Tecnologias integradas no manejo da mucuna

12/03/2023 Noticias POR: Marino Guerra

Trabalho desenvolvido na Usina São Domingos chama atenção por sua grande eficiência contra uma planta de difícil controle

 
Reboleira de Mucuna na Usina São Domingos, problema crônico na região da Catanduva-SP

Quem já cultivou cana na região de Catanduva sabe que a briga com a mucuna é coisa séria. Como a região foi produtora de laranja por muito tempo e a planta foi utilizada como adubação verde na reforma dos pomares, somado a isso o fato de suas sementes ter grande período de dormência, quando os laranjais deram espaço para os canaviais, foi criado o ambiente propício para o seu desenvolvimento.

Dentre os principais problemas causados, além da matocompetição, por ser um cipó, ela consegue desenvolver grandes reboleiras, tendo como apoio as canas num porte evoluído, o que causa diversos problemas, podendo gerar até mesmo quebra da colheitadeira.

Com mais de 20 mil hectares para serem cuidados e quase em todos com problemas recorrentes da invasora em questão, o time de tratos culturais da Usina São Domingos, em meados de 2019, considerou o uso dos drones como ferramenta na implementação de uma nova iniciativa de controle.

“A infestação com mucuna aqui na usina sempre foi considerada geral e como não conseguíamos encaixar um manejo de combate, tendo em vista que a aplicação com a cana alta via autopropelido sempre causou muitos problemas, principalmente na época úmida, e, como nossas áreas têm muitos vizinhos que desenvolvem outras atividades, além de termos uma boa extensão próxima de perímetros urbanos, a aplicação com avião também era inviável. Em 2020 começamos a adotar os drones para monitoramento das reboleiras, o que foi fundamental para construirmos um banco de dados que hoje nos direciona no trabalho de aplicação localizado”, disse o supervisor de tratos da usina, João Fernandes.

Desde o início foi definido que 100% da área seria levantada, tendo como método o sobrevoou dos talhões 60 dias antes da colheita, e assim todo o banco de sementes invasoras de folha larga sendo identificados e mapeados.

De posse dessa informação, o segundo passo foi combater de maneira pontual nas áreas definidas. Nesse momento, a empresa trouxe como parceira a Baldan Connected, empresa que traz expertise não somente na aplicação de defensivos de maneira localizada pulverizada via drone, mas também é referência no controle de plantas daninhas.

Assim, em 2021 foi iniciado um trabalho corretivo, o qual as áreas de reboleiras identificadas na safra passada e confirmadas num segundo trabalho de mapeamento, receberam o defensivo 60 dias antes da colheita de maneira localilzada, o que trouxe um resultado bastante positivo, principalmente para o desenvolvimento do trabalho das colhedoras.

“O pessoal da colheita elogiou bastante, antes era um transtorno, pois eles tinham que descer toda a hora para limpar o mato. Fora que numa área de mucuna, pode até estourar a mangueira das máquinas, no caso das mamonas, o fio das faquinhas não aguenta. Depois que começamos as aplicações via drone, tudo mudou, nos lugares historicamente problemáticos, as colheitas passaram a ser tranquilas, sem problemas”, conta o coordenador de produção agrícola da São Domingos, Adriano Bortoleto, que lembrou que o trabalho foi tão eficiente que hoje até mesmo os acionistas acompanham o mapeamento aéreo, sabendo como está a saúde de todo canavial em relação às folhas largas.

Porém, a missão ainda não estava totalmente concluída, em novembro de 2022, o time de tratos, ao lado da Baldan, iniciaram o manejo identificado como “híbrido”, que constituiu basicamente na utilização de uma estratégia de ação preventiva com foco na redução da extensão das reboleiras.

Ação fundamental, pois como a mucuna tem como característica, quando a colhedora de cana passa, se ela produziu sementes, mesmo que a planta esteja dessecada, se propagar, o perímetro da reboleira, havia o risco muito grande que mesmo controlada, as manchas crescerem com o tempo.

“Com o monitoramento aéreo por dois anos consecutivos percebemos o aumento dos polígonos, que já eram desenhados considerando uma margem de segurança de 15% do tamanho identificado de infestação”, disse o supervisor de tratos da Usina São Domingos, Caio Batista.

Dessa maneira, o manejo foi executado numa ação inicial em área total, após a colheita ou no plantio, com o uso de defensivos de controle na pré-emergência das invasoras adaptados conforme a época de aplicação (úmida, semisseca, seca ou semiúmida).

Com apenas um caminhão pequeno de base e um drone pulverizador, é possível fazer a aplicação localizada de defensivo que gera economia de defensivo e a destinação do autopropelido para outras atividades, além de não ter problemas com outras atividades agropecuárias vizinhas

O maior diferencial na estratégia foi feito a partir de novembro de 2022, quando as áreas de reboleiras, através do trabalho de levantamento executado na safra passada, começaram a receber, na ordem conforme a época da colheita (primeiro os canaviais de início de safra), a aplicação localizada, via drone, do Arreio, herbicida que traz em sua formulação a mistura de Fluroxipir e Plicoram, fornecido pela Adama.

“A escolha pelo Arreio se deu em decorrência de diversas características da ferramenta, em primeiro lugar pelo seu amplo espectro de controle, indo desde as folhas largar mais complexas como a mucuna e a mamona, mas também plantas invasoras de porte herbáceos e arbustivas. Também era necessário, pelas características da região, um produto de residual longo para época úmida e que tornasse as sementes estéreis, ele age por 90 dias e age também nas sementes. Por fim, sua tecnologia de formulação, que é a microemulsão, garante a operacionalidade da aplicação via drone, sem causar o entupimento dos bicos”, disse o proprietário da Baldan Connected, Edison Baldan Junior.

E os resultados da ação já começaram a aparecer: “Mesmo iniciando o manejo híbrido preventivo em novembro, já estamos percebendo uma redução de pelo menos 70% das reboleiras”, disse Batista ao se referir que nessa safra o monitoramento voltará a acontecer e que os eventuais escapes receberão mais uma aplicação do Arreio.

“É preciso considerar que as vantagens do manejo são inúmeras, pois elas vão desde a redução progressiva de custo pela área de aplicação ir reduzindo, o que economiza na quantidade de defensivo, além do tempo de aplicação. Mas o ganho de produtividade pelo tempo de matocompetição ser menor é a grande virtude”, concluiu Baldan que também lembrou de dois pontos de atenção do manejo, o primeiro quanto ao uso do Arreio em canaviais com previsão de serem reformados, ferramenta que precisa ter seu uso cessado dois anos pois impede o nascimento das principais culturas de rotação com a cana.

E também que esse trabalho é constante, pois como as sementes de folhas largas possuem grande capacidade de dormência, se afrouxar no monitoramento, achando que o problema está resolvido, não vai demorar muito para elas voltarem na mesma intensidade do passado.

Equipe de tratos culturais da Usina São Domingos, somado a consultoria de aplicação localizada e uso de tecnologia herbicida. Sucesso do manejo híbrido da mucuna e outras folhas largas dependeu do trabalho integrado entre todos