Um duro golpe

22/02/2016 Açúcar POR: Archer Consulting
O mercado de açúcar em NY fechou a sexta-feira cotado a 12.52 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2016, uma dolorida queda de quase 14 dólares por tonelada na semana. A curva de preços de NY que até pouco tempo era invertida, agora está no carrego. Quando isso ocorre, os fundos liquidam suas posições compradas e ato contínuo passam e ficar vendidos. Será que isso vai ocorrer? O custo de carrego para alguns spreads já está acima de 8%. O mercado futuro sentiu o impacto de um físico sem nenhum vigor. 
Compradores vão empurrar com a barriga as compras para a última hora. O preço, cuja média foi de R$ 1.329 por tonelada FOB em janeiro, na sexta-feira encerrou a R$ 170 a menos. Um duro golpe.
Sazonalmente fevereiro é o mês do ano que apresenta o mais alto preço médio de fechamento das cotações do contrato futuro de açúcar em NY. Tem sido assim nos últimos dezesseis anos (de 2000 a 2015). Maio e junho, na posição oposta, dividem o posto do mais baixo preço médio do ano. No período analisado, em apenas 25% das vezes o preço médio de março superou o de fevereiro. Até o fechamento desta sexta-feira, o preço médio de fevereiro cravava 13.07 centavos de dólar por libra-peso uma queda 8.5% em relação ao preço médio de janeiro que foi de 14.29 centavos de dólar por libra-peso. Nosso modelo apontava uma recuperação dos preços nesse começo de 2016 atingindo o pico de 16.16 centavos de dólar por libra-peso. Os modelos falham, como se vê, e a lição que fica é aquela velha e surrada que diz que ninguém quebra com lucro no bolso. Os preços em reais por tonelada estavam tão atraentes que inúmeras vezes recomendamos aqui a fixação de preços para 2017/2018.
Coincidência? Segundo o analista Marcos Masagão, da Futures Analysis, o preço médio de compra dos fundos para o vencimento março estava em 13.07 centavos de dólar por libra-peso, exatamente o valor médio dos fechamentos deste mês.
A queda brusca do petróleo no mercado internacional provocou uma reação em cadeia nas commodities afetando a percepção que o mercado tem sobre a saúde financeira dos bancos europeus e asiáticos que possuem pesada exposição no mercado de energia. Quem investiu nesse setor amarga um prejuízo doloroso no acumulado do ano: a gasolina derreteu 25%, o gás natural despencou 22%, o petróleo WTI desabou 21%. Energia barata traz desconforto (para ser elegante) para as economias dependentes do petróleo (Venezuela, Rússia, por exemplo) e mais dinheiro no bolso das famílias nas economias fortes.
Paradoxalmente pensava-se (leia-se J.P.Morgan) que a queda no preço do petróleo teria o efeito de aumentar a renda das famílias trazendo um impulso de 0.7% no crescimento da economia. Erraram. Petróleo barato fez despencar em 50% o investimento privado no setor de energia nos Estados Unidos enquanto a renda amargou uma queda de 0.2%. Apenas quatro países possuem custo de produção abaixo de 30 dólares por barril: Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, embora o preço de equilíbrio que eles precisam para atender ao orçamento do país é acima disso. Há dois anos a Arábia Saudita achava que a queda do preço do petróleo iria eliminar seus concorrentes. Não poderia supor, no entanto, que o embargo dos Estados Unidos contra o Irã fosse suspenso. O mundo se viu inundado de petróleo. A origem dessa superprodução é lá em 2007/2008 quando o mundo acreditava que nunca mais veríamos petróleo abaixo de 100 dólares por barril. Hoje o mundo produz 96.3 milhões de barris por dia e consome apenas 94.5. Há alguns meses, a área de inteligência de um grande banco europeu previra que o preço médio do petróleo para 2016 50 dólares por barril e o açúcar 14.50 centavos de dólar por libra-peso.
A impressão que tenho, em relação ao mercado de açúcar, à luz do que ocorre com o cenário macro, poderia ser ilustrada da seguinte maneira. Imagine um tubo maleável cheio de água. Você vai pisando numa extremidade do enquanto a água se move na direção contrária se represando na outra extremidade do tubo. E pouco a pouco você caminha sobre ele e vai pressionando mais. Até o ponto em que o tubo não aguenta mais a pressão e vai estourar. Quem em sã consciência admitiria que um mercado que pela primeira vez em cinco anos apresenta um déficit extraordinário que alcança (dependendo da fonte) 7.8 milhões de toneladas poderia estar negociando nos níveis atuais?
Não recordo, no passado recente, uma situação tão divergente como essa que ocorre no mercado de açúcar. Aumento do déficit, estoque nas mãos de China e Índia, mas com pouca possibilidade concreta de que esse estoque vá para o mercado externo, produção de cana estagnada no Centro-Sul (veja nossa previsão adiante), consumo crescente dehidratado e ainda assim o mercado não reage. Pois é, o fator macro deixou de ser coadjuvante no mercado de açúcar (e consequentemente na formação de preço) e passa a ser protagonista. Falta de dinheiro novo para as tradings as torna mais restritivas e seletivas. Mercado físico de exportação modorrento diminui o fluxo de negócios, portanto é a mesma quantidade de caixa girando menos. Como as tradings ganham no giro, menor giro demanda margem de contribuição maior, dessa forma espera-se que as tradings procurem aumentar os descontos para a próxima safra. Enquanto isso, consumidores industriais que compram com base no índice ESALQ agora querem roer a corda e sentar para discutir uma flexibilização do contrato, se é que me entendem. Outros, reconhecem agora na carne o risco enorme que existe quando compra e venda são feitas em bases diferentes. Para quem vendeu baseado no índice ESALQ e tem o hedge em NY, está rindo à toa. Existem algumas estruturas que podem diminuir esses riscos. Estamos à disposição.
A estimativa de safra da Archer para o Centro-Sul é de 618.5 milhões de toneladas, sendo 34.35 milhões de toneladas de açúcar e 27.49 bilhões de litros de etanol. Estamos usando um mix de 43.5% para o açúcar. Acreditamos que a combinação de custo financeiro alto, a modorra do mercado físico de exportação, o aumento dos descontos (conforme mencionado no parágrafo anterior) e a sufocação do fluxo de caixa vão impelir as usinas a produzirem mais etanol no começo da safra do que se pensava, principalmente agora com os preços deprimidos. Podemos ter surpresas no mix desta safra.
O mercado de açúcar em NY fechou a sexta-feira cotado a 12.52 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2016, uma dolorida queda de quase 14 dólares por tonelada na semana. A curva de preços de NY que até pouco tempo era invertida, agora está no carrego. Quando isso ocorre, os fundos liquidam suas posições compradas e ato contínuo passam e ficar vendidos. Será que isso vai ocorrer? O custo de carrego para alguns spreads já está acima de 8%. O mercado futuro sentiu o impacto de um físico sem nenhum vigor. 
Compradores vão empurrar com a barriga as compras para a última hora. O preço, cuja média foi de R$ 1.329 por tonelada FOB em janeiro, na sexta-feira encerrou a R$ 170 a menos. Um duro golpe.
Sazonalmente fevereiro é o mês do ano que apresenta o mais alto preço médio de fechamento das cotações do contrato futuro de açúcar em NY. Tem sido assim nos últimos dezesseis anos (de 2000 a 2015). Maio e junho, na posição oposta, dividem o posto do mais baixo preço médio do ano. No período analisado, em apenas 25% das vezes o preço médio de março superou o de fevereiro. Até o fechamento desta sexta-feira, o preço médio de fevereiro cravava 13.07 centavos de dólar por libra-peso uma queda 8.5% em relação ao preço médio de janeiro que foi de 14.29 centavos de dólar por libra-peso. Nosso modelo apontava uma recuperação dos preços nesse começo de 2016 atingindo o pico de 16.16 centavos de dólar por libra-peso. Os modelos falham, como se vê, e a lição que fica é aquela velha e surrada que diz que ninguém quebra com lucro no bolso. Os preços em reais por tonelada estavam tão atraentes que inúmeras vezes recomendamos aqui a fixação de preços para 2017/2018.
Coincidência? Segundo o analista Marcos Masagão, da Futures Analysis, o preço médio de compra dos fundos para o vencimento março estava em 13.07 centavos de dólar por libra-peso, exatamente o valor médio dos fechamentos deste mês.
A queda brusca do petróleo no mercado internacional provocou uma reação em cadeia nas commodities afetando a percepção que o mercado tem sobre a saúde financeira dos bancos europeus e asiáticos que possuem pesada exposição no mercado de energia. Quem investiu nesse setor amarga um prejuízo doloroso no acumulado do ano: a gasolina derreteu 25%, o gás natural despencou 22%, o petróleo WTI desabou 21%. Energia barata traz desconforto (para ser elegante) para as economias dependentes do petróleo (Venezuela, Rússia, por exemplo) e mais dinheiro no bolso das famílias nas economias fortes.
Paradoxalmente pensava-se (leia-se J.P.Morgan) que a queda no preço do petróleo teria o efeito de aumentar a renda das famílias trazendo um impulso de 0.7% no crescimento da economia. Erraram. Petróleo barato fez despencar em 50% o investimento privado no setor de energia nos Estados Unidos enquanto a renda amargou uma queda de 0.2%. Apenas quatro países possuem custo de produção abaixo de 30 dólares por barril: Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, embora o preço de equilíbrio que eles precisam para atender ao orçamento do país é acima disso. Há dois anos a Arábia Saudita achava que a queda do preço do petróleo iria eliminar seus concorrentes. Não poderia supor, no entanto, que o embargo dos Estados Unidos contra o Irã fosse suspenso. O mundo se viu inundado de petróleo. A origem dessa superprodução é lá em 2007/2008 quando o mundo acreditava que nunca mais veríamos petróleo abaixo de 100 dólares por barril. Hoje o mundo produz 96.3 milhões de barris por dia e consome apenas 94.5. Há alguns meses, a área de inteligência de um grande banco europeu previra que o preço médio do petróleo para 2016 50 dólares por barril e o açúcar 14.50 centavos de dólar por libra-peso.
A impressão que tenho, em relação ao mercado de açúcar, à luz do que ocorre com o cenário macro, poderia ser ilustrada da seguinte maneira. Imagine um tubo maleável cheio de água. Você vai pisando numa extremidade do enquanto a água se move na direção contrária se represando na outra extremidade do tubo. E pouco a pouco você caminha sobre ele e vai pressionando mais. Até o ponto em que o tubo não aguenta mais a pressão e vai estourar. Quem em sã consciência admitiria que um mercado que pela primeira vez em cinco anos apresenta um déficit extraordinário que alcança (dependendo da fonte) 7.8 milhões de toneladas poderia estar negociando nos níveis atuais?
Não recordo, no passado recente, uma situação tão divergente como essa que ocorre no mercado de açúcar. Aumento do déficit, estoque nas mãos de China e Índia, mas com pouca possibilidade concreta de que esse estoque vá para o mercado externo, produção de cana estagnada no Centro-Sul (veja nossa previsão adiante), consumo crescente dehidratado e ainda assim o mercado não reage. Pois é, o fator macro deixou de ser coadjuvante no mercado de açúcar (e consequentemente na formação de preço) e passa a ser protagonista. Falta de dinheiro novo para as tradings as torna mais restritivas e seletivas. Mercado físico de exportação modorrento diminui o fluxo de negócios, portanto é a mesma quantidade de caixa girando menos. Como as tradings ganham no giro, menor giro demanda margem de contribuição maior, dessa forma espera-se que as tradings procurem aumentar os descontos para a próxima safra. Enquanto isso, consumidores industriais que compram com base no índice ESALQ agora querem roer a corda e sentar para discutir uma flexibilização do contrato, se é que me entendem. Outros, reconhecem agora na carne o risco enorme que existe quando compra e venda são feitas em bases diferentes. Para quem vendeu baseado no índice ESALQ e tem o hedge em NY, está rindo à toa. Existem algumas estruturas que podem diminuir esses riscos. Estamos à disposição.
A estimativa de safra da Archer para o Centro-Sul é de 618.5 milhões de toneladas, sendo 34.35 milhões de toneladas de açúcar e 27.49 bilhões de litros de etanol. Estamos usando um mix de 43.5% para o açúcar. Acreditamos que a combinação de custo financeiro alto, a modorra do mercado físico de exportação, o aumento dos descontos (conforme mencionado no parágrafo anterior) e a sufocação do fluxo de caixa vão impelir as usinas a produzirem mais etanol no começo da safra do que se pensava, principalmente agora com os preços deprimidos. Podemos ter surpresas no mix desta safra.

Arnaldo Luiz Corrêa - diretor da Archer Consulting