Trilhando um caminho baseado em experiências, oportunidades e consenso

03/05/2021 Noticias POR: FERNANDA CLARIANO

Mário Campos Filho - presidente da Siamig e da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool

 

 

Conforme anunciado dia 24 de fevereiro de 2021, o presidente da Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais), o mineiro Mário Campos Filho, foi nomeado o novo presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool. A confirmação foi publicada no DOU - Diário Oficial da União no dia 19 de março de 2021. A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool é ligada ao Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e tem a missão de debater os temas relacionados ao setor sucroenergético do Brasil, um dos segmentos mais importantes para o PIB brasileiro. A reportagem da Revista Canavieiros conversou com ele para saber um pouco sobre as expectativas para essa nova missão e também sobre o setor sucroenergético. Confira!

Revista Canavieiros: Como você recebe esse novo cargo, o qual foi eleito de forma unânime?

Mário Campos Filho: Eu recebo com muita responsabilidade, agradecendo a todos que construíram a história da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool dentro do Ministério. Temos um acordo entre a agroindústria e os fornecedores de cana onde revezamos a presidência de tempos em tempos. O último presidente foi Alexandre Lima Andrade, presidente da Feplana, que fez um excelente trabalho. Agora, na vez da indústria, gostaria de fazer um agradecimento a todos os lideres setoriais que estão lá representados, que colocaram o meu nome e, de forma unânime, aprovaram a minha indicação. É um cargo de muita responsabilidade e, acima de tudo, que me traz imensa gratidão, sou muito agradecido pelo fato de trabalhar com duas pessoas eficientes e grandes gestores desse setor agrícola brasileiro que são a ministra Tereza Cristina e o seu secretário executivo Marcos Montes, que inclusive é mineiro também.

Revista Canavieiros: Qual é o objetivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool?

Mário: A Câmara tem o objetivo de promover discussões intrínsecas ao setor que são importantes e, quando olhamos os seus membros, vemos ela bem representada pelas lideranças da agroindústria e dos produtores rurais, bem como pela academia e órgãos de governo. A Câmara serve como um filtro de discussões para que o Ministério possa ter uma boa informação e consiga implementar suas políticas públicas, lutar pela execução de algumas políticas novas e aperfeiçoar as existentes. Então funciona realmente como uma estrutura que consegue assessorar o bom trabalho da ministra, do secretário executivo e de toda a equipe do Ministério da Agricultura. 

Revista Canavieiros: Como desempenhará sua função frente à presidência da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool? Vai trabalhar como uma ligação entre setor e governo para ajudar na retomada econômica do país?

Mário: Primeiro, trabalhar a identificação dos assuntos com base na vivência e na conversa com os membros da Câmara, criando um ambiente harmônico entre todos no sentido de alcançar um consenso - esse é o grande objetivo do presidente da Câmara, ter consensos entre os agentes que vez ou outra aparecem com objetivos diferentes. É importante termos uma política pública relacionada ao setor cada vez mais efetiva e próxima da realidade. Na questão da retomada econômica, acredito que o setor do agronegócio foi muito menos afetado com a pandemia. Temos uma situação muito diferenciada, até porque a agroindústria é essencial à sociedade e não parou, é um segmento também com um pé no mercado interno e outro no externo. Ou seja, de certa forma não diria beneficiado, mas teve menor impacto em relação à pandemia, além da sua importância enorme na recuperação econômica do Brasil.                

Revista Canavieiros: Quais os principais desafios e suas prioridades nessa nova empreitada?

Mário: Deixar claro que a Câmara Setorial já tem uma história e que há uma continuidade desse processo, que o desafio maior atualmente é que não temos reuniões presenciais desde o início da pandemia e, claro, estamos ansiosos para que a vacinação no Brasil avance o mais rápido possível para que possamos retomá-las. Também acredito que teremos alguma novidade sobre esse assunto apenas no segundo semestre ou no início de 2022. O setor é muito dinâmico, observamos que os assuntos aparecem e vão recheando a pauta de discussão com o calor do momento. Quanto à inserção do etanol no mundo, os avanços são interessantíssimos, os EUA é um grande produtor de etanol de milho e agora vemos avanços em alguns países europeus e, principalmente na Índia, que também é o segundo maior produtor de açúcar do mundo. A própria política do RenovaBio e sua necessidade de aperfeiçoamento, a discussão sobre a produção de energia elétrica a partir de subprodutos como bagaço e a oportunidade do biogás e do biometano são assuntos que irão nortear nossa atuação. Acima de tudo, temos um grande desafio principalmente da porteira para dentro, na busca cada vez maior da produtividade. Não tenho dúvidas de que iremos debater também assuntos relacionados à pesquisa, novas variedades, a questão das canas geneticamente modificadas, que na minha opinião vai crescer no futuro. O objetivo será discutir assuntos relacionados à toda cadeia sucroenergética do Brasil.     

Revista Canavieiros: Mesmo com os impactos causados pela pandemia da Covid-19 o setor sucroenergético não parou. Qual a expectativa para a safra que inicia agora no mês de abril?

Mário: Com relação à região Centro-Sul do Brasil enfrentamos um período muito seco em 2020, não foi à toa que tivemos um dos maiores ATRs da história, porém, com prejuízos ao desenvolvimento do canavial. Há uma expectativa de que a safra 2021/22 em termos agrícolas tenha menor disponibilidade de cana e, dessa forma, uma menor quantidade de produtos a partir dessa moagem. Contudo, vemos que existem variações entre as regiões, tem região que a seca não foi tão acentuada e em outras foi até mais acentuada que a média, há uma diversidade na área produtiva. São Paulo é o maior produtor, passando pelo Triângulo Mineiro, outras regiões de Minas Gerais, toda região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul, Goiás, entrando um pouco no Mato Grosso e o Paraná. Temos uma região realmente bem diversa que, no geral, recebeu pouco volume de chuva, há uma percepção que o volume de cana poderá ser realmente menor. Acredito também até pelos níveis de preços no mercado internacional de açúcar que teremos um mix elevado para açúcar como tivemos no ano passado, porém, devido a redução da cana, uma menor produção. Devido a esta segunda onda da Covid-19, também não sabemos o tamanho que será esse mercado interno de combustíveis, mas acredito que teremos uma oferta condizente de etanol com relação ao potencial da demanda para este ano. Quanto a região Norte – Nordeste, pelo menos os principais estados estão terminando agora a safra 2020/21, e iniciarão uma nova safra em agosto/setembro.     

Revista Canavieiros: Poderia comentar sobre as questões relacionadas ao açúcar?

Mário: O Brasil tem uma importância muito grande nesse setor, é o maior produtor e exportador de açúcar, porém, os subsídios que os nossos concorrentes implementam têm algum tipo de influência nas nossas discussões. O açúcar é um produto que tem uma grande receita para as empresas nas exportações. É um energético que hoje é muito barato - esse é um ponto positivo, mas tem encontrado algumas campanhas contrárias ao redor do mundo, também no Brasil. É preciso encarar isso de frente e mostrar a importância do açúcar como adoçante e para consistência dos produtos industrializados e o sabor dos alimentos industrializados. A pauta do açúcar é extremamente valiosa para nosso setor. Estamos muito bem inseridos nessa estrutura do pós-Covid-19, inclusive colocando o nosso segmento como um exemplo para o Brasil nesse desafio, que é reconstruir a imagem no campo ambiental ao redor do mundo.

Revista Canavieiros: Em relação à energia elétrica, o que se pode esperar?

Mário: Nos últimos dois, três anos, o número de projetos novos em bioeletricidade reduziu bastante e isso também é em função da própria dificuldade da economia brasileira, das questões relacionadas aos efeitos da Covid-19 que impactaram obviamente o consumo de energia elétrica no Brasil. Enxergamos a nossa energia elétrica como diferenciada, isso é até um pouco cansativo, mas precisamos repetir – o período do ano que produzimos, enquanto estamos de safra, é de forma contínua e firme. Na entressafra, a energia reduz bastante, mas ofertamos próximo às regiões de maior consumo num período mais seco, onde os reservatórios sofrem com relação à disponibilidade hídrica para a geração de energia. Somos realmente muito diferentes do que observamos na energia solar e na eólica e precisamos diferenciar esses processos. Deveríamos ter uma estrutura ou uma forma de apresentação diferenciada para que os atributos relacionados à nossa energia fossem totalmente contemplados e precificados por parte do mercado. Vislumbramos um crescimento do segmento para os próximos anos para atender ao mercado nacional. Sempre olhei o setor com muito equilíbrio. Uma empresa do setor que tem condição de ofertar esse mix de produtos relacionados a açúcar, etanol e energia elétrica, podendo inclusive caminhar para o biogás a partir de vinhaça, torta de filtro, se diferencia das demais na sua saúde financeira, nas suas perspectivas futuras de geração de valor para os seus controladores, seus acionistas. Eu acho muito importante incrementar e crescer dentro dessa estrutura, a bioeletricidade tem um papel extremamente importante.               

Revista Canavieiros: Apesar do momento em que estamos vivendo, você vê oportunidades para o setor?

Mário: Estamos todos no meio de uma tragédia mundial e sofrendo, mas precisamos ressaltar que não paramos em nenhum momento. Continuamos tomando todos os cuidados e seguimos firmes. Isso refletirá nos resultados financeiros com o setor. Observamos uma melhora substancial na saúde financeira das empresas em função de termos conseguido mostrar à sociedade a nossa essencialidade e conseguido nos adaptar ao momento. No ano passado observamos as empresas fazendo uma maximização da produção de açúcar para aproveitar esse momento e sair um pouco da pressão da redução de demanda no mercado interno de combustível. A flexibilidade das nossas fábricas é extremamente importante para o conjunto de resiliência do setor e vejo grandes oportunidades, pois. apesar da pandemia, há busca por um mundo mais sustentável que envolve não só a questão da mobilidade, do comprometimento com o não desmatamento, uma série de questões relacionadas não só a clima, mas como agenda verde, o uso racional de água.  Estamos inseridos nesse processo e tenho certeza que nos encaixaremos nele e não podemos ficar parados, temos que construir o nosso futuro. Para isso, é importante participarmos ativamente da construção de políticas públicas que determinarão a mobilidade sustentável. Temos o biocombustível e precisamos colocar as nossas posições para que o Brasil seja protagonista, salvando, inclusive, a indústria automobilística nacional.

Revista Canavieiros: RenovaBio, como você vê esse segundo ano de funcionamento?

Mário: Estamos no caminho certo, o programa é fantástico, foi um golaço que todos, de mãos dadas, governo, setor privado, academia fizeram lá atrás. Conseguimos aprovar, depois teve a fase de construção normativa, do regramento, dos credenciamentos das empresas, dos estudos relacionados à pegada ambiental de cada um. No ano passado fomos coroados com o primeiro ano de funcionamento. O RenovaBio trouxe ao setor de biocombustíveis cerca de 650 milhões de reais em receita em 2020. Precisamos valorizar e agradecer a todos aqueles que ajudaram a construí-lo. Agora o nosso objetivo é manter e aperfeiçoar o programa e mostrar o que fizemos não só para esse segmento do mercado de combustíveis, mas para outros setores sejam da economia brasileira ou para o mundo - ele tem que servir de exemplo. Criamos um mercado de carbono que funcionou muito bem, ele tem de um lado quem gera os créditos, os CBios, e, do outro, a necessidade de as distribuidoras adquiri-los. Há uma discussão ainda muito grande sobre a questão da tributação, eu acho que esse é um dos temas importantes para que seja aprofundado. Podemos ver hoje no Brasil muitas estruturas isentas de impostos, que não têm a mesma ideia, o mesmo esforço no sentido ambiental por trás. Precisaríamos estudar e aprofundar um pouco mais esse tema e ver realmente que esse nosso programa tem um atributo adicional – algumas coisas que temos no Brasil, ou seja, por que não termos ou uma isenção ou uma carga tributária menor? Precisamos continuar construindo essa estrutura, aperfeiçoando a forma de mercado, com a entrada aí de outros players, discutindo a questão da tributação. Eu falo nas discussões que o setor sucroenergético além de açúcar, etanol, bioeletricidade, biometano, biogás em algumas empresas já instaladas, que temos também CBio como um produto do setor. Agora não é um produto só para termos a receita, o que queremos mostrar para a sociedade é o propósito dele ter sido   criado e do que pode virar em termos de benchmarking, de busca de eficiência por cada uma das empresas sempre no sentido ambiental. Se amanhã uma empresa conseguir através de experiências de outras reduzir o consumo de diesel, de fertilizantes, mantendo a sua produção, já é um grande feito, um grande ganho que vamos ter porque essa empresa vai melhorar sua nota e, como consequência, ter uma pegada ambiental menor, porque utilizou menos insumos para produzir a mesma coisa, ou seja, temos um ganho muito grande e efetivo nesse processo. Vejo o RenovaBio como um caminho, uma construção do nosso futuro que lá na frente vai ter uma importante discussão de como o Brasil está vendo o futuro da mobilidade sustentável. Esse programa tem uma importância muito grande e precisamos de união e força. A Câmara Setorial estará, pelo menos na minha gestão, pronta para que possamos discutir isso junto com o governo e a sociedade