Uma análise recorrente, no Brasil, diz respeito à diminuição de forma rápida da sua população rural, desde a década de 1960. Estima-se que o fluxo de migrantes, na maior parte em direção ao sudeste, tenha sido de 27 milhões de pessoas. O pico desse processo ocorreu até final dos anos noventa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000 a 2010, os brasileiros que viviam nas cidades passaram de 81,2% para 84,3%. Pelo censo formal, o contingente rural seria agora de apenas 15%, correspondente a quase 30 milhões habitantes.
Mas, como falta uma boa dose de consenso na definição sobre o espaço rural e urbano no Brasil, os questionamentos são frequentes. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por exemplo, aponta a vigência de uma legislação antiga (Decreto-lei 311 de 1938), cada vez mais desatualizada da realidade, com falta de precisão na delimitação das linhas de perímetro urbano dos municípios. As distorções do ponto de vista territorial, além de crescentes, ficaram mais evidentes.
Há, portanto, uma clara falta de padrão para definir o morador de uma cidade com uma economia e características predominantemente agrícolas. Essa análise fica mais complicada quando não se constata a existência de uma infraestrutura suficiente para a comunidade ser considerada efetivamente urbana. Para sentirmos o tamanho do problema, no censo do IBGE de 2000, aproximadamente 4 mil municípios e pouco abaixo de 90% do total não tinham mais de 20 mil habitantes, com grande parte da população ocupada na atividade agropecuária.
De acordo com a metodologia empregada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Ipea mostra que, da população brasileira, 39% seriam rurais, 45% urbanos e 16% em situação intermediária. Com a falta de critério para distinguir quem mora no perímetro das grandes regiões metropolitanas e nos municípios menores, o estudo coloca em dúvida a intensidade da urbanização nacional.
Se, por um lado, isso merece uma reflexão das políticas públicas aplicadas no Brasil, por outro, remete-nos a uma avaliação mais consistente sobre as eleições. O peso das atividades de produções, serviços e industriais ligadas a agropecuária, que representam o agronegócio na economia do País, estão presentes nos 5.570 municípios compilados pelo IBGE, no início deste ano, espalhados nos quatro cantos do país.
As várias manifestações nas ruas deflagradas não apenas nas grandes cidades brasileiras demonstram as insatisfações com as administrações públicas, por estas desagradarem grande parte da sociedade. Aliás, deve-se salientar que, há muito tempo, não se via tanto a corrente de preconceito sobre o agronegócio, com interpretações equivocadas sobre o seu conceito. Essa simples constatação coloca na berlinda os erros e acertos das políticas públicas aplicadas nesse setor, cujo enorme potencial de votos merece uma postura crítica e atenciosa dos candidatos. Certamente, por isso, movimentos da "situação" tentarão atraí-lo, com forte posicionamento da "oposição" desde já.
Enquanto o Mato Grosso, estado campeão nacional da produção de grãos, quebra uma série de recordes, a falta de planos de governo sobre os investimentos em infraestrutura e logística aperta a margem do negócio. Por outro lado, São Paulo, estado campeão na produção de bioenergia renovável, assiste ao dramático aumento dos endividamentos das empresas e ao fechamento de dezenas de indústrias. As autoridades governamentais acusam a falta de produtividade da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, mas insistem com subsídios à gasolina. Cria-se uma ficção cujo roteiro é o de um filme de terror.
Esse é um ano eleitoral em que as populações com atividades ligadas diretamente ou indiretamente ao campo poderão mostrar nas urnas o seu grau de descontentamento ou não, com o seu peso real que o Ipea mostrou. Sobra, portanto, um grande viva à democracia! (Luiz Carlos Corrêa Carvalho é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)).
Uma análise recorrente, no Brasil, diz respeito à diminuição de forma rápida da sua população rural, desde a década de 1960. Estima-se que o fluxo de migrantes, na maior parte em direção ao sudeste, tenha sido de 27 milhões de pessoas. O pico desse processo ocorreu até final dos anos noventa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000 a 2010, os brasileiros que viviam nas cidades passaram de 81,2% para 84,3%. Pelo censo formal, o contingente rural seria agora de apenas 15%, correspondente a quase 30 milhões habitantes.
Mas, como falta uma boa dose de consenso na definição sobre o espaço rural e urbano no Brasil, os questionamentos são frequentes. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por exemplo, aponta a vigência de uma legislação antiga (Decreto-lei 311 de 1938), cada vez mais desatualizada da realidade, com falta de precisão na delimitação das linhas de perímetro urbano dos municípios. As distorções do ponto de vista territorial, além de crescentes, ficaram mais evidentes.
Há, portanto, uma clara falta de padrão para definir o morador de uma cidade com uma economia e características predominantemente agrícolas. Essa análise fica mais complicada quando não se constata a existência de uma infraestrutura suficiente para a comunidade ser considerada efetivamente urbana. Para sentirmos o tamanho do problema, no censo do IBGE de 2000, aproximadamente 4 mil municípios e pouco abaixo de 90% do total não tinham mais de 20 mil habitantes, com grande parte da população ocupada na atividade agropecuária.
De acordo com a metodologia empregada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Ipea mostra que, da população brasileira, 39% seriam rurais, 45% urbanos e 16% em situação intermediária. Com a falta de critério para distinguir quem mora no perímetro das grandes regiões metropolitanas e nos municípios menores, o estudo coloca em dúvida a intensidade da urbanização nacional.
Se, por um lado, isso merece uma reflexão das políticas públicas aplicadas no Brasil, por outro, remete-nos a uma avaliação mais consistente sobre as eleições. O peso das atividades de produções, serviços e industriais ligadas a agropecuária, que representam o agronegócio na economia do País, estão presentes nos 5.570 municípios compilados pelo IBGE, no início deste ano, espalhados nos quatro cantos do país.
As várias manifestações nas ruas deflagradas não apenas nas grandes cidades brasileiras demonstram as insatisfações com as administrações públicas, por estas desagradarem grande parte da sociedade. Aliás, deve-se salientar que, há muito tempo, não se via tanto a corrente de preconceito sobre o agronegócio, com interpretações equivocadas sobre o seu conceito. Essa simples constatação coloca na berlinda os erros e acertos das políticas públicas aplicadas nesse setor, cujo enorme potencial de votos merece uma postura crítica e atenciosa dos candidatos. Certamente, por isso, movimentos da "situação" tentarão atraí-lo, com forte posicionamento da "oposição" desde já.
Enquanto o Mato Grosso, estado campeão nacional da produção de grãos, quebra uma série de recordes, a falta de planos de governo sobre os investimentos em infraestrutura e logística aperta a margem do negócio. Por outro lado, São Paulo, estado campeão na produção de bioenergia renovável, assiste ao dramático aumento dos endividamentos das empresas e ao fechamento de dezenas de indústrias. As autoridades governamentais acusam a falta de produtividade da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, mas insistem com subsídios à gasolina. Cria-se uma ficção cujo roteiro é o de um filme de terror.
Esse é um ano eleitoral em que as populações com atividades ligadas diretamente ou indiretamente ao campo poderão mostrar nas urnas o seu grau de descontentamento ou não, com o seu peso real que o Ipea mostrou. Sobra, portanto, um grande viva à democracia! (Luiz Carlos Corrêa Carvalho é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)).