Ter estratégia nutricional é fundamental

Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Adubação além do convencional passa pelo uso de organominerais

Aplicação de composto organomineral à base de cama de frango na linha em soqueira de lavoura localizada em Santa Cruz das Palmeiras-SP

Parece óbvio que uma cana bem nutrida tem mais força para enfrentar a estiagem, porém, há diversas maneiras de se nutrir a lavoura. Assim, o produtor precisa ter em mente que é necessário fugir do óbvio para alcançar melhores resultados.

Uma dessas soluções foi encontrada no canavial do cooperado Henry Clemente, de Santa Cruz das Palmeiras, que vai além da estratégia de adubação, sendo um interessante caso de economia circular.

Clemente faz o processo final de mistura do fertilizante, que tem como componente principal o composto de cama de frango, calcário e/ou gesso complementado com os químicos. O produtor conta que é preciso ter paciência para começar a enxergar os resultados, mas que com o tempo e repetição, sua cana, a cada estiagem, apresenta menor sofrimento.

O processo de produção começa com o esterco, resultado da compostagem das fezes das aves que se misturam à uma cama formada por casca de amendoim colocada antes da chegada dos pintinhos. Quando o produto está pronto (ver box) é feita a mistura com os outros componentes já citados, sendo as quantidades definidas através das análises de solo e química do composto.

O RTV da Copercana na região de Santa Cruz das Palmeiras, José Bortolo Zavaglia, ao lado do cooperado produtor, Henry Clemente, em canavial com 10 meses que recebeu apenas o composto de cama de frango como nutrição (foto feita em setembro)

Sua capacidade de produção é o suficiente para fazer uma aplicação sobre a linha (com a utilização de um implemento feito na própria fazenda) no início da rebrota, fazendo com que além de todos os benefícios nutricionais na planta, o solo também eleve sua capacidade de retenção de água.

O principal resultado vem nos números finais de safra. Com a produtividade em elevação, hoje a fazenda já se aproxima das 100 toneladas por hectare numa média de sete cortes, há dois grandes benefícios de ordem financeira ao adotar a prática, o primeiro relacionado aos custos, isso porque o produtor investe 70% a menos se adotasse uma prática padrão somente com os fertilizantes químicos. O outro é a criação de uma segunda fonte de renda vinda com a comercialização dos frangos.

Mais um exemplo evidente da eficiência da compostagem, desta vez tendo como base a torta de filtro, foi encontrada na área cultivada pelo cooperado Antonio Cavalmoretti. Em duas quadras, uma ao lado da outra e com a mesma variedade (RB 966928), apenas uma recebeu o condicionador de solo no sulco de plantio.

Exemplo de área de rebrota (um mês após a colheita) em segundo corte, onde foi aplicado a compostagem de torta de filtro (linha delineada) e a adubação tradicional na palha (fotos feitas em setembro)

Em área cultivada pelos produtores André Luiz Zanolli e Pedro Teixeira Júnior, em Casa Branca-SP, é possível ver a excelente brotação, sem falhas e folhas secas, de um plantio realizado em maio (fotos feitas em setembro) em área com a CTC 04, que recebeu no sulco a mistura de enraizador orgânico, indutores vegetativos biológicos, nematicidas biológicos, complexo de micronutrientes e 600 quilos de NPK na fórmula 04-30-10

No primeiro corte a diferença já ficou em seis toneladas por hectare na área com o composto. Contudo, o resultado mais expressivo veio na soqueira logo após o segundo corte, em que quase um mês após, a rebrota das soqueiras sem a torta apresentava dificuldades em aparecer, enquanto que ao lado as ruas já estavam delineadas pelas folhas.

Em Casa Branca, numa área cultivada por André Luiz Zanolli e Pedro Teixeira Júnior, cujo plantio aconteceu em maio, impressiona o vigor com que a CTC 04 emergiu do solo, ainda mais se considerando que a muda veio de um viveiro de segundo corte num ambiente restritivo.

De acordo com o engenheiro-agrônomo da Copercana que atende a região, José Bortolo Zavaglia, muito do resultado se deve ao que foi depositado no sulco do plantio, que consistiu numa mistura de enraizador orgânico, indutores vegetativos biológicos, nematicidas biológicos, complexo de micronutrientes e 600 quilos de NPK na fórmula 04-30-10.

Já Daine Frangiosi, de Campo Florido-MG, trabalha sua nutrição acrescentando entre 40 a 60 quilos de potássio por hectare no sulco de plantio para ajudar a planta a se tornar mais eficiente em perder menos água. Sobre esse assunto, o produtor lembra que o “Boletim 100” não recomenda a prática, mas perante sua experiência, notou em campo que os talhões onde era inserida essa pequena dose de potássio, a cana "segurava" por mais tempo as folhas verdes em momentos de estresse hídrico.

Ainda na cana-planta, no quebra-lombo, ele faz uma aplicação foliar do Crop+ (fertilizante organomineral da FMC) como indutor de duas proteínas que aumentam a resistência da planta, e molibdênio, que fará gastar menos energia para as raízes pegarem o nitrogênio presente no solo.

Pensando em soqueira nos canaviais que são retirados do meio para o final da safra, numa estratégia de inibir, durante a estiagem, que a planta produza folhas novas e ao mesmo tempo segure a massa verde já constituída por mais tempo, fazendo com que ela continue produzindo e armazenando sacarose, Frangiosi aplica de modo foliar, entre o fim de maio e começo de junho, uma mistura contendo 600 gramas de fósforo, 600 gramas de potássio, 200 gramas de magnésio, 170 gramas de boro e aminoácidos que auxiliam no processo de absorção.

RB 867515 no nono corte cultivada por Daine Frangiosi em Campo Florido-MG, sofrendo com mais de 120 dias sem chuva e ainda segurando as folhas da ponta verdes, resultado de uma nutrição foliar bem-feita executada no final de maio

PROCESSO DE COMPOSTAGEM

  1. Antes da chegada do lote de pintinhos são espalhadas cascas de amendoim por todo o piso da granja;
  2. Logo após a ida, da granja para o abate, é feito um processo de desinfecção do material presente no piso, que consiste numa flambagem e aplicação de um inseticida com o objetivo de matar eventuais vermes e larvas presentes no ambiente;
  3. Em seguida, é feito o revolvimento do material através da passagem de uma rotativa;
  4. O material descansa entre uma semana e dez dias antes de entrar um novo lote de frangos;
  5. O processo se repete de 3 a 4 granjadas;
  6. É feita a retirada e a constituição de montes localizados num pátio, cobertos por lona para proteção da chuva;
  7. Inicia-se o processo de enriquecimento com a mistura de calcário e gesso, sendo feito o revolvimento uma vez por semana;
  8. Nesse período acontece reações químicas, físicas e biológicas, que farão com que, conforme o material esfria, os agentes biológicos se degradem e transformam a matéria em minerais que serão importantes para a nutrição da lavoura.

Cama de frango ainda na granja

Composto pronto para ser utilizado na lavoura