Um olhar para o futuro

16/11/2021 Noticias POR: FERNANDA CLARIANO

Os desafios e caminhos que o Brasil deve trilhar para ter uma agricultura mais sustentável e de destaque foram discutidos na 10ª edição do Lide Agronegócios

 

A 10ª edição do Fórum LIDE Agronegócios aconteceu de forma híbrida, no dia 23 setembro, com a participação de líderes empresariais, pesquisadores, investidores e autoridades públicas para debater soluções para o desenvolvimento nacional do setor. Dentre os temas, a imagem do Brasil no cenário global, as inovações tecnológicas e sustentáveis com foco em ESG e a evolução da agricultura sustentável no país. Na abertura, a presidente do LIDE Agronegócios, Monika Bergamaschi, destacou que mesmo vindo de um período de pandemia o agronegócio teve um desempenho extraordinário, mostrando maturidade, cumprindo os seus contratos e desenvolvendo protocolos sanitários importantíssimos, mas ressaltou “Se quisermos continuar crescendo precisamos tratar muito bem das questões internacionais, da nossa imagem e desenvolver as tecnologias para que tenhamos respostas pra dar àqueles que são os nossos principais mercados
de destino”.

Já o Chairman do LIDE, Luiz Fernando Furlan, por sua vez chamou a atenção para a evolução no agro nos últimos 10 anos. “É algo extraordinário, nenhum país do mundo teve uma evolução como a nossa tão rápida e consistente”. O embaixador do Brasil na Índia, André Corrêa do Lago,  se fez presente de forma virtual e na ocasião falou sobre oportunidades. “Devemos desenvolver uma agenda entre Brasil e Índia. Essa aproximação não é só uma oportunidade extraordinária para o Brasil, mas também algo que vai nos fortalecer como um parceiro único de um país essencial para as próximas décadas”. Lago também ressaltou que o mercado indiano pode apresentar oportunidades para o Brasil em proteína vegetal e leguminosas. “Em 2021, o país se tornou o maior importador de maçã do Brasil. Há oportunidades para exportação de tecnologia, cooperação internacional e de muitas outras coisas que podemos produzir para a Índia”. Ele ainda acrescentou outro ponto importante que é o fortalecimento de programa de etanol indiano, com a mistura de 10% de etanol à gasolina. “O etanol reúne as agendas de energia, agricultura e clima, sendo um ponto essencial para a nossa política bilateral”.


Lago: “O etanol reúne as agendas de energia, agricultura e clima, sendo um ponto essencial para a nossa política bilateral”

 

Imagem do Brasil no cenário global

Estudioso das questões internacionais, das negociações e sabe como poucos o quanto é complicado e importante que tenhamos nossa imagem menos arranhada possível para facilitar negociações, o professor-sênior de Agronegócio Global do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa),  Marcos Jank, tem defendido muito a questão de futuro, o novo superciclo, o boom de commodities mesmo durante a pandemia e as grandes expectativas para o futuro. Em sua apresentação, ele lembrou que a COP 26 será relevante, pois os grandes países do mundo estarão alinhados pressionando por metas ambientais. “Não sabemos o que será levado pelo Brasil. 73% das emissões vêm de transporte e energia, e o Brasil tem a solução comprovada, mas seremos fortemente atacados pelo lado das emissões da agricultura e pelo desmatamento. O agro tem um lado de solução maravilhoso, várias ações que buscam a sustentabilidade. O assunto mais falado sobre o Brasil é a Amazônia e temos que resolver isso. A comunicação internacional tem que ser feita e deve haver uma coordenação para isso. Temos que nos organizar melhor na divulgação de trabalhos científicos, propagar esses


Jank: “É fenomenal o crescimento que a agricultura pode ter sobre o pasto”

 

Jank também comentou que hoje mais do que samba e futebol, o assunto mais falado de Brasil no mundo é a Amazônia. “Cabe aos brasileiros cuidarem de resolver problema que é nacional, problema de comando e controle, de realização fundiária, e de implantação do código florestal. Infelizmente aí está faltando uma liderança mais forte do governo de um lado e do outro lado participação mais intensa do setor privado nesse processo”. Ele falou ainda da importância da integração lavoura pecuária. “Em que local do mundo pode ocupar o pasto como estamos ocupando? Temos 175 milhões de hectares de pasto, 80 milhões de hectares de agricultura e já temos hoje 17 milhões de hectares de integração lavoura pecuária e vamos chegar a 50 milhões de hectares. É fenomenal o crescimento que a agricultura pode ter sobre o pasto. Eu acho que a grande revolução dessa década vai ser pasto e boi, pecuária em geral, como foi no passado soja, milho, algodão e cana-de-açúcar”.

Já o ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, observou que o Brasil é um país em litígio com o mundo. “Nossa política externa não é de Estado e sim ideológica. Estão criando conflitos com os chineses, nossos maiores parceiros comerciais, e é paradoxo porque enquanto se cria o conflito aumenta a nossa dependência das importações chinesas ou das exportações para a China. Temo é que essa imagem possa comprometer interesses nacionais legítimos e o Brasil precisa recuperar a sua tradição diplomática. Sou otimista e isso é uma síncope brasileira. A tradição diplomática haverá de ser recuperada”, argumentou.


Rebelo: “O poder suave do Brasil sempre foi sua imagem, a sua diplomacia respeitada”

 

Inovações tecnológicas e sustentáveis

No painel que abordou as Inovações Tecnológicas e Sustentáveis, o pesquisador da Embrapa Agroenergia, Maurício Lopes, em sua fala destacou a tecnologia e a evolução das métricas para a sustentabilidade utilizadas pelos consumidores, fornecedores e outros integrantes da cadeia do agro. “Entendo a sustentabilidade como um processo de reconciliação entre os sistemas humanos e a natureza. A maior força motriz para a sustentabilidade é a Agenda 2030 da ONU, que tem capacidade para mobilizar e convencer as pessoas de que é possível prosperidade econômica com desenvolvimento sustentável. Desde que a agenda de sustentabilidade ganhou força no mundo, partimos para a agricultura sistêmica e multifuncional. Precisamos entregar valor e não apenas produtos”, disse.

Para Daniel Vargas, professor da FGV/EESP e diretor de Pesquisa do FGV Agro, as vulnerabilidades do agronegócio vão além de clima, preço e mercado e também afirmou que o Brasil precisa se estruturar em sua retaguarda com ciência e definir como irá se organizar para o seu protocolo de carbono. “Quem ganha é quem apresenta proposta com mais informação e organização. Precisamos aprender a olhar para essas métricas como prioridade científica e política”.


Lopes: “Precisamos entregar valor e não apenas produtos”

 

Evolução da agricultura sustentável

No último painel do Fórum, o diretor-técnico da CNA, Bruno Lucchi, fez uma síntese consistente sobre o crescimento do agro brasileiro mostrando algumas características fundamentais que nos trouxeram até hoje – tecnologia, crédito rural, assistência técnica e o empreendedorismo do produtor rural brasileiro. Na oportunidade mencionou também os desafios que temos pela frente, sobretudo na área de comunicação. “Vamos continuar produzindo de forma sustentável, estamos emitindo Green Bonds no setor, o bioinsumos é um mercado que está se consolidando no Brasil, além da conectividade e irrigação. Estamos avançando”, afirmou.

A 10ª edição do Fórum LIDE Agronegócios rendeu homenagens ao candidato ao Prêmio Nobel da Paz em 2021, Alysson Paolinelli, que liderou a agricultura brasileira e realizou a maior revolução agrícola tropical da história do país. A chamada Revolução Verde fez do Brasil um dos maiores produtores mundiais de alimentos, modernizou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), promoveu a ocupação econômica do Cerrado brasileiro, reestruturou o crédito agrícola e reequacionou a ocupação do bioma amazônico, entre outras ações.
“Agradeço a iniciativa do Lide Agronegócio pela lembrança de um grande esforço que foi feito não por mim, mas uma geração eu sou fruto de amigos, companheiros que nos enrolamos numa bandeira chamada Brasil. Esses amigos não me deixaram isolado na estrada, sempre me empurraram, me mostraram o caminho. Me corrigiram quando necessário, nos ajudando a plantar uma semente que nos orgulha. Acreditei e acredito na ciência, fizemos juntos uma revolução profunda em termos de inovação. Ainda temos muito a fazer e a ciência vai continuar a ser base do desenvolvimento da humanidade, principalmente se pudermos direcioná-la não na construção de armas bélicas, mas daquilo que o homem precisa que é o alimento”.


Da esquerda para a direita, Roberto Rodrigues, Alysson Paolinelli e Luiz Fernando Furlan