Vice-presidente da ABAG assume a presidência da Agrishow

07/06/2017 Agronegócio POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 131
O vice-presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), Francisco Matturro, assumiu a presidência da Agrishow em substituição a Fábio Meireles, presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) e estará frente à feira nas próximas duas edições.
Nesta entrevista à Revista Canavieiros, Matturro explicou que existe um rodízio na presidência entre as entidades realizadoras da Agrishow (Abag; Abimaq - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos; Anda - Associação Nacional para Difusão de Adubos; Faesp e SRB - Sociedade Rural Brasileira) e a ABAG assume desta vez, justamente quando será comemorada a 25ª edição da feira. “É interessante porque o primeiro presidente da Agrishow foi o Ney Bittencourt de Araújo, presidente da ABAG”, lembrou. Confira a entrevista:
Revista Canavieiros: Quais são suas metas como presidente da Agrishow?
Francisco Matturro: Foi um compromisso assumido no penúltimo dia da feira, durante a transmissão do cargo, já que o dr. Fábio Meireles foi o presidente da Agrishow até a coletiva de encerramento da feira, a partir daí eu assumi a presidência com muita honra, muito prazer, e as metas serão construídas, consensadas entre as entidades sócias, e, uma vez aprovadas, vamos implementá-las junto com a empresa contratada para montar a feira, que neste momento é a Informa. Vamos implementar todas as medidas que forem possíveis de serem adotadas, mas em primeiro lugar nós queremos fazer, e vamos fazer, um novo modelo de dinâmica. Essa feira nasceu e se consolidou com uma área grande de dinâmica e nós queremos prosseguir nesta direção de tal forma que ela se modernize. A dinâmica que está aí funcionou muito bem enquanto a tecnologia que estava disponível era essa, mas as coisas estão mudando e mudaram muito rapidamente para a conectividade, para agricultura de precisão, controle por GPS, satélite, etc. Portanto, vamos fazer uma dinâmica onde isso tudo seja contemplado, porque as vendas são realizadas nos estandes estáticos, mas as decisões são tomadas com as máquinas em operação.
Revista Canavieiros: Tem alguma medida já definida?
FM: Sim, é a implantação da unidade de referência tecnológica, que ainda não definimos o nome, mas a Secretaria de Agricultura de São Paulo chama de Vitrine Tecnológica e que ficará dentro da fazenda experimental, embora não seja uma área de concessão da Agrishow. A unidade será implantada em 44 hectares e funcionará o ano inteiro, no sistema ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta). O projeto está pronto, consolidado, foi elaborado pelo Instituto de Zootecnia, Instituto Agronômico, em parceria com a Embrapa e vai durar 12 anos: são quatro ciclos de três anos; ali serão medidos todos os resultados, os ganhos de produtividade, os ganhos de peso dos animais que vão viver ali. Então eu acho que já temos uma missão muito grande e será implementada no biênio 18/19.
Revista Canavieiros: Ano que vem será realizada a 25ª Agrishow. Já está desenhada alguma programação especial para comemorar esta edição?
FM: Estamos debruçados sobre o tema, pois será o jubileu de prata da Agrishow e nós vamos celebrar sim, porque no primeiro e segundo ano todos os projetos são bons, mas projeto bom mesmo é aquele que dura acima de cinco, e nós temos essa feira com 24 anos, 25 edições, então temos que fazer uma grande comemoração para uma coisa que deu certo.
Revista Canavieiros: Este ano vocês investiram mais na parte de conteúdo, essa tendência deve continuar?
FM: É uma tendência que pode continuar ou não, vamos ver se continua sendo bem aceita essa estratégia, senão nós substituímos, remodelamos e faremos o que tem de melhor. Porque existem dois pilares que são as sustentações de uma feira, aqui ou em qualquer lugar no mundo: os expositores e o público; pois eu posso fazer a melhor feira do mundo, fazer tudo, mas se eu não tenho público e não tenho expositor, não serve para nada. Então tudo o que for necessário faremos para atender melhor o nosso expositor e os nossos visitantes, para dar condições, melhor conforto a eles. Não vamos conseguir colocar ar-condicionado na feira toda porque são 222 hectares, mas vamos fazer o melhor possível. Nós temos um time grande, as entidades todas unidas, não há conflito entre nós e sim só direcionamento para o mesmo propósito, então a feira vai continuar sendo muito grande e tenho certeza que juntos nós vamos fazer muita coisa.
Revista Canavieiros: Na sua opinião qual a contribuição da feira para o agronegócio?
FM: Eu deveria olhar as duas pontas para responder a essa pergunta. Primeiro a ponta do produtor, que vem aqui buscar tecnologia, vem conhecer as novidades. E na outra ponta o fabricante, que sofre uma pressão maior devido a querer trazer para a feira lançamentos. Ele pesquisa, tem que debruçar em cima de projetos, olhar o mercado, verificar as tendências, tem que ver o que o agricultor está usando. Isso tudo é bom para ambas as partes. Hoje, a Agrishow traz, concomitante com os EUA e a Europa, os mesmos lançamentos de máquinas e equipamentos. Antes esses produtos chegavam aqui no Brasil uma geração atrasados, então essa defasagem não existe mais. Atualmente, o agricultor sabe o que quer, tem acesso à informação rapidamente. Ele pesquisa no google tudo o que tem no mundo e tudo que tem no mundo está hoje na Agrishow. Acho que a feira contribui para o agricultor e o agricultor contribui muito para os fabricantes.
Revista Canavieiros: O setor sucroenergético vive um novo momento. O senhor acredita que o segmento já retomou a curva de crescimento?
FM: Na verdade, eu diria que o setor não retomou, mas sim está em um processo de retomada, o que é um fato importante. Mas este processo vai demorar um pouco para ser concluído, pois a defasagem dos equipamentos hoje na lavoura de cana é grande. Isso porque a máquina utilizada no segmento canavieiro tem um uso muito intensivo, se desgasta mais do que as máquinas utilizadas em outras culturas, como no caso dos cereais, que necessitam de operações bem mais leves. Então o setor sucroenergético ainda demanda muita coisa e a curva de recuperação ainda vai muito longe.
Revista Canavieiros: A participação deste setor foi relevante para essa edição da feira?
FM: Devido ao processo de recuperação terá um impacto, têm linhas adequadas, têm políticas públicas adequadas, têm recursos para investimentos. Eu estou convicto que tem essa curva de recuperação, mas é uma curva que ainda não se completou, demora um pouco ainda para acontecer isso e se refletir na feira.
Revista Canavieiros: O senhor acha que o Governo tem apoiado a agricultura brasileira?
FM: Tenho certeza que o Governo tem apoiado. Todas as linhas de crédito para investimento para custeio continuam tendo recursos a juros compatíveis com o mercado.
Revista Canavieiros: Quais são os desafios para o crescimento do agro?
FM: O principal desafio para o crescimento do agro ainda é aumentar o nível de confiança. O agricultor acredita em tudo, é um ser especial.
Revista Canavieiros: Um dos problemas apontados por especialistas é que o agronegócio não sabe se comunicar direto. O que fazer para a sociedade valorizar mais o trabalho no campo?
FM: Talvez eu não veja dessa forma, eu acho que há um bom trabalho de comunicação, têm os veículos especializados cada um na sua área, como a Revista Canavieiros e outros. Hoje a comunicação flui com tantas plataformas de informações. Não vejo tanto problema neste sentido. Um exemplo de boa comunicação é a campanha “Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil” realizada com muita competência pela Rede Globo e da qual a ABAG contribui para elaborar as pautas. Nesta campanha, que tem como slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, são destacadas as produções de diversas culturas, sendo veiculadas as matérias em horário nobre, para um grande público, mostrando que o que ele come, veste e calça vem do agro. Acho que essas matérias têm ajudado muito a divulgar o trabalho no campo, o agronegócio, tanto que até homenageamos a emissora pela iniciativa. Os veículos especializados também ajudam, mas circulam no meio, então se comunicam pouco com o centro urbano. Sabemos que é uma tarefa difícil atingir um grande número de pessoas, como no caso de São Paulo, que tem mais de 44 milhões de habitantes e 98% morando em centros urbanos, porém a Globo atinge a casa de todo mundo e com esta campanha mostra para o cidadão urbano a importância do agronegócio e vai desmistificando a produção agrícola aos olhos da sociedade urbana. Acho que a comunicação sempre pode melhorar, mas já estamos em um bom nível, uma vez que uma rede dessa envergadura adota um programa como este é uma boa ajuda para divulgar o agro.
Revista Canavieiros: O senhor acredita que o país está preparado para atender à demanda crescente da população mundial nos próximos anos com relação aos alimentos?
FM: O Brasil está se preparando, não está pronto. Nós ainda temos problemas de infraestrutura e logística, e, ao mesmo tempo que é um grande gargalo, é também uma oportunidade para o país. Uma oportunidade de geração de empregos, uma oportunidade de fazer grandes concessões às empresas multinacionais ou nacionais que queiram entrar no jogo. O Governo tem que seguir forte na linha das concessões e concessão não quer dizer privatização, não está vendendo estrada, porto, ainda que vendesse, qual o problema?  Nenhum! O agricultor sabe fazer a parte dele e faz com muita competência. O que nós precisamos é de políticas públicas adequadas, não só para o financiamento dos equipamentos, das cultivares, da pesquisa, mas também para a infraestrutura e logística e o país vai nesta direção. Eu espero que este tumulto em Brasília termine rápido, que possamos passar esse país a limpo para poder fazer o que o precisa ser feito para retomar o crescimento e conseguir atender à demanda mundial por alimentos e energia, pois somente o Brasil pode atender a esta necessidade do mundo. Quem mais tem espaço para crescer? O Brasil só ocupa 8% da sua área para produzir tudo o que produz no campo, tem uma agricultura altamente tecnificada, pode conseguir melhores resultados mais produtividade e mais renda para o produtor, com o sistema ILPF.
Revista Canavieiros: Há alguma expectativa em relação ao Plano Safra?
FM: O Plano Safra 17/18 está em gestação. Tudo que tinha para ser feito da parte da indústria, da Abimaq, da Anfavea e da Fenabrave, tudo o que essas entidades podem fazer está feito. Agora há uma discussão entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda para adequação das taxas de juros e isso nós não sabemos o que virá. A reunião do Conselho Nacional, que define o Plano Safra, acontece na última sexta-feira do mês de maio, então em meados de junho nós deveremos ter o anúncio do plano e, como este anúncio é um momento político, quem define a data de divulgação é o cerimonial do Palácio do Planalto.
Revista Canavieiros: O senhor acha possível a implantação de um Plano Plurianual para a agricultura? 
FM: Eu sempre defendi o Plano Plurianual de 10 anos como é no EUA, mas na atual conjuntura acho difícil, pois o que se define por plurianual? A implantação de uma política pública? Não temos taxa de juros e de inflação como têm os países desenvolvidos, estabilizados. As taxas aqui sobem e descem. É bastante complexo termos um plano plurianual, por exemplo, de três anos, agora. Será que daqui a seis meses não estamos pedindo para renegociar as taxas? Daqui a um ano não estamos pedindo para renegociar as taxas novamente? É complexo isso. Eu defendo um plano plurianual, mas que seja algo que não tenha risco de se criar uma bolha de inadimplência, o que não temos hoje, pois a inadimplência é baixa. Então, eu acho que nós precisamos ter um pouquinho mais de estabilidade antes de se pensar nisso.
O vice-presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), Francisco Matturro, assumiu a presidência da Agrishow em substituição a Fábio Meireles, presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) e estará frente à feira nas próximas duas edições.

Nesta entrevista à Revista Canavieiros, Matturro explicou que existe um rodízio na presidência entre as entidades realizadoras da Agrishow (Abag; Abimaq - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos; Anda - Associação Nacional para Difusão de Adubos; Faesp e SRB - Sociedade Rural Brasileira) e a ABAG assume desta vez, justamente quando será comemorada a 25ª edição da feira. “É interessante porque o primeiro presidente da Agrishow foi o Ney Bittencourt de Araújo, presidente da ABAG”, lembrou. Confira a entrevista:


Revista Canavieiros: Quais são suas metas como presidente da Agrishow?
Francisco Matturro: Foi um compromisso assumido no penúltimo dia da feira, durante a transmissão do cargo, já que o dr. Fábio Meireles foi o presidente da Agrishow até a coletiva de encerramento da feira, a partir daí eu assumi a presidência com muita honra, muito prazer, e as metas serão construídas, consensadas entre as entidades sócias, e, uma vez aprovadas, vamos implementá-las junto com a empresa contratada para montar a feira, que neste momento é a Informa.

Vamos implementar todas as medidas que forem possíveis de serem adotadas, mas em primeiro lugar nós queremos fazer, e vamos fazer, um novo modelo de dinâmica. Essa feira nasceu e se consolidou com uma área grande de dinâmica e nós queremos prosseguir nesta direção de tal forma que ela se modernize.

A dinâmica que está aí funcionou muito bem enquanto a tecnologia que estava disponível era essa, mas as coisas estão mudando e mudaram muito rapidamente para a conectividade, para agricultura de precisão, controle por GPS, satélite, etc. Portanto, vamos fazer uma dinâmica onde isso tudo seja contemplado, porque as vendas são realizadas nos estandes estáticos, mas as decisões são tomadas com as máquinas em operação.

Revista Canavieiros: Tem alguma medida já definida?
FM: Sim, é a implantação da unidade de referência tecnológica, que ainda não definimos o nome, mas a Secretaria de Agricultura de São Paulo chama de Vitrine Tecnológica e que ficará dentro da fazenda experimental, embora não seja uma área de concessão da Agrishow. A unidade será implantada em 44 hectares e funcionará o ano inteiro, no sistema ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta). O projeto está pronto, consolidado, foi elaborado pelo Instituto de Zootecnia, Instituto Agronômico, em parceria com a Embrapa e vai durar 12 anos: são quatro ciclos de três anos; ali serão medidos todos os resultados, os ganhos de produtividade, os ganhos de peso dos animais que vão viver ali. Então eu acho que já temos uma missão muito grande e será implementada no biênio 18/19.


Revista Canavieiros: Ano que vem será realizada a 25ª Agrishow. Já está desenhada alguma programação especial para comemorar esta edição?
FM: Estamos debruçados sobre o tema, pois será o jubileu de prata da Agrishow e nós vamos celebrar sim, porque no primeiro e segundo ano todos os projetos são bons, mas projeto bom mesmo é aquele que dura acima de cinco, e nós temos essa feira com 24 anos, 25 edições, então temos que fazer uma grande comemoração para uma coisa que deu certo.

Revista Canavieiros: Este ano vocês investiram mais na parte de conteúdo, essa tendência deve continuar?
FM: É uma tendência que pode continuar ou não, vamos ver se continua sendo bem aceita essa estratégia, senão nós substituímos, remodelamos e faremos o que tem de melhor. Porque existem dois pilares que são as sustentações de uma feira, aqui ou em qualquer lugar no mundo: os expositores e o público; pois eu posso fazer a melhor feira do mundo, fazer tudo, mas se eu não tenho público e não tenho expositor, não serve para nada.

Então tudo o que for necessário faremos para atender melhor o nosso expositor e os nossos visitantes, para dar condições, melhor conforto a eles. Não vamos conseguir colocar ar-condicionado na feira toda porque são 222 hectares, mas vamos fazer o melhor possível. Nós temos um time grande, as entidades todas unidas, não há conflito entre nós e sim só direcionamento para o mesmo propósito, então a feira vai continuar sendo muito grande e tenho certeza que juntos nós vamos fazer muita coisa.


Revista Canavieiros: Na sua opinião qual a contribuição da feira para o agronegócio?
FM: Eu deveria olhar as duas pontas para responder a essa pergunta. Primeiro a ponta do produtor, que vem aqui buscar tecnologia, vem conhecer as novidades. E na outra ponta o fabricante, que sofre uma pressão maior devido a querer trazer para a feira lançamentos. Ele pesquisa, tem que debruçar em cima de projetos, olhar o mercado, verificar as tendências, tem que ver o que o agricultor está usando.

Isso tudo é bom para ambas as partes. Hoje, a Agrishow traz, concomitante com os EUA e a Europa, os mesmos lançamentos de máquinas e equipamentos. Antes esses produtos chegavam aqui no Brasil uma geração atrasados, então essa defasagem não existe mais. Atualmente, o agricultor sabe o que quer, tem acesso à informação rapidamente. Ele pesquisa no google tudo o que tem no mundo e tudo que tem no mundo está hoje na Agrishow. Acho que a feira contribui para o agricultor e o agricultor contribui muito para os fabricantes.


Revista Canavieiros: O setor sucroenergético vive um novo momento. O senhor acredita que o segmento já retomou a curva de crescimento?
FM: Na verdade, eu diria que o setor não retomou, mas sim está em um processo de retomada, o que é um fato importante. Mas este processo vai demorar um pouco para ser concluído, pois a defasagem dos equipamentos hoje na lavoura de cana é grande. Isso porque a máquina utilizada no segmento canavieiro tem um uso muito intensivo, se desgasta mais do que as máquinas utilizadas em outras culturas, como no caso dos cereais, que necessitam de operações bem mais leves. Então o setor sucroenergético ainda demanda muita coisa e a curva de recuperação ainda vai muito longe.
Revista Canavieiros: A participação deste setor foi relevante para essa edição da feira?
FM: Devido ao processo de recuperação terá um impacto, têm linhas adequadas, têm políticas públicas adequadas, têm recursos para investimentos. Eu estou convicto que tem essa curva de recuperação, mas é uma curva que ainda não se completou, demora um pouco ainda para acontecer isso e se refletir na feira.

Revista Canavieiros: O senhor acha que o Governo tem apoiado a agricultura brasileira?
FM: Tenho certeza que o Governo tem apoiado. Todas as linhas de crédito para investimento para custeio continuam tendo recursos a juros compatíveis com o mercado.


Revista Canavieiros:
Quais são os desafios para o crescimento do agro?

FM: O principal desafio para o crescimento do agro ainda é aumentar o nível de confiança. O agricultor acredita em tudo, é um ser especial.


Revista Canavieiros: Um dos problemas apontados por especialistas é que o agronegócio não sabe se comunicar direto. O que fazer para a sociedade valorizar mais o trabalho no campo?
FM: Talvez eu não veja dessa forma, eu acho que há um bom trabalho de comunicação, têm os veículos especializados cada um na sua área, como a Revista Canavieiros e outros. Hoje a comunicação flui com tantas plataformas de informações. Não vejo tanto problema neste sentido. Um exemplo de boa comunicação é a campanha “Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil” realizada com muita competência pela Rede Globo e da qual a ABAG contribui para elaborar as pautas.

Nesta campanha, que tem como slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, são destacadas as produções de diversas culturas, sendo veiculadas as matérias em horário nobre, para um grande público, mostrando que o que ele come, veste e calça vem do agro. Acho que essas matérias têm ajudado muito a divulgar o trabalho no campo, o agronegócio, tanto que até homenageamos a emissora pela iniciativa.

Os veículos especializados também ajudam, mas circulam no meio, então se comunicam pouco com o centro urbano. Sabemos que é uma tarefa difícil atingir um grande número de pessoas, como no caso de São Paulo, que tem mais de 44 milhões de habitantes e 98% morando em centros urbanos, porém a Globo atinge a casa de todo mundo e com esta campanha mostra para o cidadão urbano a importância do agronegócio e vai desmistificando a produção agrícola aos olhos da sociedade urbana. Acho que a comunicação sempre pode melhorar, mas já estamos em um bom nível, uma vez que uma rede dessa envergadura adota um programa como este é uma boa ajuda para divulgar o agro.


Revista Canavieiros: O senhor acredita que o país está preparado para atender à demanda crescente da população mundial nos próximos anos com relação aos alimentos?
FM: O Brasil está se preparando, não está pronto. Nós ainda temos problemas de infraestrutura e logística, e, ao mesmo tempo que é um grande gargalo, é também uma oportunidade para o país. Uma oportunidade de geração de empregos, uma oportunidade de fazer grandes concessões às empresas multinacionais ou nacionais que queiram entrar no jogo.

O Governo tem que seguir forte na linha das concessões e concessão não quer dizer privatização, não está vendendo estrada, porto, ainda que vendesse, qual o problema? Nenhum! O agricultor sabe fazer a parte dele e faz com muita competência. O que nós precisamos é de políticas públicas adequadas, não só para o financiamento dos equipamentos, das cultivares, da pesquisa, mas também para a infraestrutura e logística e o país vai nesta direção.

Eu espero que este tumulto em Brasília termine rápido, que possamos passar esse país a limpo para poder fazer o que o precisa ser feito para retomar o crescimento e conseguir atender à demanda mundial por alimentos e energia, pois somente o Brasil pode atender a esta necessidade do mundo. Quem mais tem espaço para crescer? O Brasil só ocupa 8% da sua área para produzir tudo o que produz no campo, tem uma agricultura altamente tecnificada, pode conseguir melhores resultados mais produtividade e mais renda para o produtor, com o sistema ILPF.


Revista Canavieiros: Há alguma expectativa em relação ao Plano Safra?
FM: O Plano Safra 17/18 está em gestação. Tudo que tinha para ser feito da parte da indústria, da Abimaq, da Anfavea e da Fenabrave, tudo o que essas entidades podem fazer está feito. Agora há uma discussão entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda para adequação das taxas de juros e isso nós não sabemos o que virá.

A reunião do Conselho Nacional, que define o Plano Safra, acontece na última sexta-feira do mês de maio, então em meados de junho nós deveremos ter o anúncio do plano e, como este anúncio é um momento político, quem define a data de divulgação é o cerimonial do Palácio do Planalto.



Revista Canavieiros:
O senhor acha possível a implantação de um Plano Plurianual para a agricultura? 

FM: Eu sempre defendi o Plano Plurianual de 10 anos como é no EUA, mas na atual conjuntura acho difícil, pois o que se define por plurianual? A implantação de uma política pública? Não temos taxa de juros e de inflação como têm os países desenvolvidos, estabilizados.

As taxas aqui sobem e descem. É bastante complexo termos um plano plurianual, por exemplo, de três anos, agora. Será que daqui a seis meses não estamos pedindo para renegociar as taxas? Daqui a um ano não estamos pedindo para renegociar as taxas novamente? É complexo isso. Eu defendo um plano plurianual, mas que seja algo que não tenha risco de se criar uma bolha de inadimplência, o que não temos hoje, pois a inadimplência é baixa. Então, eu acho que nós precisamos ter um pouquinho mais de estabilidade antes de se pensar nisso.