Um agro que progride e olha para o futuro com otimismo

01/09/2021 Noticias POR: FERNANDA CLARIANO

O 20º Congresso Brasileiro do Agronegócio reuniu grandes nomes do setor para falar de sustentabilidade e tecnologia

 

Com o tema “Nosso Carbono é Verde”, o 20º Congresso Brasileiro do Agronegócio, reali­zado no início do mês de agosto pela ABAG e a B3, mostrou que a atividade agrícola passa por uma série de transformações com exigências cada vez maio­res de sustentabilidade na produção e tem buscado aliar tecnologia e sustentabilidade para atender às demandas nacionais e globais de alimentos seguros e saudáveis.

Na abertura, o presidente do Conselho Diretor da ABAG, Marcello Brito, destacou que as emissões relativas ao evento e a todas as atividades da entidade foram mitiga­das. “No ano passado utilizamos os CBios e, neste ano, o carbono florestal de acordo com o tema do Congresso “Nosso Carbono é Verde”. Brito também comentou que o relatório de monitoramento de imagem do Brasil no exterior no primeiro semestre mostrou que começou um entendimento e reconhecimento por parte da mídia internacional da distância existente na vasta maioria da produção agrícola nacional da questão amazônica, fato não observado em relação à pecuária. “Contudo, a ima­gem negativa do país no exterior se consolida”. Sobre a questão do ESG ponderou qual será o papel do Brasil num mundo ESG em que o carbono passa a ser um inte­grante importante do capital que irriga os investimentos e as trocas comerciais. “Se o nosso carbono é verde, que usemos o nosso ativo agroambiental e a nossa inteligên­cia para amparados pela melhor ciência, pelos melhores técnicos e negociadores, pela melhor política, trabalhe­mos para recuperar nosso prestígio histórico, nossa ima­gem internacional e nosso protagonismo”.

Na oportunidade, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que a sustenta­bilidade tem guiado a agenda e as ações no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e ressaltou o potencial do país ser o principal fornecedor de alimen­tos de baixo carbono do planeta, bem como as priorida­des da pasta em avançar na efetiva implementação do Código Florestal, com a introdução de tecnologias de geoprocessamento e análises automatizadas do cadastro rural. “Essa legislação é fundamental para que o Bra­sil se torne líder da agenda global da sustentabilidade aliado ao agronegócio”, disse a ministra. Ela também acrescentou que o Plano Safra deste ano está mais ‘verde’, com a ampliação tanto do plano de agricultura de baixa emissão de carbono (o Plano ABC), como do financiamento para restauração florestal.

Energia limpa e sustentável

O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudan­ças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) foi criado em 2011. Seu modelo dinâmico serve de referência para as políticas públicas de sustentabilidade no setor agropecuário. Esse processo envolve novas tec­nologias e mutações nas regras formuladas pelos gover­nos e organismos internacionais.

Para a presidente-adjunta da Neoenergia, Solange Ribeiro, as soluções de energias renováveis baseadas na natureza dão grandes oportunidades ao Brasil, além disso, a busca pela produção com balanço zero de car­bono melhora o desempenho dos produtos e a imagem dos brasileiros. Ainda de acordo com a executiva, a prá­tica ESG muito antes de ser uma barreira, é uma oportu­nidade e a iniciativa privada tem papel de protagonismo, uma vez que a melhor forma de descarbonizar é eletrifi­cando a economia. E o Brasil tem uma grande vantagem por ter 80% de matriz renovável.

Já o presidente-executivo global da JBS, Gilberto Toma­zoni, enfatizou que as mudanças globais estão afetando coi­sas vitais e por isso são necessárias ações que propaguem a importância de uma economia de baixo carbono e da redução dos gases causadores do efeito estufa. Neste sentido, Toma­zoni informou que a JBS está investindo US$ 1 bilhão para zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2040. Inves­tirão também US$ 100 milhões em pesquisas e desenvolvi­mento de novas práticas necessárias para essas mudanças.

Brasil verde e competitivo

Voltados a projetos ambientais e climáticos, os títulos verdes representam recursos para explorar o gigantesco ativo agroam­biental do Brasil. As práticas ambientais, sociais e de gover­nança - as ESGs, vêm recebendo atenção do mercado finan­ceiro por estarem associadas a negócios sólidos, com menores riscos ligados ao clima e à sustentabilidade. E os investidores estão considerando cada vez mais o ESG para a tomada de suas decisões financeiras. O assunto foi tratado no segundo painel do Congresso.

O diretor de Produtos Balcão e Novos Negócios da B3, Fábio Zenaro, comentou o potencial da emissão de títulos com temá­tica ESG. Atualmente, são 24 debentures, 15 CRAs, 2 CRI e 4 cotas de fundos fechados, com valor de cerca de R$ 12 bilhões. Ele também disse que as empresas estão mais engajadas na temática ESG e que existe uma mudança de comportamento do investidor institucional e de pessoa física que, além da remu­neração, tem procurado propósito. Outro destaque foi a impor­tância de haver critérios e regras relevantes em relação ao ESG. Caso contrário, o cenário não se manterá ao longo do tempo.

Para a sócia da Mauá Capital, Carolina da Costa, é preciso esca­lar iniciativas que conciliam a produção agropecuária, produti­vidade, tecnologia e sustentabilidade. E, para isso, é necessário crédito, educação e assistência técnica. Desse modo, o grande desafio está na coordenação. “Nosso carbono não terá o desta­que e não desenvolverá seu potencial se não houver um projeto de produção, alinhado com investimento, educação e emba­sado em indicadores de verificação”, frisou. Para ela, trabalhar a integração das cadeias produtivas é outro fator importante para que todos os players entendam que essas tecnologias tra­zem outros benefícios, além da conservação ambiental, como produtividade, ganhos financeiros e de reputação.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, enfati­zou por sua vez a importância da realização da COP26 para a definição de ações concretas para alcançar as metas definidas para 2050, incluindo o valor do carbono, que hoje está em cerca de US$ 3 por tonelada e deveria estar em US$ 75 por tonelada.

O futuro do agro no comércio mundial

O Brasil crescerá como player agrícola na geopolítica glo­bal, essa tendência é apontada por estudos de entidades de renomes internacionais. “Esse novo mercado que está sendo desenvolvido é muito importante, e o país precisa de um pro­jeto estratégico para a participação nele. O desrespeito a essas exigências vira barreiras comerciais, que viram novas tarifas aos produtos no comércio mundial”, afirmou a diretora exe­cutiva da WRI Brasil, Elizabeth Farina. Ainda segundo ela, o mercado antes exigia quantidade de alimentos para que fosse garantida uma segurança alimentar no mundo. Mas novos componentes estão sendo incorporados nessa exigência, entre eles a qualidade e a sustentabilidade.

O presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, por sua vez, disse que o agronegócio brasileiro conseguirá superar os desafios impostos pelas mudanças do mercado internacional e pelo crescimento populacio­nal. Segundo ele “o país possui estratégias inovadoras e condições de atender a expansão mundial de consumo, visto o potencial em clima, solo e topografia”.

Homenagens

Prêmio Ney Bittencourt de Araújo – Personalidade do Agronegócio 2021

A homenagem que leva o nome do engenheiro agrô­nomo Ney Bittencourt de Araújo é um reconhecimento às personalidades do agronegócio brasileiro que tam­bém trilham o mesmo caminho vitorioso. Este ano, o prêmio Personalidade do Agronegócio Ney Bittencourt de Araújo foi concedido à ministra Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias.

“Recebo com gratidão esse prêmio que leva o nome do nosso eterno Ney Bittencourt de Araújo, que den­tre tantas contribuições para o agro brasileiro já pre­gava respeito ao meio ambiente, integração à economia internacional e que tinha o sonho de dominar a partir daqui do Brasil o conhecimento, o desenvolvimento da genética e da produção em todo o cinturão tropi­cal do planeta. Agradeço o carinho de todos e dedico essa homenagem aos produtores rurais brasileiros, os pequenos, médios e grandes. São eles que dia após dia carregam esse país, alimentam nossa população e fazem do nosso agro uma referência mundial. Viva o nosso agro, viva os produtores rurais, viva o Brasil”.

Prêmio Norman Borlaug de Sustentabilidade 2021

O engenheiro agrônomo Norman Borlaug transfor­mou-se em sinônimo de sustentabilidade. Receber uma homenagem com o seu nome significa ser reconhecido como alguém que contribuiu de maneira decisiva na luta por assegurar a todos o direito a uma alimentação segura e saudável. Este ano o homenageado com o Prê­mio Norman Borlaug é o engenheiro agrônomo Celso Moretti.

“Estou bastante emocionado, é uma honra incomensu­rável receber esse prêmio. A Revolução Verde liderada por Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz em 1970, trouxe tecnologia e possibilitou que povos em várias partes do mundo tivessem mais alimentos à mesa. A Embrapa vem se dedicando ao longo das últimas déca­das a desenvolver soluções para um agro mais susten­tável que possa auxiliar o produtor a enfrentar pragas e doenças, a conviver com a seca e a reduzir a depen­dência externa de fertilizantes do nosso Brasil. Dedico esse prêmio a cada um dos mais de oito mil colabo­radores da minha querida Embrapa, aos agricultores brasileiros e à minha família”.

Homenagem especial

O 20º Congresso Brasileiro do Agronegócio homena­geou o ex-ministro Alysson Paolinelli, indicado ao Nobel da Paz 2021, que agradeceu ressaltando o papel de toda a cadeia produtiva para essa transformação de um país importador de alimentos para o maior exporta­dor do mundo.

“Estou muito honrado com essa homenagem que recebo, quero agradecer a ABAG porque ela significa muito mim. Hoje somos sem dúvida a esperança de um mundo que quer ter a segurança alimentar para ter paz e harmo­nia, e isso é fundamental. Essa é uma responsabilidade muito grande e não podemos perder esse movimento de colocar o Brasil no primeiro lugar no mundo com a pro­dução de alimentos”.