Secretaria de Agricultura?
Piai: A Secretaria de Agricultura, assim como todo o Governo de São Paulo, está empenhada na transição energética de todo o Estado. Na Agricultura, esse esforço passa pelo incentivo à biomassa, ao biogás e ao biometano, usinas verdes de compostagem para a produção de bioinsumos, incentivo à energia fotovoltaica e diversas outras frentes sustentáveis.
Em um dos meus primeiros atos como secretário, criei a Coordenadoria de Transição Energética da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP, comandada pelo Doutor em Meio Ambiente e Conservação de Biodiversidade pelo Instituto de Botânica da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de SP e também professor de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ricardo Rosário.
Além disso, outra prioridade da secretaria é a conectividade rural. Precisamos entregar internet de qualidade à área rural paulista. Me reuni com diversas empresas do setor de telefonia para o lançamento de um programa de conectividade rural, que terá como piloto o Pontal do Paranapanema, que é o local onde temos maior escassez de conexão em SP, e, após isso, vamos entregar até 2026 conectividade a todo o território paulista.
Revista Canavieiros: Como você planeja apoiar os agricultores locais e promover a sustentabilidade agrícola no Estado?
Piai: Além do Rotas Rurais, nosso plano de políticas públicas prevê ações integradas para redução e desperdício de recursos, que são pontos importantes pra nós. Vale ressaltar que as boas práticas são focadas na diminuição das perdas dos alimentos e na otimização da mão de obra e dos recursos financeiros de uma maneira geral.
E na questão dos alimentos, estão previstas, entre outras ações, a utilização de produtos próximos de vencimento, um banco de alimentos, a separação de parcelas comestíveis de frutas e verduras parcialmente danificadas, processamento de resíduos alimentares e a não geração de lixo orgânico.
Revista Canavieiros: Qual é a sua estratégia para lidar com questões de mercado, como exportações de produtos agrícolas?
Piai: A balança comercial do agro paulista tem registrado sucessivos superávits mensais, como no acumulado de janeiro a setembro. Os números apontam aumento de 5,8% nas exportações, alcançando US$20,46 bilhões, e redução nas importações (-0,8%), totalizando US$3,84 bilhões. Com isso, o superávit em sete meses foi de US$16,62 bilhões, 7,5% superior em relação a 2022, de acordo com o último levantamento do IEA-APTA. A estratégia é criar o Selo SP, que visa identificar o produto paulista como um item diferenciado, sinônimo de qualidade e com responsabilidade ambiental. Vamos lançar neste mês a última campanha de vacinação de Febre Aftosa do de São Paulo, o que torna o Estado zona livre de Aftosa sem vacinação e valoriza e cria mais competividade ao produto paulista. Ainda, o protagonismo de São Paulo no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e no PRA (Programa de Regularização Ambiental) vai dar destaque ao mercado paulista.
Revista Canavieiros: Como você pretende envolver as partes interessadas, como associações de agricultores e organizações da sociedade civil, em suas iniciativas?
Piai: A Secretaria de Agricultura já dispõe de um fórum permanente que une o poder público com as associações, cooperativas e sociedade civil. As Câmaras Setoriais e Temáticas congregam todos os agentes das cadeias produtivas para a identificação de oportunidades de desenvolvimento do setor e definição das ações prioritárias de interesse para o agronegócio paulista e seu relacionamento com os produtores rurais. É uma forma de ouvir mais de perto as problemáticas da atividade e criar soluções mais assertivas.
Revista Canavieiros: Quais desafios específicos você enxerga para a agricultura do Estado e como planeja enfrentá-los?
Piai: Sustentabilidade e segurança alimentar são os dois grandes desafios do Agro Paulista.
Em São Paulo, sobram terras degradadas para se tornarem agriculturáveis e temos todos os meios para sermos referência na transição para um modelo produtivo mais ecológico.
A produção mundial de alimentos precisa aumentar 20% em dez anos para que não falte comida para a população global. Esse é o desafio da Agricultura Paulista e Brasileira.
Revista Canavieiros: Como a Secretaria de Agricultura está trabalhando para atrair investimentos para o setor agrícola em São Paulo?
Piai: Temos recebido muitas empresas, até mesmo do exterior, que têm muito interesse de investir no agronegócio paulista e acredito que as parcerias público-privadas podem ser grandes geradoras de renda, empregos e extensão rural, para alavancar a produção agrícola do Estado, principalmente, de pequenos e médios produtores.
Revista Canavieiros: Como planeja monitorar e avaliar o processo das ações da Secretaria de Agricultura ao longo do seu mandato?
Piai: Em meu primeiro dia como secretário, reuni todos os coordenadores da Pasta e definimos, por unanimidade, a realização de reunião periódica a cada 45 dias em que todas as coordenadorias - CATI, CDA, APTA, todos os Institutos de Pesquisa, entre outros – vão prestar contas das principais ações que conduzirem. Monitoramento e avaliação também passam por ter na ponta profissionais motivados e bem preparados, isso é regra na SAA, temos capital humano bem preparado em todos os espaços.
Revista Canavieiros: Qual é a importância da cooperação com outros órgãos do governo e Estados vizinhos para o sucesso das políticas agrícolas de São Paulo?
Piai: A sinergia do Governo de São Paulo é referência, temos contato diário com outras Pastas para alavancar temas convergentes e melhorar a vida dos paulistas. Em relação a outros Estados do Brasil, o COSUD (Consórcio de Integração Sul e Sudeste) é o melhor exemplo para tratar de intercâmbio entre Estados da federação e construção de políticas públicas análogas para atender cada vez melhor a população. Neste mês de outubro, ocorreu a 9ª edição do Consórcio, em terras paulistas, e conseguimos chegar a resoluções para gestão pública que seriam muito mais trabalhosas de serem resolvidas sem a expertise dos outros Estados.
