Uma história de sucesso

Agricultura POR: Fernanda Clariano

Entrevista: Marcos Antônio Machado, diretor-geral do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; e Marcos Landell, Diretor do Centro de Pesquisa de Cana de Ribeirão Preto e pesquisador científico

O Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, acaba de completar 133 anos com a certeza de estar presente no cotidiano dos brasileiros.

Basta olhar ao redor e ver que do café da manhã ao jantar estão presentes tecnologias geradas pelo IAC, e para que no dia a dia elas sejam possíveis, o Instituto  conta com um corpo de servidores formado por 161 pesquisadores científicos e 319 funcionários de apoio, com uma área física de 1.279 ha de terras que abriga a Sede, Centro Experimental de Campinas e 12 Centros de Pesquisa distribuídos entre Campinas, Cordeirópolis, Jundiaí, Ribeirão Preto e Votuporanga, ocupados com casas de vegetação, laboratórios e infraestrutura adequada para a realização dos trabalhos.

A equipe da Revista Canavieiros entrevistou duas lideranças da instituição, o diretor-geral do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Marcos Antônio Machado, e o diretor do Centro de Pesquisa de Cana e pesquisador científico, Marcos Guimarães de Andrade Landell. Confira o que disseram sobre o Instituto, suas conquistas, tecnologias e desafios para a melhoria do setor de cana:

Revista Canavieiros: As questões sobre o que, quando e onde plantar, como melhorar o solo e protegê-lo ou como produzir economicamente sem causar danos ao ambiente, encontram respostas nas tecnologias geradas pelo IAC?

Marcos Antônio Machado: A questão o que plantar dependerá do que é útil para quem irá produzir e de como e quanto esse produtor terá retorno por seu trabalho. Sobre quando plantar, o momento é definido pelas condições ambientais, isto é, se as condições de solo, chuvas ou irrigação suplementar, temperatura e outros fatores favorecem ou não ao plantio. Todas as condições têm que estar otimizadas para permitir que haja produção sustentável. Em relação a onde plantar, deve ser feito em lugares em que as condições ambientais viabilizem a produção sustentável, ou seja, em equilíbrio com o meio ambiente sempre. Como melhorar o solo, é mais importante pensar como não degradar o solo, utilizando práticas de conservação que reconstituam nutrição e condições físicas do solo. Em como produzir economicamente sem causar danos ao ambiente, a prática da agricultura pressupõe a substituição de condições nativas e naturais por práticas de produção de alimentos. É do fundamento da agricultura que permitiu a fixação da espécie humana em comunidades e sua evolução. Porém, é desnecessário avançar mais em áreas naturais quando já existem as destinadas à produção agrícola. Portanto, a produção agrícola não é incompatível com a conservação ambiental.

Revista Canavieiros: O trabalho iniciado pelo Instituto em 1887 tem garantido a oferta de alimentos à população e de matéria-prima às indústrias, o que aumenta a competitividade dos produtos agrícolas. O que muitos não sabem é que o Instituto Agronômico mantém uma das mais completas coleções de plantas nativas e exóticas da América Latina para recuperar áreas degradadas e formar matas ciliares. Comente um pouco sobre isso, por favor.

Machado: O IAC tem como missão a geração de tecnologia agrícola sustentável e contribuir de modo decisivo para o desenvolvimento da agricultura brasileira. Ao longo de sua história de 133 anos, completados no dia 27 de junho de 2020, o Instituto selecionou e manteve coleções de espécies nativas e exóticas utilizadas nos sistemas de produção agrícola de todas as partes do mundo. Coleções que foram organizadas num momento de livre intercâmbio de material genético entre as nações. Embora essa situação tenha se alterado nos últimos tempos, o Instituto ainda mantém aquelas que apoiam grande parte dos trabalhos de melhoramento genético de espécies cultivadas, como citros, café, cana-de-açúcar, grãos, hortaliças e outras. 

Revista Canavieiros: Onde o modelo cooperativo contribui com a trajetória do Instituto Agronômico?

Machado: Como instituição de pesquisa aplicada, o Instituto Agronômico tem que gerar e transferir tecnologias aos usuários do setor agrícola brasileiro, que necessitam de intensos mecanismos de interação do IAC com o setor de produção agrícola paulista e brasileiro, através de eventos, publicações e parcerias no desenvolvimento de produtos. Nesse sentido, organizações como cooperativas representam canais de comunicação e transferência de tecnologia a usuários por sua capilaridade e penetração em setores de produção. Parcerias com cooperativas possibilitam que tecnologias geradas nos Institutos cheguem a vários produtores, com chances de serem adotadas por parcela significativa do setor. Tais parcerias podem envolver a transferência de produtos, como sementes e mudas, assim como a prestação de serviços. Um caso emblemático dessa parceria está na firmada entre o Programa de Cana IAC e a Copercana. O IAC também mantém estreita relação com cooperativas nas áreas de amendoim, feijão e café. As interações variam de segmento para segmento. Porém, em todas é determinante a capacidade que essas organizações têm de contribuir com as atividades da pesquisa e de levar seus resultados aos agricultores que são os principais destinatários da ciência agronômica praticada no IAC há 133 anos, ininterruptamente.

Revista Canavieiros: Conte-nos um pouco da sua história no IAC, por favor.

Marcos Guimarães de Andrade Landell: Ingressei no IAC em 13 de julho de 1982 para trabalhar com pesquisa em cana-de-açúcar, onde apoiei um projeto chamado Pró-Oeste (1980), que era focado no desenvolvimento de tecnologias de cana para a região Oeste do Estado de São Paulo. Nos primeiros anos, me aprofundei no conhecimento da cultura, inclusive cursei mestrado e doutorado nesta área. Em 1989 e 1990, vivenciei o que parecia muito negativo com o fechamento da Seção de Cana do IAC em Campinas, e a minha transferência para a antiga Estação Experimental de Ribeirão Preto. Também nesses anos, a Copersucar sofreu uma redução nos seus departamentos e projetos e o Instituto do Açúcar e do Álcool foi extinto, levando ao fechamento do Planalsucar. Nesse cenário cinzento busquei apoio nas usinas e associações da minha nova região de atuação e encontrei grandes companheiros de trabalho. Uma ação marcante foi a viagem que fiz com o Manoel Ortolan no finalzinho de 1993 à Piracicaba para participar do lançamento de variedades pela Copersucar. Na ocasião, comentei sobre práticas que estava fazendo para estabelecer ações da pesquisa agrícola para o setor, onde citei a criação do Grupo Fitotécnico de Cana em 1992, a instalação e ampliação da rede experimental de cana do IAC, e relatei os limites que tínhamos em deslocamento e recursos humanos. Imediatamente dr. Manoel me colocou à disposição Gustavo Nogueira, um jovem agrônomo que trabalhou na Canaoeste e integrou minha diminuta equipe, e isso mudou a nossa perspectiva. Na sequência, usinas como São Martinho, Pedra, Santa Elisa, Santa Lydia, Albertina e Jardest e Santo Antônio (Grupo Balbo), se aproximaram do recém-criado Programa Cana IAC para nos dar apoio ao projeto de melhoramento genético que “decolou”. Passamos a construir a rede experimental com apoio das áreas de pedologia e climatologia, o que nos permitiu a interpretação dos resultados experimentais e a construção de conceitos fitotécnicos que passaram a impactar a produtividade dos canaviais, dentre eles a Matriz Bidimensional e a Matriz Trídimensional (3º Eixo).

Revista Canavieiros: O que significa comemorar os 133 anos do IAC?

Landell: Estou nesta instituição há 38 anos, portanto, participei de 28,6% da existência dela, é mais que um quarto de vida. Conheci o IAC desde criança, pois meu avô, Ignácio Landell, passeando comigo de bonde, me mostrou o famoso prédio. Ele era amigo de alguns pesquisadores da época, pois tinha sido professor deles no Ginásio Culto à Ciência, e sempre os visitava para ver as novidades. Quando o IAC fez 100 anos, em 1987, eu era o pesquisador mais jovem da instituição, o que me marcou muito, pois alguns pesquisadores que admirava muito fizeram referência a isso, dizendo que eu tinha grande responsabilidade em manter o nome do IAC para o futuro. Foi e é muito emocionante até hoje essa comemoração.

Revista Canavieiros: Os desafios e conquistas foram muitos, tem algo a mais que gostaria de destacar?

Landell: Uma das decisões mais significativas foi a opção por criar o Programa Cana IAC fundamentado numa matriz que interagia todas as áreas fitotécnicas da cultura da cana-de-açúcar. Definimos isso em 1991-92, inspirados no que víamos no Planalsucar e na Copersucar. Reorganizamos a área de pesquisa de cana no IAC como pediu a diretoria da época, porém não foram disponibilizados recursos financeiros para esse rearranjo.  Montamos e identificamos os especialistas que poderiam compor esse novo programa. Convidamos Leila Dinardo Miranda, da nematologia do IAC, mas que estava escalada para a área de fruticultura. O mesmo ocorreu com Hélio do Prado, especialista em solos, que convidamos para trabalhar exclusivamente com a cultura canavieira. Nesta ocasião não tínhamos uma área física exclusiva e fomos interagindo com associações e usinas que nos apoiavam com serviços de seus laboratórios, e com diversas estações experimentais do IAC, estabelecendo os “sites” de nosso programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar. Logo tínhamos um belo network. Aquilo que parecia uma dificuldade se tornou uma das grandes vantagens do Programa Cana IAC, que com poucos recursos tinha flexibilidade e estabelecia diálogos para cooperações que viabilizassem toda a pesquisa. Eram escassos os pesquisadores e recursos, assim, estabelecemos diversas cooperações com laboratórios de análises tecnológicas e de solos (o site de Ribeirão Preto, por exemplo, usava os laboratórios da Copercana; o de Assis recebia o apoio da associação dos plantadores de Assis), para viabilizar a caracterização dos ambientes de produção em cada um dos ensaios, o que permitiu o aprimoramento da interpretação dos resultados experimentais, principalmente da rede de desenvolvimento de variedades recém-instalada naquele momento. Nossa equipe contava com pesquisadores de vários departamentos do IAC, do Instituto Biológico e de universidades. O professor Dilermando Perecim, da Unesp de Jaboticabal, por exemplo, tem sido o estatístico do Programas Cana IAC há quase trinta anos. No meio da década de noventa recebemos importantes pesquisadores, o que nos permitiu ampliar o estudo de diversas áreas técnicas, como parte de defesa (entomologia e fitopatologia), manejo nutricional e ambientes de produção. Em 2005, um novo grupo de pesquisadores ingressou no IAC e criamos as áreas de biotecnologia, matologia, irrigação, fisiologia e modelagem. Estas áreas permitiram que ampliássemos a nossa inserção no setor, criássemos cursos para treinamento de novos técnicos que atenderiam à grande expansão da canavicultura no período 2003 – 2010, e abraçássemos mais linhas de pesquisa. Portanto, o estabelecimento do Programa Cana IAC se deu em aproximadamente 15 anos. Outra conquista foi a criação da estação de hibridação de cana com o apoio da Fundag - Fundação de Apoio a Pesquisa Agrícola, na Bahia.  Por muito tempo tivemos um projeto de cooperação na área de hibridação com a Copersucar que se estendeu até 2009. Mas tínhamos limites neste uso, e com o apoio de empresas do setor sucroenergético, a Fundag criou uma área para receber o nosso germoplasma e assim fortalecer ainda mais o Programa Cana IAC.

Revista Canavieiros: Conte um pouco sobre algumas das premiações e homenagens recebidas ao longo de sua carreira, por favor.

Landell: O fato de estar à frente de uma grande equipe de pesquisa me deu inúmeras oportunidades de, representando-a, receber prêmios e homenagens. Ao longo dessas décadas foram 23 prêmios/homenagens aos quais dou grande valor. Destaco alguns deles: Prêmios MasterCana do JornalCana nas categorias (1) Inovação Tecnológica (2009), (2) Os mais Influentes do Setor (2009, 2011 e 2016), (3) Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola (1996) e (4) “Os melhores do setor”.  Prêmio Visão Agro, (1) Personalidade do ano (2014) e (2) Pesquisa e Desenvolvimento (2018). Em 2017 tive a honra de receber da AEASP (Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo) a Medalha Fernando Costa na Modalidade - Pesquisa. Esse prêmio me comoveu, pois temos excelentes engenheiros agrônomos na área de pesquisa agrícola no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, e receber esse reconhecimento de colegas foi de um significado sem igual. Em 2019, a equipe Cana do Programa Cana IAC recebeu o Prêmio Lide Agronegócios 2019, na categoria Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que teve um grande significado para a nossa instituição de 133 anos de existência, pois indica que o IAC continua eficaz, desenvolvendo para a sociedade brasileira tecnologias que sustentam áreas extremamente competitivas do agronegócio, como a da canavicultura. Por fim, em agosto de 2019 fui honrado com o Prêmio Norman Borlaug - Sustentabilidade 2019 dado pela Abag/Agrisus/Usp. Esse prêmio tem um significado especialíssimo para qualquer profissional que atua no agronegócio do Brasil, pois é conferido por entidades que congregam a representatividade maior da agricultura brasileira e leva o nome do grande Norman Borlaug, engenheiro-agrônomo americano, melhorista de plantas e considerado o pai da agricultura moderna, grande responsável pela revolução verde, prêmio Nobel da Paz de 1970. Receber este prêmio é algo único e me fez perceber a insignificância de nossas vidas, os nossos limites diante da honra que podemos receber de pessoas especiais e, principalmente, do próprio Deus.

Revista Canavieiros: Em 1992 foi criado o Grupo Fitotécnico. Comente sobre ele.

Landell: O Grupo Fitotécnico de cana-de-açúcar formou-se “oficialmente” em abril de 1992, e congrega fitotecnistas de usinas, destilarias e cooperativas, pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa e pessoas de empresas que produzem e comercializam insumos, matérias-primas, máquinas e equipamentos ligados à cultura da cana-de-açúcar. Ele foi oriundo de reuniões que um grupo de colegas, profissionais da área de cana-de-açúcar faziam a partir de 1991 num bar de Ribeirão Preto chamado “Ao Leste do Éden”. Ali combinávamos nos encontrar após sairmos de nossos trabalhos para socializarmos experiências que tínhamos na área de produção e pesquisa da cultura da cana. Resolvemos dar um caráter mais “oficial” a esta iniciativa a partir de 1992, e assim teríamos sete reuniões por ano para tratar de temas mais relevantes para a canavicultura. Em 1991, éramos sete, oito pessoas, depois a partir de 1992, 20-30 participantes, e em 2019, a média foi de mais de 200 participantes por reunião. Mantivemos um “ar de informalidade”, deixando os presentes muito à vontade para participar com questões ou mesmo com colocações de ordem técnica. Em quase três décadas, temas como variedades e manejo varietal, novas pragas (como a cigarrinha da raiz e o Sphenophorus) e novas doenças como o amarelinho (1993) e ferrugem alaranjada (2009-10), a área de nutrição de plantas, matologia, técnicas de plantio (MPB inclusive), discussões sobre sustentabilidade técnica e ambiental, desfilaram nos “palcos” do Grupo Fitotécnico Cana IAC. Os custos operacionais do Grupo são reduzidos, restringindo-se a despesas administrativas (comunicação, impressos, viagens e estadas de palestrantes, etc.) e são viabilizados pelo apoio de empresas de insumos que atuam no setor.

Revista Canavieiros: O IAC conta com um Banco de Germoplasma com mais de mil variedades de cana?

Landell: Sim, e o mantém numa unidade experimental próximo de Ilhéus (BA), onde pode usá-la anualmente para a campanha de hibridação. A estação de hibridação do Programa Cana IAC atualmente conta com 10 coleções de trabalho, subdivididas em dois principais grupos, 759 clones e variedades comerciais e 390 representantes do complexo Saccharum.  Essas coleções permitem aos melhoristas de cana-de-açúcar do Instituto Agronômico realizar centenas de combinações e dessa forma ampliar a variabilidade genética, praticar seleção e estabelecer diferentes estratégias de caracterização e desenvolvimento de novos pacotes de variedades.

Revista Canavieiros: O que significa desenvolver uma nova variedade? Quantas cultivares já acompanhou diretamente e o que pensa sobre novas formas de cultivo para que a cana possa ter maior produtividade?

Landell: O desenvolvimento de uma nova variedade envolve diversas operações no transcorrer de mais de uma década de avaliações. Desde a hibridação para a obtenção de sementes verdadeiras de cana, responsáveis pela geração de um novo indivíduo, inédito e único, até a finalização dos ensaios de caracterização, temos um período que normalmente, varia de dez a 18 anos ininterruptos. O desenvolvimento de uma nova variedade necessita de integração e complementação da ação de diversos especialistas, cada um cooperando com uma pequena observação, sob um plano único. Exige uma boa gestão dos dados gerados e uma análise de qualidade que nos informa o potencial agroindustrial do genótipo e identifica o zoneamento edafoclimático para otimização no uso do mesmo. Este trabalho é desafiador, pois precisamos nos cercar de uma série de conhecimentos para identificar os melhores de milhares que avaliamos. É um trabalho que nos traz muita satisfação, pois sabemos que a tecnologia varietal é aquela que provoca os maiores saltos produtivos, considerando manejos e ambientes equivalentes. Em outras palavras, a simples substituição de uma variedade pode proporcionar ganhos, por exemplo, de cinco toneladas de açúcar/ha com a utilização dos mesmos insumos e com práticas equivalentes. Com os lançamentos previstos para os próximos meses, devo totalizar a participação no desenvolvimento de mais de 30 cultivares lançadas pelo Programa Cana IAC no período 1997 a 2020.

O perfil varietal que temos perseguido no IAC envolve características de elevada população de colmos, uniformidade biométrica na altura e diâmetro dos colmos, e grande capacidade de acumular açúcares. Tudo isso em materiais de hábito de crescimento ereto e que tenham boa resistência ao acamamento. Essas características destacadas promovem a eficiência da colheita mecânica.

Quanto ao desafio da produtividade temos preconizado, além do uso de variedades com maior população de colmos, manejos que reduzam a exposição dos canaviais ao déficit hídrico, o que promoverá ganhos substanciais no acúmulo de biomassa. Isso junto com um manejo nutricional mais meticuloso, com estratégias de parcelamento de doses, por exemplo, tem proporcionado ganhos significativos para vários produtores. Ações de proteção nos canaviais também têm que ser adotadas para que doenças e pragas não venham “desconstruir” a produtividade planejada. Atualmente, temos estabelecido metas audaciosas para o canavial de “sequeiro”. Falamos em 15 toneladas de açúcar/ha na média dos cinco primeiros cortes. O “estado da arte” da canavicultura, permite a gente sonhar e praticar esses números, pois alguns produtores já atingiram tais metas. Outro indicador é a produção de etanol por hectare. Temos que promover o nosso “pré-sal”  biológico! Temos que ter como meta a produção de 10.000 l/ha na média dos cinco primeiros cortes.

Revista Canavieiros: O avanço do novo coronavírus impactou a forma de realizar as pesquisas do Instituto? Com a Covid-19, a expertise na pesquisa científica tem se transformado?

Landell: Houve mudanças significativas no nosso cotidiano. Uma boa parte da equipe trabalha na atualidade em teletrabalho, impedida de acompanhar a experimentação de campo, que é realizada em mais de 80% da nossa rede, em agroindústrias e associações de produtores parceiras. A nossa preocupação é não perder informações de ensaios em andamento. Uma parte dos experimentos que seria estabelecida em 2020 não pode ser plantada, pois muitas empresas não estão recebendo visitas externas e isso nos impediu de realizar ações de instalação. Vários eventos importantes como treinamentos e reuniões fitotécnicas estão suspensos. O famoso Grupo Fitotécnico de Cana IAC, por exemplo, não conseguiu iniciar as suas atividades em 2020. Não nos sentimos confortáveis apenas em alterar a reunião presencial para encontros virtuais. Achamos que isso ainda seria insuficiente e estamos criando um “plano B” para o segundo semestre. Tentamos manter alguns serviços que são oferecidos para o setor como os de diagnóstico de doenças, mas tudo se encontra sob impacto das ações de proteção contra a Covid-19. Mas destaco o lado positivo que foi a grande cooperação das equipes técnicas de empresas para manter “vivos” os experimentos nos auxiliando nos plantios e nas colheitas. A pesquisa agrícola da cana-de-açúcar tem muito a agradecer a todo o setor. Por outro lado, houve um crescimento de interações via reuniões virtuais e isso se deu com diversos grupos e para diferentes finalidades. Desta maneira, podemos dizer que a informação deve circular mais e em maior velocidade. Como tudo, há pontos críticos, mas também pontos muito positivos.

Revista Canavieiros: Animado com o RenovaBio?

Landell: O RenovaBio é a nova Política Nacional de Biocombustíveis, instituída pela Lei nº 13.576/2017, cujo objetivo é expandir a produção de biocombustíveis no Brasil, baseada na previsibilidade, na sustentabilidade ambiental, econômica e social, e compatível com o crescimento do mercado. É importante encontrarmos uma “conexão” mais palpável para o produtor de cana, algo que traduza as reais possibilidades de agregar valor na sua atividade. Quando isso ficar translúcido, ganharemos a adesão de mais de 70.000 produtores de cana-de-açúcar no Brasil, que ajudarão a tornar esta política de biocombustíveis uma grande realidade para o setor. Isso impactará sobre tudo que se produz de tecnologia para esse setor. Resumindo, estou animado e tenho boas expectativas em relação ao RenovaBio.