Um agro inovador, competitivo e sustentável

Agronegócio POR: Fernanda Clariano

Entrevista: Luiz Carlos Corrêa Carvalho - Presidente da Academia Nacional de Agricultura e diretor da Abag

As pressões da sociedade urbana e a realidade das limitações de terras nos países, por um lado, e as pressões do aumento populacional, do processo acelerado de urbanização e enriquecimento, se somam à crescente preocupação global por sustentabilidade. É nesse ritmo crescente de conscientização que o agronegócio brasileiro ganha espaço e importância. A reportagem da Revista Canavieiros conversou com o presidente da Academia Nacional de Agricultura e diretor da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o Caio Carvalho como é conhecido, para falar sobre esse pujante setor, o agronegócio. Confira!

Revista Canavieiros: Qual a avaliação do agro atualmente?

Caio Carvalho: A pandemia, terrível, serviu para mostrar ao povo urbano e aos políticos a relevância do agro para o Brasil. Por outro lado, o quanto temos que comunicar melhor, no Brasil e fora dele. A balança comercial brasileira, positiva, é totalmente dependente do agro, que na pandemia seguiu dando excelentes resultados.

Revista Canavieiros: Que o agro é uma grande potência todos sabemos, mas um dos grandes gargalos é a comunicação com a sociedade. Em sua opinião, o que poderia ser feito para mudar?

Carvalho: O setor agro conseguiu melhorar a sua imagem pós-campanha da Globo “O Agro é Pop” no ambiente urbano. No entanto, as posições do Brasil, oficiais, do governo federal, não foram positivas e têm permitido um ataque de países interessados e de entidades sérias, ou, nem tanto, sobre a real postura brasileira frente ao Acordo de Paris, Amazônia, etc. A comunicação tem ruídos de uma divisão conceitual no setor agro. Há entidades de produtores que entendem que deve suportar a linha de comunicação do governo federal com o mundo sobre as questões ambientais e há entidades que trabalham com os temas transversais que entendem ser fundamental somar forças com a sociedade civil para melhorar a comunicação e as ações, principalmente para defender o agro de possíveis retaliações de países. É importante, em minha opinião, a visão da soma do produtor e dos ambientalistas para melhorar a imagem do país. A Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura, que cuida disso, deve ser amparada por todos e a divisão que mencionei é um movimento perde-perde.

Revista Canavieiros: Qual é o grande desafio para o agronegócio brasileiro?

Carvalho: Então, além da comunicação, a tendência de um mundo mais fechado, com crescente populismo e com o enfraquecimento da OMC – Organização Mundial do Comércio – onde as controvérsias não estão sendo debatidas e os riscos de subsídios aumentam muito, assim como há uma tendência a um precaucionismo (expressão cunhada pelo Pascal Lamy) que trará maiores dificuldades às exportações com questionamentos subjetivos como aqueles relacionados às queimadas e Amazônia.

Revista Canavieiros: A agricultura será desafiada por transformações substanciais ao longo dos próximos anos?

Carvalho: O agro brasileiro tem sido o mais inovador no mundo, sem dúvida. Isso o torna “vidraça” e as pedras virão cada vez com mais força. Ao mesmo tempo em que as instituições como a ONU – Organização das Nações Unidas, OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e outros analistas pedem a expansão da oferta brasileira, muitos países veem isso com receio. O acordo Europa/Mercosul está passando por este teste. O grande desafio é a sustentabilidade da produção. Os exemplos da ILPF - Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, e dos Biocombustíveis, no Brasil, são únicos. Outro desafio é o aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Esses esforços sempre precisarão contar com uma comunicação eficiente.

Revista Canavieiros: O Brasil precisa investir de forma mais agressiva em inovações para agregação de valor às commodities, criando oportunidades para o agronegócio?

Carvalho: Sem dúvida alguma esse é o caminho essencial. O valor dos produtos derivados da soja, por exemplo, é maior do que o do grão; o mesmo se fala com relação ao milho, à cana-de-açúcar. Mesmo o café tem subprodutos de alto valor agregado, como o seu óleo. Para isso, o constante investimento em P&D com maior integração público-privada será essencial.

Revista Canavieiros: Há algum tempo em uma entrevista o senhor afirmou que se preocupava muito mais com a política tributária do que com o equilíbrio da sustentabilidade agrícola. Ainda compartilha dessa opinião?

Carvalho: A política tributária pode viabilizar ou inviabilizar um produto essencial como o etanol. A sua sustentabilidade “do poço à roda” já está comprovada. Desse modo, em primeiro lugar, vale ressaltar a fundamental necessidade das reformas no Brasil, para reduzir o chamado Custo-Brasil. A tributária, que está em discussão, será essencial ao futuro do setor sucroenergético. Recentemente, um projeto de Lei no Legislativo Paulista não foi aceito (graças a Deus) e buscava aumentar os impostos, por exemplo, no etanol (ICMS).

Revista Canavieiros: Ganhos de produtividade e forma sustentável de produzir têm aberto importantes portas ao setor internacionalmente na medida em que o peso da oferta brasileira se torna cada vez mais relevante?

Carvalho: São o cartão-postal do agro brasileiro: alta competitividade com sustentabilidade. Por isso mesmo uma divisão de conceitos quanto a isso é um tiro no pé. Vaidades e eleições podem ser um transtorno se essa regra pétrea – competitividade e sustentabilidade – não for consenso entre os produtores.

Revista Canavieiros: O processo de inovações com acelerada informatização sob a lógica da internet das coisas, da inteligência artificial, da nanotecnologia, biotecnologia e os avanços da química serão agentes fundamentais da nova revolução verde que virá, assim como na quebra das barreiras comerciais?

Carvalho: Sem dúvida alguma serão investimentos fundamentais aos ganhos de competitividade, com sustentabilidade, que o mundo reclama. Essa revolução, em todos os setores da economia, terá um grande efeito no agro. Os impactos do desempenho operacional  na redução dos custos manterão o Brasil Agro na frente. A questão dos acordos comerciais tem sido um ponto muito frágil nas perspectivas do setor. Daí a fundamental necessidade de união no sentido do fortalecimento da imagem setorial. Não há a menor necessidade de brigar por algo que somos muito fortes. Não adiantará termos alta tecnologia e expansão de oferta de produtos se os mercados estiveram fechados para o Brasil.

Revista Canavieiros: Sobre a questão ambiental, há necessidade de maior participação da iniciativa privada nos programas de proteção da Amazônia. Qual a sua opinião sobre isso e de que forma essa participação seria possível?

Carvalho: O setor privado vem se unindo (diversos setores além do agro) para apoiar o vice-presidente da República, Antônio Hamilton Martins Mourão, nas ações contra o desmatamento e incêndios ilegais, assim como para a confirmação dos títulos de terra aos produtores agrícolas daquela região. Essa participação se fará na forma das leis, seja pelos fundos de investimentos, por adotar os “parques” na nova legislação do governo atual e por tornar cada vez mais transparentes as notícias e os dados sobre a região.

Revista Canavieiros: O Código Florestal também é visto como uma ferramenta importante para a proteção do bioma Amazônia? O que falta para a aplicação da lei e quais os resultados que ela pode gerar no bioma Amazônia?

Carvalho: Trata-se da grande inovação mundial efetivada na lei conhecida como o Código Florestal, feita pelo Brasil. Estamos em fase de regulamentação e se nota claramente que maus perdedores têm colocado muitas dificuldades nisso. A região Amazônica precisa mudar seu foco extremamente intervencionista de governos locais e seguir a lei. Fazer isso não tem sido fácil, mas é preciso perseverar.