Uma vitrine para o setor aeroagrícola

29/08/2019 Agricultura POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano


O Brasil poderia viver sem a aviação agrícola, mas é certo que não seria o mesmo. Um desses efeitos seria uma agricultura longe de ser o orgulho nacional, ou seja, o agronegócio estaria longe de ter o status que tem. O uso de aeronaves para a aplicação de insumos agrícolas quase dobrou na última década, acompanhando a expansão do agronegócio brasileiro, um crescimento que tem permanecido nos últimos anos mesmo no período de crise econômica.

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a frota aeroagrícola brasileira cresceu 3,74% em 2018, chegando a 2.194 aeronaves. É o segundo país com maior quantidade de aeronaves agrícolas em atividade, só perde para os Estados Unidos com aproximadamente 5 mil aviões.

As novidades tecnológicas para o setor aeroagrícola foram apresentadas durante o Congresso da Aviação Agrícola do Brasil, sediado no Centro de Exposições Zanini, em Sertãozinho-SP, e realizado pelo Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) entre os dias 30 de julho e 1º de agosto. O evento reuniu mais de 140 expositores de oito países que apresentaram o que há de moderno em tecnologia de precisão nas aeronaves. 

Para o presidente do Sindag, Thiago Magalhães Silva, o Congresso de Aviação Agrícola é uma mostra não só do crescimento do setor no país, mas de sua importância para o avanço de produtividade no campo. “Tivemos recorde de expositores e de público nesta edição, o que comprova a importância deste setor”, disse.

 “A aviação agrícola, como foi muito bem colocada durante todo o evento, é crucial não só para o setor sucroenergético, mas para o agronegócio como um todo – lembrando que o agro é o que tem feito a diferença no Brasil nos últimos anos em termos de balança comercial e para a cidade de Sertãozinho foi muito importante essa parceria com o Sindag neste evento que movimentou a nossa economia e também a região”, comentou o secretário de Desenvolvimento Econômico de Sertãozinho, Paulo Gallo.

Termo de cooperação técnica

Na abertura do congresso, representantes do Sindag, da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) e da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil) assinaram um convênio - um termo de cooperação técnica que prevê, por parte das entidades, o reforço no trabalho de práticas ambientalmente sustentáveis no campo. O Sindag segue focando na importância de suas associadas manterem a regularidade de suas operações, incluindo o esclarecimento quanto ao atendimento da legislação vigente. Já a Orplana e a Unica devem orientar suas associadas sobre a importância de contratar empresas aeroagrícolas que atendam à legislação e às boas práticas no campo, conforme os critérios e informações repassados pelo Sindag.

Tecnologia

 
A tecnologia está embarcada nas aeronaves e mais adaptada ao brasileiro. Um equipamento apresentado durante o congresso vai muito além do GPS de precisão - ele oferece configurações variadas para aplicação, mais visibilidade das informações e personalização para cada piloto - tudo em português para facilitar o uso.

Drones


Os drones não devem ser olhados como rivais dos aviões agrícolas, a tecnologia é um complemento para agir onde o avião não pode ser usado. Dessa forma, é possível ser mais sustentável, com maior precisão e economia de até 80% dos insumos.

“O drone pode entrar em áreas onde o avião não pode. São áreas normalmente próximas a APPs (áreas de preservação) ou rios, onde um avião pela dinâmica de voo consegue chegar só a 500 metros. Já um drone, como não sai da área de pulverização, é permitido voar até 30 metros dessas áreas protegidas”, explica Ulf Bogdawa – CEO da SkyDrones.

Um sistema para o uso de drones de pulverização com voos automáticos em modo swarming (do inglês voo em enxames ou “enxameamento”) foi apresentado pela primeira vez ao público durante o congresso. O objetivo é otimizar o trato de lavouras com aparelhos pequenos – dentro do limite de 25 quilos previstos na legislação brasileira para veículos aéreos não-tripulados sem a exigência de certificação do aparelho e do piloto. Segundo Bogdawa, a intenção é poder oferecer a tecnologia comercialmente ao mercado brasileiro a partir de setembro.

Mercado
Representantes da indústria de aviões como a brasileira Embraer que domina 60% do mercado nacional e da norte-americana Air Tractor, maior fabricante mundial do setor e fornecedores de peças de aeronaves e sistemas de pulverização, marcaram presença no Congresso.
A maior fabricante de aviões agrícolas do mundo (Air Tractor) tem trabalhado cada vez mais de olho no Brasil, e já é maior vendedora com cerca de 50 aviões por ano, com equipamentos que permitem carga de 1500 quilos.

 “O Brasil é extremamente importante para a Air Tractor e para o mundo com a segunda maior frota aeroagrícola. Esse é o primeiro ano na história da Air Tractor que outro país comprou mais aviões que os Estados Unidos (2018 foi o primeiro ano nos 45 anos de história da empresa em que isso aconteceu). A importância do Brasil para o mercado agrícola e para o mundo como fornecedor de itens agrícolas é muito grande, por isso estamos aqui e trabalhando em apoio ao Sindag na luta para promover a aviação agrícola”, disse o gerente financeiro da Air Tractor, Phil Jeske.

A Embraer apresentou no Congresso sua aeronave líder de mercado. O Ipanema, movido à energia renovável (etanol), também celebra um marco este ano: 49 anos de seu primeiro voo. A aeronave segue garantindo agilidade, eficiência e produtividade, além de menores custos em relação ao combustível de aviação. Com 60% de participação no mercado, a aeronave atingiu recentemente 1.400 unidades comercializadas.

“O protagonismo do agronegócio na economia nacional impacta positivamente outros setores, como a indústria aeronáutica. Ao longo da sua história, a Embraer esteve presente nesse setor com produtos de alta tecnologia, fortalecendo a agricultura de precisão”, disse o diretor da Unidade Produtiva da Embraer de Botucatu, Alexandre Solis.

Palestras
O evento também contou com palestras e workshops para orientar técnicos e produtores rurais sobre o melhor uso da aviação agrícola. Os destaques ficaram por conta dos Fóruns Político e de Pesquisas, que reuniram autoridades e parlamentares federais. O filósofo, curador do projeto Fronteiras do Pensamento e comentarista político, Fernando Schüller, palestrou sobre tendências da política brasileira e os impactos no desenvolvimento do país.

 “Não pensem que o Brasil hoje é o único país instável no mundo”, disse Schüller. Ele também destacou que o presidente da República, Jair Bolsonaro, vem mantendo um mandato ainda em compasso de espera. Ainda de acordo com Schüller, a estratégia do governo é clara. “Ele está apostando em uma agenda econômica com mais independência num ambiente favorável”.

O cenário político também foi representado na apresentação do deputado federal e ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, que comentou o trabalho da Frente Parlamentar da Agropecuária e na ocasião falou sobre o desenvolvimento do setor agrícola.

“Queremos o desenvolvimento tecnológico e científico, e temos o orgulho de ter uma produção agropecuária no Brasil que cresce, é referência mundial e tem compromisso claro com a questão da sustentabilidade”. O deputado também comentou sobre a capacidade de inovação do setor. “Cada vez que desenvolve um GPS, que se busca aperfeiçoar uma barra de pulverização para ter eficácia, isso se soma num esforço geral para manter a capacidade de inovação e isso se transforma em um aumento de produtividade”. Sobre o setor de aviação agrícola Jardim destacou. “Estou vendo a dimensão desse setor que orgulha cada vez mais a todos nós. Já temos a segunda frota de aviões do mundo de pulverização agrícola, temos indústrias importantes e todo o conjunto de equipamentos - desde os de localização, equipamentos do ponto de vista da produção, de direcionamento. Os drones terão também um papel importante no aspecto de pulverização e aquilo que se complementa que são os softwares cada vez mais sofisticados para que a aplicação seja mais precisa. Queremos aprimorar a regularização da pulverização agrícola. A Frente Parlamentar Agropecuária quer aprimorar a regulação, o setor se interessa em ter uma boa regulação, mas nós não aceitamos que a simplificação leve à condenação do setor”. Ao explanar sobre a política do país, Jardim demonstrou estar esperançoso. “Estou muito otimista em relação ao cenário que se abre para o Brasil. Acho que podemos acreditar e temos essa responsabilidade de abaixar a bola, diminuir as polêmicas e crescer essa aderência”.

A programação do Congresso teve ainda palestras sobre a realidade da aviação agrícola na Europa, com o empresário espanhol Manuel Ignácio Fraile Moreno e sobre o uso de aeronaves em combate a incêndios com o major bombeiro Rodrigo Tadeu de Araújo.