Ultrapassando a porteira

Por: Marino Guerra
 
O intuito dessa editoria é mostrar o que produtores de cana fazem como alternativa à cultura, seja para ter mais uma fonte de renda, seja somente por diversão. A história do confinamento e marca de carne nobre 5M vai além de ser apenas um negócio paralelo. Com o seu nível de profissionalização atual, a empresa já foi muito além da porteira e o objetivo dos sócios é caminhar para muito mais longe.

Para entender a sua estrutura, vamos dividir a empresa em duas áreas de negócios distintas, sendo a primeira o confinamento. Localizado em Luís Antônio, sua estrutura hoje tem capacidade para receberem cerca de 20 mil cabeças.

Nessa estrutura são realizados três tipos de criações diferentes, a primeira é a operação de EPE (Estabelecimento de Pré-Embraque) para as exportações de gado vivo, onde é preciso que os animais passem por um período de quarentena (21 dias) antes de seguirem viagem. Nesse local o plantel é submetido a exames de acordo com as exigências sanitárias do país comprador.

No caso do confinamento, a capacidade de recebimento são de 12 mil cabeças, que têm como destino a Turquia. Esse relativo novo mercado vem crescendo dentro da pecuária nacional, tanto é que até o final do ano eles devem duplicar a capacidade de receber os animais.

O segundo business é o mais tradicional, ou seja, o confinamento em si, o qual contém 8 mil cabeças, sendo parte da própria empresa e parte de parceiros, inclusive diversos fornecedores de cana. Nesse modelo, a estrutura entra com o trato e o investidor com o gado, sendo assim o seu dono decide se pretende fazer venda em lotes, junto com animais próprios e de outros, ou então individualmente. O valor a ser acertado é referente ao ganho de peso da carcaça.

Como a dieta do confinamento é extremamente diferenciada, para se ter ideia existe uma fábrica na propriedade, onde os animais que ali estão acabam possuindo um padrão de carne melhor, o que já é reconhecido pelos frigoríficos compradores gerando compensações financeiras.

A terceira forma de criação demanda apenas um cocho, que recebe 30 cabeças por semana e tem pouco mais de um ano de idade, mas com certeza é o negócio de maior potencial. A criação de novilhas Angus, que hoje são abatidas e desossadas em um frigorífico parceiro e vendidas sob a marca 5M em duas boutiques de carne, uma em Sertãozinho e a outra em Luiz Antônio, muito próxima à Central Energética Moreno.

A criação desses animais, meio sangue (mãe Nelore e pai Angus), obedece a uma rigorosa metodologia, que dentre diversos procedimentos está o abate entre 150 e 160 dias de confinamento, onde chegam, no máximo, a 20 meses de idade. Os bezerros chegam após a desmama, em sua grande maioria de uma operação de reprodução no Mato Grosso do Sul, que conta com cerca de 1,2 mil matrizes. Somente as fêmeas são utilizadas pela marca, os machos que nascem partem para a operação de confinamento tradicional.

Outro fator é no momento de desossa, onde a 5M conta com um mestre de corte responsável por monitorar a operação no frigorífico parceiro e se certificar de que todos os cortes estão dentro do padrão. Além da dieta específica como citado acima, o que garante sabor, odor e qualidade diferenciada mesmo no mercado de carnes nobres, sem esquecer a questão do manejo racional, no qual o gado é tocado de maneira estratégica para não gerar stress, o que acarreta no endurecimento do produto.

Com todo esse conhecimento, aliado a um ganho de mercado expressivo, a expectativa é de uma vigorosa expansão em pouco tempo. Através de um modelo de comercialização de franquias (segunda área da empresa) o negócio deverá ganhar escala e só não explodiu ainda porque como a operação de desossa ainda é terceirizada, há um receio por parte da diretoria em relação ao abastecimento.

Dentro desse planejamento, já está em processo de implantação a construção de local  próprio de desossa, que só não está mais acelerado devido a alta burocracia existente.
Com isso, segundo o diretor Carlos Rafael Moreno, o objetivo é que a oferta acompanhe a expansão da demanda em potencial que já existe. “Já fomos procurados por diversos investidores interessados em abrir uma franquia de nossa loja, mas antes é preciso que o nosso centro de desossa esteja funcionando. Quando conseguirmos isso, acredito que nossa produção passará de 30 cabeças por semana para, pelo menos, 30 por dia”.

Esse cenário pode representar uma grande oportunidade para o desenvolvimento da pecuária na região, principalmente para fornecedores de cana que optarem por diversificar sua atividade, podendo entrar nesse negócio vendendo novilhas para o próprio confinamento, onde segundo a própria administração da empresa, será necessária a compra de mais animais.

Diz um ditado popular, e diga-se de passagem muito derrotista, que para uma geração bem- sucedida, existirão outras dez que vão acabar com o patrimônio acumulado. Ao conhecer a história e o potencial de crescimento da 5M, formada por representantes da terceira geração dos fundadores das usinas e indústria de base homônimos ao sobrenome, tenho certeza que quando há união, DNA empreendedor e principalmente vontade de trabalhar, a frase acima não se torna nada mais que pura balela.