Para além das flutuações dos preços das commodities no mercado internacional, muito se falou sobre os riscos de desabastecimento de fertilizantes e demais insumos essenciais ao manejo do solo agrícola.
De acordo com a EMBRAPA, o Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes consumidos no país. Apesar deste aparente desconforto comercial, é certo que o agronegócio brasileiro tem buscado alternativas à sua dependência por fertilizantes, seja por meio do aprimoramento no manejo e estocagem, seja por meio do reaproveitamento de subprodutos.
Com o setor sucroenergético não seria diferente: mesmo com eventuais restrições à importação de potássio (o "K" do NPK), o setor pode se considerar privilegiado, pois as usinas de cana-de-açúcar possuem uma verdadeira fábrica de potássio em seu próprio quintal, a vinhaça.
A vinhaça é um dos principais subprodutos da indústria canavieira, sendo resultado do processo de fabricação de etanol. Na prática, a cada litro de etanol são gerados aproximadamente 12 litros de vinhaça. Esse incrível volume de vinhaça corresponde a uma solução riquíssima em minerais, matéria orgânica e água.
O uso da vinhaça para fertirrigação (fertilização + irrigação) do solo é amplamente adotado pelo setor (aproximadamente 40% de toda área cultivada de cana-de-açúcar é fertirrigada com vinhaça), sendo reconhecido pelos órgãos ambientais como um excelente exemplo de economia circular e bioeconomia.
Não se trata apenas do reaproveitamento de um resíduo industrial, mas de um modelo de adubação orgânica com potássio, cálcio, magnésio, fósforo, nitrogênio e enxofre, que garante eficiência ambiental e econômica ao manejo de solo pelo setor produtivo.
Além do já mencionado aproveitamento agronômico, a vinhaça também tem demonstrado enorme potencial para o seu aproveitamento energético, sendo composta por uma variação de 93% a 97% de água e de 7% a 3% de sólidos, dos quais aproximadamente 75% são compostos por matéria orgânica biodegradável e 25% são formados por minerais, além de ser uma importante fonte para produção de biogás, biomentano e bioenergia.
O aproveitamento energético da vinhaça é possível através processo da biodigestão da matéria orgânica presente em sua composição. Nessa matriz, a produção energética ocorre sem que exista qualquer perda do potencial fertilizante da vinhaça, ou seja, trata-se de um modelo de biorrefinaria, com aproveitamento de resíduos, substituição de insumos fósseis e químicos, aliado à produção de água limpa ao final do processo.
O aproveitamento agronômico e energético da vinhaça é apenas mais um exemplo do quanto a cadeia produtiva sucroenergética tem como fundamento básico a sustentabilidade. Os projetos para o aproveitamento energético da vinhaça já são uma realidade no setor produtivo e representam mais uma inovação em nossa cadeia de valor.