Um passo gigantesco
06/02/2019
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
Duas características do DNA da cooperativa talvez possam traduzir, em termos de negócios, porque ela é uma organização que vem em constante crescimento, ignorando crises terríveis e forte concorrência nos diversos cenários econômicos que atua.
A primeira delas é a sua capacidade de ler tendências de mercado, ou seja, desenvolver negócios que vão de encontro com a necessidade de seus mais variados públicos. Exemplos disso não faltam.
Pode-se falar do Projeto Amendoim, onde através de uma leitura muito sábia da dinâmica de mercado, se encontrou uma janela de oportunidade extremamente atraente (clientes que buscam um produto de alta qualidade) e que casava com a expertise de produtores especialistas na cultura.
Outra mostra dessa vocação é o investimento constante na eficiência logística dentro do fornecimento de insumos no campo. Nessa área pipocam exemplos muito bem-sucedidos que vão desde a aplicação do calcário, passando pela concentração das vendas em uma feira (com o objetivo de conseguir preços mais atraentes) cuja a data foi cirurgicamente escolhida (final do primeiro semestre, quando a indústria precisa cumprir metas e dar vazão ao seu estoque).
Há também o investimento constante em armazenagem de produtos. Além de possuir um dos depósitos mais modernos do Brasil, a cooperativa vem com um trabalho forte de construção e ampliação de armazéns em suas filiais, isso para ter cada vez mais o poder da pronta-entrega.
As operações de varejo também herdaram essa vocação. A rede de postos com bandeira própria (fato raro entre as cooperativas) tem no etanol seu carro chefe e combustível mais valorizado, o que é um caso de sucesso. Basta reparar no comportamento de propaganda dos outros atores de mercado, que sempre focam na gasolina.
O segundo código do seu DNA vencedor é sua seriedade e firmeza. A Copercana não entra em um ringue para perder e assim como um lutador campeão, ela estuda muito bem cada adversário que irá enfrentar (novas atividades e mercados) e se prepara para seus melhores golpes (problemas que sempre aparecerão). Para quem não conhece a cooperativa, às vezes pode confundir essa característica com falta de agressividade de mercado, mas, em uma luta, a melhor estratégia é levar até o último round e ganhar por pontos do que partir para um nocaute logo no início.
Essa extensa introdução é para dizer que embora a Copercana atue há algum tempo recebendo e comercializando soja, a partir deste ano ela decidiu entrar de maneira forte nesse mundo porque decifrou uma verdadeira cortina de indicadores, que vai desde a vocação do Brasil em alimentar a crescente população mundial até o aperfeiçoamento de como é feito o manejo da cultura (através da consolidação e evolução constante do melhoramento genético das sementes). Resumindo: é um passo gigantesco para a cultura, para a cooperativa e para os cooperados.
Do lado da cooperativa foi feita a união e, com isso, a criação de força através da sinergia da experiência mais do que bem-sucedida com a operação de amendoim, com a rede de atendimento e logística do departamento de insumos e toda solidez e seriedade do setor financeiro.
Estrutura mais que duplicada
O fato que mostra a movimentação da cooperativa nesse sentido é o início da operação de recebimento e estocagem do grão em uma segunda unidade, localizada em Guaíra-SP.
Antes da ampliação, o recebimento era feito somente na unidade de Sertãozinho, que com duas moegas tem capacidade para 80 toneladas/hora e armazenagem estática de 24 mil toneladas. A unidade de Guaíra poderá receber em suas seis moegas 120 toneladas/hora e estocar de uma só vez 42 mil toneladas.
Simplificando, a partir dessa safra a Copercana ampliou sua capacidade de recebimento em 150% e de armazenagem em 175%.
Segundo o gerente da Unidade de Grãos da Copercana, Augusto César Strini Paixão, quanto maior a capacidade de armazenamento de grãos maior será o poder de negociação perante as empresas compradoras. “A soja é totalmente diferente do amendoim, não há a questão da diferenciação perante a qualidade, é uma commodity, sendo assim o seu preço sempre será baseado em diversos fatores relacionados à macroeconomia e sofre bastante influência na quantidade que você tem para vender em decorrência da época do ano”.
Um ponto importante com relação à nova unidade é que o investimento não foi apenas para iniciar a operação. Pensando em modernizar a estrutura foram instalados sensores para automatizar o processo de ventilação da soja dentro do silo, que lá tem a forma peculiar de cúpula, fazendo com que o produto estocado sempre mantenha a temperatura ideal. Ainda pensando na conservação, foram reformados todos os ventiladores da estrutura antiga e mais dois equipamentos foram instalados.
O maior destaque na reforma da estrutura com certeza é a instalação de um secador com capacidade de processar 80 toneladas por hora. Com isso, a operação terá sua velocidade de recebimento praticamente triplicada, o que significa menos fila, que é igual a eficiência logística, gerando para o produtor parceiro uma colheita mais ágil.
Por que Guaíra
Para quem não conhece o perfil agrícola de toda a região de abrangência da Copercana talvez não entenda o porquê da escolha da cidade de Guaíra para a implementação da segunda unidade de recebimento de soja.
O primeiro motivo da escolha é o logístico. Embora não tenha nenhuma rodovia importante passando por ela, sua localização fica no meio de duas importantes estradas, a Brigadeiro Faria Lima, quando ela é acessada a partir de Barretos, e a Anhanguera, que está ligada ao seu trecho que passa por Orlândia e São Joaquim da Barra.
Diante dessa localização, vários produtores da região conseguem acessar o novo silo da Copercana eliminando o custo de pedágio. Essa é uma vantagem para quem planta em Miguelópolis, Ituverava, Buritizal, Aramina, Igarapava, Guará, São Joaquim da Barra, Ipuã, Orlândia, Morro Agudo, Viradouro, Terra Roxa, Jaborandi, Colina, Barretos, Colômbia, Bebedouro, Olímpia, Severínia, Monte Azul Paulista e outras.
Porém, o segundo fator já eliminaria a questão logística porque Guaíra possui em sua faixa agrícola uma extensa área com o plantio de soja. Segundo o gerente da unidade de grãos, José Francisco Corrêa de Oliveira, a cidade possui famílias de sojicultores que estão hoje na terceira geração. “A soja veio antes da cana para o município e perante toda essa tradição foi desenvolvido um conhecimento e infraestrutura muito forte, tanto é que ele é um dos principais produtores da cultura no estado de São Paulo”.
Lá se encontram lavouras na rotação de cultura com a cana (que ocupa aproximadamente 55 mil hectares) que serve de matéria-prima para as três unidades industriais que o município abriga (a Mandu, da Tereos, a Colorado e a Guaíra), e a cultivada em sequeiro (com uma área um pouco maior que 10 mil hectares), onde posteriormente é feito o milho safrinha ou sorgo.
O curioso fica para os quase 20 mil hectares restantes que recebem soja como cultura de verão cultivada em área de pivot. Nesse ponto, é válido dizer que antes da ida do grão para o Centro-Oeste, Guaíra já foi a cidade mais irrigada do Brasil.
Para quem tiver curiosidade, vale a pena entrar no Google Maps ou Earth e ver a quantidade de plantação em círculos existente em volta da cidade. Outro ponto que chama a atenção é que essa prática não foi disseminada para as cidades vizinhas, talvez devido às características geográficas privilegiadas.
A primeira questão é relacionada à água. Pela cidade passam três importantes rios: fazendo a divisa com Minas Gerais está localizado o Rio Grande. Ela também é vizinha de Miguelópolis, onde há uma importante represa. Além disso, em seu território ainda deságuam no Grande dois importantes rios do estado, o Pardo e o Sapucaí.
O segundo motivo está relacionado ao seu relevo que é bastante plano, e o terceiro está ligado ao fato da cidade ter recebido muitos colonos japoneses em sua formação, povo que contribuiu de maneira fundamental para a agricultura nacional quando chegou trazendo na bagagem seu conhecimento milenar em como manejar a água em um ambiente agrícola.
E os produtores da cidade sabem tomar proveito de seus recursos, tanto é que segundo os dados do último censo agropecuário, feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre as 100 cidades com maior vocação no campo, Guaíra foi a que teve maior crescimento no PIB agrícola, ampliando seus rendimentos em mais de 52%.
Claro que as duas culturas principais (cana e soja) contribuíram e muito para esse desenvolvimento. No entanto, a produção não para por aí e diante dessa considerável área irrigada, os produtores chegam a fazer mais duas safras irrigadas.
Depois que a soja é colhida, pode ser cultivado o milho verde (a cidade detém o título de maior produtora do Brasil), milho doce (que vai para as conservas em lata), campo de semente de milho, feijão e tomate - culturas que se intercalam em uma segunda e terceira época.
Segundo o engenheiro agrônomo da filial da Copercana de Guaíra, Gustavo Augusto Zemi Santana, o agricultor que trabalha com pivot tem a mente bastante aberta para inserir novas culturas. “Têm áreas que estão cultivando grama irrigada e também fiquei sabendo que deverá ser plantado pouco mais de 100 hectares de algodão agora em 2019”, disse.
O projeto soja
Como dito no início da reportagem, a Copercana não entra em uma briga para perder e, no caso da soja, ela não investiria na ampliação de sua estrutura sem o desenvolvimento de uma base que sustentasse as necessidades de negócios de seus produtores parceiros.
Para sua adesão, em primeiro lugar o agricultor precisa ser cooperado. O segundo passo é apresentar a área total que ele pretende cultivar. Nessa fase, caso ele seja arrendatário da terra, é preciso apresentar o contrato. Após, é feita uma análise financeira e então está apto para iniciar o projeto.
Seu escopo de serviço pode ser dividido em três grandes partes: custeio, assistência técnica e comercialização. Na primeira são levantados previamente, já com o apoio do departamento técnico da unidade de grãos, todos os insumos que o produtor demandará (essa relação vai desde o calcário e gesso, passando pelas sementes até os fungicidas e outros defensivos).
Também é calculado o chamado custeio de safra, que é a relação do montante de recursos necessários para tocar todo o ciclo (preparação do solo, plantio, tratos, colheita e entrega). Com todos esses custos levantados, o montante é liberado.
Caso tenha a necessidade de investimento em alguma máquina ou implemento comercializado pela Copercana, o produtor poderá colocar o valor em uma tabela à parte, onde mediante análise, conseguirá formas de pagamento (juros e prazo) muito competitivas em relação ao que se é praticado no mercado.
A data limite para pagamento tanto dos defensivos como do custeio é sempre no mês de junho depois da entrega do grão. Nesse ponto está uma das maiores vantagens para produtor que faz parte do projeto. Como já tem organizado todo o seu plano de plantio e colheita no momento que são elaboradas as planilhas (geralmente no meio do ano), a cooperativa consegue travar o valor de seus defensivos justamente na época do ano que consegue fazer os preços mais atrativos, quando acontece a “Agronegócios Copercana”.
Entendeu a mágica? O produtor paga o preço de um ano atrás com desconto. Lógico que em cima do valor têm juros, mas as taxas são muito parecidas com o crédito agrícola. No entanto, ele pode quitar sua dívida no momento que entrega sua soja, pois já recebe por ela e com isso seu montante é amortizado.
Resolvido o problema de planejamento e financiamento, nas primeiras trovoadas a partir da segunda quinzena de setembro é hora de botar a mão na massa. Na hora que começa o jogo todo agricultor sabe que a presença de um agrônomo especialista na cultura faz toda a diferença.
Para atender a essa demanda, fundamental para culturas de ciclo curto, a Unidade de Grãos da cooperativa tem um time de profissionais com larga experiência na matéria. Liderado pelos engenheiros agrônomos Edgard Matrângolo Júnior e Thiago Zarinello, o departamento técnico ainda faz uso de toda a estrutura de laboratórios e convênios com universidades para levar a melhor solução desde o preparo do solo até a colheita.
“O participante do projeto tem o atendimento técnico constante. Em primeiro lugar no apoio para o desenvolvimento de suas tabelas de custeio, depois fazemos a análise de solo, recomendamos as melhores variedades para aquele determinado ambiente, monitoramos infestações de pragas, doenças e plantas daninhas, assessoramos para a escolha da melhor época de colheita e ainda monitoramos o processo de entrega dos grãos”, explica Thiago Zarinello.
“O formato do Projeto Soja foi feito a partir do sucesso que é o de amendoim, e sabemos que um dos fatores principais para evoluirmos é na forma atenciosa que atendemos os participantes, maneira de trabalhar que carregamos para a soja e com certeza acarretará na mesma satisfação”, disse Junior.
Para fechar as três grandes áreas de assistência da cooperativa aos produtores do projeto, há a parte da comercialização. No momento da compra da soja, a Copercana atua de duas maneiras distintas. A primeira é através do contrato futuro, prática adotada a partir dessa safra e que consiste no travamento do preço antes da colheita. “Muitos agricultores preferem negociar o valor de parte de sua soja ainda no momento de seu cultivo, pois com isso conseguem garantir um valor mínimo que pague pelo menos o seu custeio”, comenta Paixão.
No segundo modo, a soja é depositada nas unidades da Copercana podendo ser comercializada na época que o produtor quiser através do preço referente ao valor do dia que ela é vendida, uma forma mais arriscada sob o ponto de vista de preço, porém também como todo o risco, a possibilidade de uma remuneração maior existe, é entrar no jogo da commodity.
A partir do momento que o produto entra nos silos da cooperativa, somente ela tem o direito de negociá-lo. Essa exclusividade é importante para a sustentabilidade e ampliação da infraestrutura do negócio, pois quanto maior o volume, maior o poder de negociação.
Soja canavieira
Ao optar pelo cultivo da soja em rotação de cultura com cana é preciso repetir um mantra: Velocidade, velocidade, velocidade...
E o avanço genético e de maquinário hoje está consolidado para dar ao produtor as condições de se ter um ciclo cada vez menor.
É nítido que o objetivo primordial dessa busca está ligado à necessidade de se deixar a área livre o quanto antes para não prejudicar o cronograma do plantio canavieiro. Porém, a instabilidade climática dos últimos anos e o fato da soja ser bastante sensível as condições extremas (veranicos ou chuvas muito pesadas) também são fatores cada vez mais considerados.
Perante esse cenário, o cultivo da “soja canavieira” vem ganhando peculiaridades técnicas em seu manejo, como é o caso do produtor Antonio Tittoto, sediado em Serrana, que se preocupa com esse fator desde a semente, onde desenvolveu uma estrutura própria de fabricação.
Ele conta que antes mesmo de colher o grão do campo de sementes faz a análise para checar se elas estão com os níveis ideais relacionados à umidade e contaminantes. Após a colheita, o material passa por um processo de beneficiamento e, posteriormente, é separado e dividido em lotes antes de ir para uma câmara fria, onde ficará armazenado por cerca de oito meses em uma temperatura que varia de 10 a 12 graus.
Próximo do início do plantio elas passam por uma bateria de testes, são feitos 16 (quatro vezes em quatro laboratórios diferentes) para checar a germinação, vigor, danos mecânicos, anormalidades e outros problemas que o estudo à base de tetrazólio pode apresentar. “Eu preciso ter tranquilidade de que a minha semente vai funcionar”, afirma Tittoto.
No momento do plantio, dois itens demandam a atenção do produtor em relação à velocidade. O primeiro é ao maquinário e o segundo está ligado à uniformidade com que as sementes são depositadas no solo.
Em relação ao plantel de máquinas, aqui precisa funcionar diferente do que acontece nas grandes áreas da cultura no país (localizadas do Centro-Oeste) onde, por exemplo, o período de plantio vai de outubro a dezembro. Segundo Tittoto, em sua lavoura, ele trabalha para plantar tudo em no máximo 30 dias. “O meu calendário é do dia 20 de outubro até 20 de novembro. Diante dessa janela curta, a mesma área que o pessoal do Mato Grosso usa uma plantadeira, aqui precisam ser duas”.
Quando observado o solo ideal para receber as sementes, o produtor fala que trabalha com duas realidades distintas. A primeira são terras que recebe já preparadas de uma usina parceira, as quais vêm com o eliminador de soqueira passado, fazem a subsolagem e incorporam os insumos (calcário, fosfato, torta de filtro, entre outros), deixando-a já pronta para a soja entrar.
O segundo ambiente de trabalho são as terras de reforma de seu canavial, que pode ser considerado como um plantio semidireto, o qual consiste na retirada de metade da palha da cana, joga calcário e gesso conforme a análise de solo indica e faz um tampão de fósforo. Para incorporar, ele faz uma grade intermediária e deixa a terra descansar para ver se brota alguma cana antes de entrar plantando.
Quando questionado o porquê tirar e incorporar a parte da palha que fica, Tittoto fala que abre mão da umidade maior que a quantidade completa e na superfície para conseguir distribuir uniformemente suas sementes. “No plantio direto tradicional a densidade da palha varia, à noite ela fica mais socada, mais embarreada, mais fina. Durante o dia, principalmente com o sol, ela fica mais alta e diante disso vão ter grãos que ficarão mais enterrados e outros muito na superfície”, conta.
E a uniformidade é importante para mais duas técnicas de manejo utilizadas com o objetivo de fortalecer e proteger a raiz, pois assim ela terá velocidade e resistência. A primeira é em relação ao uso do inoculante, quando é aplicado na linha de plantio, direto no sulco, e não nos batedores (o que acarreta em um desperdício pelo menos três vezes menor), e em uma dose dez vezes maior em relação à praticada.
“O jato com o inoculante vai junto na plantadeira, com isso a semente que jogo no início da linha, quando ela está lá no fim (tempo de dez minutos) já está enrugando. Se for ver no dia seguinte, ela já soltou o primeiro ferrão”, explica Tittoto.
A segunda está ligada à adubação e, ao se incorporar o potássio junto com o nitrogênio e fósforo, por ele ser um sal, quando o esporão da semente começar a se desenvolver e ter contato com ele, dependendo da quantidade, poderá sofrer lesões e até ser queimado. Diante disso, o produtor aplica o nutriente a lanço, depois que a planta nasceu.
O momento da colheita não poderia ficar de fora, quando ele considera imprescindível o agricultor ter sua própria colhedora, ou se a área for menor que 500 hectares (tamanho da lavoura que ele julga ideal para se ter uma estrutura formada por duas plantadoras e uma máquina de colher), adquirir a máquina em forma de condomínio ou consórcio. Na sua visão há muitos riscos em se terceirizar essa operação, pois podem acontecer diversos problemas como eventuais atrasos na data que o serviço é prestado, pisoteio, desperdício de grãos no campo, deixar rebarbas, entre outros.
E, seguindo a mesma linha de raciocínio, ele também dá muito valor à formação de um time de colaboradores experientes. Nesse ponto aponta uma vantagem em se trabalhar com a integração soja e cana, pois dá para usar os mesmos profissionais nas duas culturas, evitando tempo ocioso, fazendo com que diminua o número de safristas e aumente a quantidade de trabalhadores fixos.
Outro produtor que trabalha com soja em rotação de cultura com a cana é André Ferrante, que embora esteja sediado em Pontal, possui uma operação em sociedade com o agricultor Edson Hayashi, de Morro Agudo. Eles cultivam o grão na região entre os dois municípios desde 2003.
Animados com os resultados obtidos, nessa safra eles ampliaram a lavoura em 600 hectares, saindo de uma média anual de 1,1 mil hectare, chegando a 1,7 mil em terras de parceiros cujos detentores são fornecedores de cana e usinas.
Como também é produtor de cana, ele aponta para o avanço genético da cultura como uma das principais características que a fazem se integrar tão bem. Isso porque já há algum tempo um leque de variedades transgênicas resistentes ao glifosato, que é um herbicida de custo baixo e excelente para controle de plantas daninhas, está no mercado.
Sendo assim, ele explica que faz uso do produto para dessecar o canavial e uma aplicação 35 dias posteriores ao plantio do grão. Com isso ele consegue um controle eficiente nas daninhas mais disseminadas em sua região e de combate mais complicado, principalmente a grama-seda.
Sobre a organização de uma estratégia que não prejudique nem o ciclo da soja, tão pouco o plantio da cana, Ferrante alerta que quanto mais para o final da safra deixar as áreas que vão para reforma, mais apertada será a janela e isso pode acarretar diversos problemas.
“Existem casos que, na estratégia de colheita, deixam as áreas para reforma por último, dando preferência para os talhões mais novos em razão da produtividade. Porém, se colocar na balança que um período de reforma apressado pode acarretar em um preparo de solo malfeito, a inviabilização da adoção de uma cultura de rotação e, principalmente, atrasos no plantio da cana, perceberá que a regra de se fazer o último corte tardiamente nem sempre é a melhor escolha”, explica Ferrante.
Filho de um dos primeiros cooperados da Copercana, o senhor Alcides Ferrante, e engenheiro agrônomo (inclusive tendo prestado assistência técnica pela Copercana), Ferrante possui um vasto conhecimento quando o assunto é roça, até por isso consegue alterar bem a forma com que faz o plantio de soja conforme toda uma conjuntura que ele mesmo explica.
“Normalmente, em anos que não chove bem, para preservar a umidade damos preferência ao plantio direto em relação ao convencional, porém nossa decisão também é baseada em um levantamento para conhecermos o nível de compactação do solo", afirma o produtor.
Este ano, por exemplo, em metade da área ele fez o plantio direto, dessecou a soqueira da cana, e entrou com a semente uma semana depois. É válido lembrar que quando usa essa técnica, dependendo do acordo que tem com o proprietário, depois da colheita, Ferrante faz a subsolagem para entregar a área.
Tem também a questão da posição do proprietário da terra, porque muitas vezes ele mesmo faz o preparo de solo. "Nesse caso faço o plantio convencional. Agora quando tenho que trabalhar com a cana, eu faço o plantio direto", comenta.
Outro fator que pode influenciar é a época. Ele conta, por exemplo, que se recebe uma área em novembro para fazer o plantio de soja, não tem como preparar o solo, aí vai para o método direto. "Isso porque normalmente em novembro chove muito, e como vou fazer a operação com a terra molhada?”, argumenta Ferrante.
Operações especializadas na cultura como as dos cooperados já citados dão noção de que optar por deixar a terra em pousio ou mesmo plantar uma cana de ano serão práticas cada vez menos escolhidas, até porque diante do aumento considerado no número de pragas de solo, a quebra do ciclo delas com outra cultura passa a ser tão primordial como o uso de um adubo ou defensivo agrícola.
Porém, há muito para crescer. Só a título de curiosidade, um importante fabricante de colhedoras desenvolveu um estudo de mercado que identificou um potencial, apenas na região de Ribeirão Preto, de 50 colhedoras grãos/ano, somente para trabalhar em áreas de reforma de canavial.
Essa visão é confirmada ao conhecer a história de Wilson Márcio de Almeida, que está debutando no mundo da soja. Produtor de amendoim desde 2010, ele atua numa operação familiar, e a partir dessa safra formou uma lavoura do grão plantando em mais de 540 hectares localizada em sua grande maioria entre Monte Azul Paulista e Barretos.
Com o apoio fundamental da cooperativa (ele já era membro do Projeto Amendoim e logo também entrou para o relacionado à soja) tanto na aquisição do maquinário como na assistência técnica (realizada pelo agrônomo Thiago Zarinello), o agricultor já se sente confortável antes mesmo da colheita, ao falar que pretende mais que duplicar sua operação na safra seguinte.
“Hoje plantamos 500 alqueires de amendoim, pretendo igualar essa área com soja já no ano que vem e, para isso, a ajuda da Copercana é fundamental”, disse Almeida.
Um detalhe curioso está na forma como lida com o proprietário da área que negocia o arrendamento. Como é de praxe para quem produz amendoim, ele manteve a prestação do serviço de entrega com a cana já plantada também onde entrou a soja, um diferencial se considerarmos os outros dois agricultores relatados nessa reportagem (Tittoto e Ferrante), que entregam a terra depois da colheita do grão.
Conhecer para crescer
Observar os investimentos que tanto a Copercana como os agricultores estão fazendo, focados na construção de uma estrutura forte do grão em área de rotação de cultura com a cana-de-açúcar, é extremamente saudável para a economia da região, pois se trata de aproveitar o que era anteriormente parado, e por que não dizer desperdiçado, para a formação de mais um mercado virtuoso gerando mais uma fonte de renda e riqueza.
Mas da mesma forma que existe a animação pelo novo, é preciso saber que para lidar com ele deve-se buscar conhecimento sem a necessidade de rodar grandes distâncias até chegar nas imensas plantações do Mato Grosso ou Goiás. Basta dar um pulo em Guaíra, procurar o José Francisco na Unidade de Grãos ou o agrônomo Gustavo na Loja de Ferragens que, com certeza, eles indicarão experientes sojicultores que têm muito a ensinar.
Um exemplo é o presidente do Sindicato Rural da cidade, o agricultor Francisco Muraishi, que, ao falar que escolhe o tipo de semente e adubos perante os resultados do dia de campo que executa em sua propriedade, mostra que nada é mais assertivo do que experimentar em seu próprio ambiente.