Tudo começa no solo

Cana-de-Açúcar POR: Diana Nascimento

Nutrientes possuem papel preponderante para o alcance de máximas produtividades

Denis Polydoro, supervisor regional da Agronelli e, ao fundo (no telão), o pesquisador Rafael Nunes

O quinto dia de transmissão das lives começou com a apresentação "Construção de perfil de solo em busca de altas produtividades" com Rafael de Souza Nunes, pesquisador da Embrapa Cerrados, e Denis Polydoro, supervisor regional da Agronelli.

Polydoro apresentou a empresa e comentou sobre o seu pioneirismo no setor agrícola. "Nosso slogan 'Fortalecendo suas raízes' indica que os nossos produtos promovem benefícios subterrâneos ao solo. Foi com o espírito de pesquisa, inovação, busca por dados, informação e conhecimento que o presidente da empresa, Marco Túlio Paolinelli, é o precursor do sulfato de cálcio e do gesso agrícola junto a instituições como a Embrapa, universidades federais e estaduais que comprovaram as vantagens do sulfato de cálcio para a agricultura brasileira".

Logo em seguida, o pesquisador da Embrapa Cerrados abriu a sua apresentação dizendo que há uma discrepância entre o que é possível produzir e o que está sendo alcançado. "Isso precisa ser trabalhado a partir de manejo, precisamos melhorar a produtividade brasileira", afirmou.

Uma situação comum é que os produtores empregam tecnologias de olho na racionalidade dos insumos. "Há muita tecnologia no mercado e temos que observar quanto ela custa e o que ela agrega. Numa situação de restrição orçamentária, que é uma realidade sempre presente, acabamos por priorizar investimentos que têm o maior retorno", observou Nunes.

Ao abordar como a fertilidade dos solos tem sido trabalhada, ele elencou sete desafios principais dentro do sistema de produção: conhecer a fertilidade do solo, as culturas, o sistema de produção, a construção química do perfil, o manejo da adubação, a melhoria da qualidade do solo e a profissionalização.

O solo do cerrado, por exemplo, tem características de mineralogia e fertilidade muito distintas. São solos com fração mineral de argila com altas presenças de caulinita, óxidos de ferro e alumínio, argilas de baixa atividade com cargas variáveis, elevada acidez, presença de alumínio tóxico e baixo conteúdo de nutrientes trocáveis, o que impõe limitações para a construção de um ambiente químico.

Em algumas áreas mapeadas, observou-se que na camada superficial havia uma acidez preponderante, sendo que 82% dessas áreas tinham níveis restritivos ao crescimento de raízes e de culturas. "No entanto, como temos uma boa distribuição de minas de calcário ao longo do Brasil e inclusive no cerrado, o manejo dessa acidez é algo simples e barato", pontuou Nunes.

Todavia, há outra realidade abaixo da linha arável, com níveis de cálcio bastante restritivos. Cerca de 70% das áreas de ambiente natural de cerrado têm restrição por alumínio em profundidade e 86% têm restrição devido à falta do nutriente cálcio.

"Na presença de alumínio, as raízes têm um alongamento diminuído, além de promover alterações morfológicas, pois elas engrossam e a ramificação fica comprometida. Tudo isso implica em prejuízo para a absorção de nutrientes e de água. Associada à toxidez do alumínio, a falta de cálcio agrega outra restrição porque o cálcio é imóvel dentro da planta. É preciso fornecer esse nutriente em profundidade para que haja o pleno crescimento de raízes nessas camadas", explica o pesquisador.

Em uma análise típica de solo de cerrado, em 100 cm notou-se que todos os atributos químicos de fertilidade são restritivos, com exceção da matéria orgânica que tem níveis mais elevados. Por isso, é preciso integrar tecnologia para minimizar esses problemas, sendo algumas nas camadas mais superficiais e outras em camadas mais profundas, onde cada nutriente terá um papel preponderante para alcançar as máximas produtividades.

Construindo o perfil de solo

Dentre as diversas ferramentas que a pesquisa agrícola tem gerado para construir quimicamente o perfil de solo está a calagem, que objetiva em corrigir o pH, fornecer cálcio e magnésio, neutralizar o alumínio, aumentar a CTC do solo, e também a atividade microbiológica - fator este que ajuda a aumentar a produtividade quando bem manejada.

Um experimento de correção de acidez realizada pela Embrapa Cerrados em um latossolo com saturação inicial de 10% mostrou um ganho de TCH de 16% (20 t/ha) com calagem. "Justifica-se muito fazer a calagem nesses ambientes restritivos", frisou Nunes.

Além da correção de acidez pelo calcário, há nutrientes que precisam ser corrigidos, levando-se em consideração o perfil produtivo e o primeiro deles é o fósforo.

A cana-de-açúcar, assim como as culturas anuais, precisa de um nível mínimo de nutrientes para atingir as melhores produtividades, o que é diferente de fazer o plantio apenas com a adubação de uma dose pesada no sulco.

"Pretendemos mostrar que a combinação de adubação fosfatada corretiva, adubação no sulco de plantio e adubação de soqueira é a melhor estratégia, o que justifica fazer a fosfatagem. Em vez de plantar com o adubo em uma dose pesada no fundo do sulco, pegamos a mesma dose e aplicamos a lanço incorporado, o que resulta em uma diferença de produtividade de cana-de-açúcar", avaliou o pesquisador

Em geral, nota-se uma deficiência de potássio em áreas de cultivos anuais por desatenção no balanço do nutriente no sistema. Isso também pode acontecer com a cana-de-açúcar, pois a adubação anual realizada pode não ser suficiente e a adubação potássica tem deixado a desejar.

"Estamos elaborando uma publicação para a cana-de-açúcar em que estão sendo compilados os seguintes valores de exportação (kg/100 t colmos): N=87, P2O5=23, K2O=149 e N:K2O=1,7. Isso mostra que devemos readaptar o manejo de adubação potássica nesse sistema de alta produtividade", considera Nunes.

Um detalhe apontado pelo pesquisador em relação ao potássio é a integração com o magnésio. Se por um lado há a falta de potássio nos talhões, em regiões especialmente com bacia de vinhaça há o oposto: um excesso de potássio que pode induzir à deficiência de magnésio. "O manejo de magnésio em regiões com alto nível de potássio deve ser olhado com mais atenção", sugere.

A construção de perfil de solo também implica em uso de micronutrientes. Segundo Nunes, o que ocorreu com o sistema de grãos há 20 anos está acontecendo com a cana-de-açúcar, ou seja, o solo é o maior fornecedor de nutrientes, inclusive micro. "Quando fizer a renovação ou o plantio, deve-se colocar fontes com micronutrientes de acordo com a análise de solo", ressalta.

O pesquisador destacou ainda o gesso agrícola como uma boa fonte de nutriente, abordando sobre a sua movimentação no solo, índices para recomendação e outros fatores. "A dinâmica de reação do gesso é interessante para a cultura, pois não fica na camada superficial e também não lixivia muito, ficando estacionado em uma camada desejável de correção."