Vai chover no outono e inverno

24/05/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra


Antes de chegar à constatação de que vamos ter um outono e inverno perto das médias históricas de chuva ou até mesmo acima, o professor de agrometeorologia da Esalq-USP, Paulo Cesar Sentelhas, fez uma apresentação para mostrar a importância das condições climáticas para a produtividade da cana-de-açúcar.

Ele iniciou os trabalhos mostrando um gráfico que aponta que o clima é responsável por 50% da produtividade, ficando o solo com 23%, o manejo com 14% e a planta pelos outros 13%.

Nesse momento ele faz uma interessante conclusão ao afirmar que cada ano haverá condições climáticas específicas, cabendo ao produtor desenvolver habilidades e ter o conhecimento necessário para mudanças rápidas e até mesmo bruscas em seu manejo para se adequar à realidade de cada período. “A agricultura será cada vez mais parecida como um jogo de xadrez”, comparou.

Em cima disso, o professor explicou o conceito de produtividade potencial, atingível e real, inerente a toda cultura. A potencial produtividade sempre terá que ser subtraída em relação ao déficit hídrico e condições climáticas, chegando assim a uma produtividade “atingível”.

Porém, esse número pode voltar a crescer em decorrência da adoção de técnicas que mitiguem a falta de água, como a fertirrigação com vinhaça, por exemplo, muito utilizada em cana-de-açúcar. Mas por outro lado, as técnicas podem ser menores em áreas de sequeiro.

Contextualizando para a cana, Sentelhas exemplificou que a produtividade potencial de um hectare seria por volta de 155 toneladas, sendo 101 toneladas um número atingível. Caso essa área esteja em uma bacia de vinhaça, ela pode variar entre 110 e 140. Agora, caso tiver que enfrentar a seca sozinha, o seu resultado final deverá ficar próximo das 80 toneladas.

Lógico que para diminuir essa diferença denominada yield gap, técnicas bastante conhecidas podem fazer a diferença como o melhoramento genético, data de plantio, produzir mais raízes e uso de microrganismos e de bioestimulantes. Ainda relacionado ao clima e a cana, ele cita duas intervenções humanas possíveis: a irrigação e a cobertura de matéria orgânica do solo.

Entendido esse ponto, o professor entrou com a classificação agroclimática da safra 19/20, quando, em primeiro lugar, mostrou o desempenho de chuvas em diversas regiões, incluindo Ribeirão Preto, onde a chuva chegou no dia 10 de setembro do ano passado, permaneceu forte até o final de novembro e virou para um período de escassez que perdurou até a metade de fevereiro, quando as águas voltaram firmes e acima da média histórica.
Diante desse gráfico, o professor conseguiu desenhar os impactos do clima de 18/19 na produtividade da safra 19/20 e em um cenário padronizado com algumas informações que foram: canas de 12 meses, 20% de cana planta e 80% de soca (do segundo ao quinto ciclo), eficiência agrícola de 80%, coeficiente de caimento de 0,22 e outros.

Perante esses valores e observando uma média climática de 32 safras, Sentelhas concluiu que a produtividade média para a região de Ribeirão Preto foi de 74,2 t/ha na safra passada e a perspectiva para a atual é um ganho acima de 12%.

Esse possível resultado vem da boa notícia estampada em um dos últimos slides da apresentação: “Consenso é de chuvas oscilando entre o normal e ligeiramente acima dela, ou seja, com um outono/inverno um pouco mais chuvoso”.

Diante disso, Sentelhas imagina uma safra com produtividade abaixo do esperado até o mês de maio - conta a se pagar devido ao veranico do verão e, posteriormente, canas mais pesadas, o que deve gerar cerca de 11 t de açúcar por hectare a mais para quem não usar maturadores e até 12,5 t para quem fizer uso da ferramenta.