Vetor de desenvolvimento

01/07/2013 Cana-de-Açúcar POR: Agroanalysis
Marcos Fava Neves¹
Rogerio. A. O. Castro²
Marcos Fava Neves¹
Rogerio. A. O. Castro²

A chegada de novas usinas dinamiza a atividade econômica, ambiental e social de uma região, sendo que a utilização do modelo de produtores independentes como o formato principal para a produção de cana pode ser mais profícuo para a sociedade. Isso é o que mostra um amplo levantamento documental na região de Quirinópolis, no sudoeste goiano, realizado com prefeitos, gerentes de bancos, produtores e suas associações, usinas, entre outros agentes.
Muitas críticas cercam a produção de cana-de-açúcar; dentre elas, a de que a cana-de-açúcar cresce sobre áreas de outras culturas, concorrendo com a produção de outros alimentos. No caso de Quirinópolis, esse fenômeno não é completamente verdadeiro, apesar de seus canaviais ocuparem uma área de 48 mil hectares em 2011; as outras culturas, como a soja, o sorgo e o milho, não perderam as suas importâncias na região.
Acontece que, mesmo com a queda de uma parte de suas áreas, ocorreu o aumento da produtividade nas culturas (soja – 8%; sorgo – 23,8%; e milho – 23,9%). Isso compensou a diminuição de áreas destinadas às mesmas, resultando na produção de volumes menores, porém relativamente maiores do que as perdas de área.
A partir de 2006, com a cana-de-açúcar ocupou-se importante área de cultivo na região, seja pela substituição de poucas áreas de outras culturas, seja pela ocupação de pastagens degradadas e naturais. O resultado foi um grande desenvolvimento para a região, de forma sustentável e com a manutenção da produção de outras culturas. Vale ressaltar, também, que a produção de leite cresceu e o rebanho teve ligeira queda.
Com a integração cada vez maior de lavouras e atividades pecuárias, será natural um crescimento conjunto. Com o aumento na produtividade projetado para os grãos, é de se esperar também um melhor uso da terra, com mais produtividade e, consequentemente, produção. 
O desenvolvimento da região de Quirinópolis é evidente entre os anos de 2005 e 2011, com a instalação das usinas São Francisco e Boa Vista (Grupo São Martinho, sendo um investimento com forte participação da Petrobras). A cidade, que, antes, ocupava a 39ª posição no ranking daquelas com melhor qualidade de vida em Goiás, ocupa a 6ª posição em 2012. 
Não é só o setor sucroenergético que sentiu os benefícios desse desenvolvimento, mas o aporte de investimentos na região aumentou o número de empregos e a renda da população, impulsionando também outras áreas, como a de Construção Civil e até o setor hoteleiro. 
Com a instalação e operação dessas usinas praticamente no mesmo período, setores correlatos começaram a se desenvolver, resultando na abertura e fortalecimento dos mais variados empreendimentos na região. O número de empresas estabelecidas anualmente na cidade saltou de 700 para 3.300, entre 2004 e 2011.
Juntamente à abertura de novas empresas, o número de empregos formais da região aumentou mais de 100%, acompanhado de crescimento na receita do município e de pequeno aumento populacional, o que resultou em uma maior e melhor distribuição de renda local. Essa tendência também foi registrada no valor do salário médio dos trabalhadores, que foi praticamente triplicado nos últimos anos.
O preço de um terreno com 100 metros quadrados, que era de R$ 10 mil em 2002, hoje, é vendido por R$ 100 mil. Faltam, hoje, todos os tipos de mão de obra na Construção Civil, desde pedreiros, carpinteiros, entre outros. Já o preço do hectare de terra pulou de R$ 4.500, em 2004, para R$ 20.000, em 2012. Tudo isso comprova a hipótese de que, quando chega a cana, se valorizam os terrenos e as terras.
Surgiram diversas concessionárias para atender essa crescente demanda por automóveis. Os relatos mostram uma cidade com oficinas lotadas, borracheiros funcionando dia e noite e lojas de peças contando com plantões em feriados e finais de semana. Uma movimentação econômica trazida pelos produtores de cana.
Além disso, o setor de Serviços oferece diversas oportunidades de emprego às mulheres, melhorando sua condição e, muitas vezes, propiciando sua independência, outro benefício social. Com esse crescimento, houve aumento na arrecadação de impostos. Em 2011, foram arrecadados R$ 24,3 milhões pelo
ICMS, que são revertidos em investimentos e desenvolvimento para a região, um valor três vezes maior do que o arrecadado em 2004.
Esse enorme salto nos indicadores socioeconômicos de Quirinópolis comprova a importância do setor no desenvolvimento regional e o impacto no crescimento face à grande influência da instalação de usinas na região. É um exemplo verdadeiro de interiorização do desenvolvimento, com geração, inserção e oportunidades de emprego. A realidade teve forte mudança após a chegada da cana e de inúmeros empreendedores com visão econômica, ambiental e social, que se instalaram nas terras do município para gerar produção e renda.
1 Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, campus de Ribeirão
Preto (mfaneves@usp.br)
2 Professor da Faculdade de Direito da USP, campus de Ribeirão Preto (raocastro@usp.br)