X Simpósio Tecnologia de Produção de cana-de-açúcar: muito conhecimento, inovação e tecnologia

26/09/2022 Noticias POR: Eddie Nascimento

 

Evento realizado em Piracicaba promoveu networking entre profissionais, especialistas e estudantes

Recentemente, aconteceu na cidade de Piracicaba o "X Simpósio Tecnologia de Produção de cana-de-açúcar", edição comemorativa de 20 anos. O evento, que é realizado a cada dois anos, reuniu mais de 540 participantes no teatro anexo ao Engenho Central de Piracicaba e foi organizado pelo GAPE-ESALQ (Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão), FEALQ (Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz) e departamento de Ciência do Solo (LSO-Esalq). O simpósio reuniu diversos profissionais, em quatro painéis com temas como atualizações no setor sucroenergético, novas tecnologias, desafios para novos tratos culturais e experiências do setor.

O custo de produção foi um dos assuntos recorrentes em cada painel, sendo que em cada um deles foram apresentadas formas de diminuir seus impactos. “Na safra passada esse custo aumentou muito, mas também subiu o preço da cana. A margem foi boa, mas nessa safra atual vai se encurtar. Então, a agricultura, o produtor de cana vai ter que ser muito eficiente em saber o que utilizar para aplicar, pois sabemos que o custo dos fertilizantes mais que dobrou, ou até triplicou em alguns casos”, apontou o coordenador do X Simpósio Cana e professor, Rafael Otto.

O professor Godofredo César Vitti fez questão de agradecer a presença da Canavieiros durante a cobertura do simpósio e destacou qual a importância do encontro. “É uma satisfação ter vocês fazendo a cobertura do evento. A Revista Canavieiros é a única que leio pegando no papel, porque sou à moda antiga”, comentou e acrescentou. “O objetivo do simpósio é aumentar a produtividade, a qualidade e a longevidade dos canaviais”.
Sobre o aumento de produção, Vitti citou os fatores que têm afetado os canaviais. “Hoje o que não deixa a cana-de-açúcar disparar e evoluir são três fatores básicos, todos ligados à biologia do solo. Então a cana, com a colheita mecanizada e o pisoteio, o solo foi compactado. O caso de uso indiscriminado de herbicidas eliminou microrganismos benéficos e a ausência de rotação de culturas”.

Vitti usa como comparativo o custo para se renovar um canavial na região de Piracicaba, que segundo o idealizador e coordenador do X Simpósio, passou de R$ 13 mil por hectare para R$ 16 mil, sendo que o tempo de durabilidade desses canaviais é de quatro anos. “É um absurdo. Trabalhamos em todo o Brasil com canaviais, com dez, doze anos, o que falta aqui? Temos que mudar isso. Além de querer ter rentabilidade, buscamos principalmente a longevidade. Atentar para os fatores biológicos é mais uma dentro”.

Já o professor e também idealizador do X Simpósio Cana, Pedro Henrique Cerqueira Luz, fez questão de destacar o sucesso de público que foi o evento. “Percebemos que a cada ano aumenta a participação no simpósio e as pessoas querem aprender mais, buscam informação, e isso é realmente muito gratificante”, revelou e acrescento. “Tudo isso mostra a grandeza do nosso simpósio, sendo este uma verdadeira ‘vitrine’ de conhecimento, de tecnologias e de debate sobre novas técnicas que têm surgido em nosso setor”.

Registros e informações

O simpósio promoveu uma verdadeira imersão na tecnologia de produção, ao mesmo tempo que oferecia, do lado de fora em seus arreadores, uma volta aos primórdios onde a produção de cana-de-açúcar favoreceu o desenvolvimento de várias cidades do interior paulista.

O espaço escolhido, um dos mais belos complexos turísticos e culturais de Piracicaba foi transformado em minifeira de agronegócios, proporcionando que treze empresas patrocinadoras do encontro pudessem oferecer máquinas, equipamentos e serviços para os visitantes, em grande parte, formado por profissionais ligados ao setor sucroenergético.

E por falar em público, de acordo com a organização do simpósio, foi grande o número de participantes, tanto que foi necessária a implantação de outro espaço, que recebia a transmissão em tempo real do palco principal.

Atualizações no setor sucroenergético

No painel Perspectivas e gestão dos custos de produção e da rentabilidade da cana-de-açúcar coube ao gestor do Pecege Projetos, João Rosa (Botão), trazer os últimos dados com relação à Sa fra 2021/2022. Como de costume, os números apresentados por Botão vieram de um levantamento do 'Compara Usinas', metodologia padronizada pelo Pecege que considera mais de 600 indicadores agroindustriais e conta com mais de 80 usinas participantes.

De acordo com os dados, na Safra 2021/2022 o produtor gastou em média R$ 13 mil reais por hectare para plantar. O custo de produção também foi alto, de acordo com o instituto, o produtor saiu de um gasto de R $ 100 p or t onelada p ara R $ 150. J á c om r elação à safra 2022/2023, o especialista apontou que apesar de o custo continuar em alta, a produtividade e os preços
devem se manter, sendo que a nova safra deve ser maior que a anterior.

No painel Saúde do solo em áreas sob cultivo de cana: estado da arte e perspectivas futuras, a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda de Carvalho Mendes, falou sobre a importância, conceito de saúde do solo e o que é fundamental para mantê-lo "vivo". Para tal, a pesquisadora explicou que solo é um organismo que possui a maior diversidade do planeta em sua composição, sendo um verdadeiro "universo paralelo".

Diante disso, Ieda destacou as ferramentas que o produtor tem em mãos para saber se um solo está saudável ou não. Ela destaca como primordial a análise de solo, sendo a nova tecnologia BioAs um enorme diferencial.
Ieda apontou que através da tecnologia dá para acessar a memória do solo, pois todo o sistema de manejo deixa uma assinatura. Citou um experimento da Embrapa onde a produtividade de soja aumentou consideravelmente após o produtor descobrir através da bioanálise os principais déficits em seu solo por meio s do BioAS.

Novas Tecnologias

Esse painel apresentou experiências reais no campo e mudanças que podem favorecer o produtor em cenários parecidos. Na primeira palestra que teve como tema "Novos produtos do setor: impactos na indústria sucroenergética", o diretor de desenvolvimento agronômico da Raízen, Carlos Daniel Berro Filho, comentou sobre os trabalhos desenvolvidos pela Raízen, que é uma empresa referência global em energia. Filho explicou sobre os pilares de produtividade da Raizen, sendo que dentro da nutrição, a empresa atualmente tem optado pela aplicação de adubação em 100% de vinhaça por aspersão. Diante desse cenário, Carlos Daniel trouxe dados os efeitos positivos desse tipo de aplicação na lavoura.

Em seguida, foi a vez de falar sobre o manejo dos bioestimulantes na fisiologia da cana-de-açúcar com o engenheiro-agrônomo e consultor Marcio Christian Serpa Domingues. Durante sua apresentação, Domingues destacou que é possível o produtor construir a planta através do manejo, já que os bioestimulantes podem elevar o potencial produto das culturas. O especialista trouxe dados sobre o potencial produtivo no Brasil e apresentou exemplos de fatores de estresse abióticos que comprometem o potencial do produto e consequentemente a planta. Segundo o engenheiro-agrônomo, todos os fatores que agem sobre a fotossíntese vão afetar a produtividade. Domingues listou exemplos de produtos do estresse abiótico em plantas, como o etileno, o ácido abscísico e o malondialdeído.

Em épocas de crise para cana mineral e orgânica, nada melhor do que saber quais são as fontes alternativas de potássio. Esse foi o tema apresentado pelo professor doutor, Godofredo César Vitti. Vitti trouxe dados sobre a importação de fertilizantes feita pelo Brasil, destacando que 23% deles vêm da Rússia. Ele apontou que é importante buscar alternativas e não ficar somente sob a dependência de importação de um único país. Em seguida deu informações sobre a importância do fósforo, potássio e formas de manejo para que o produtor possa aumentar a incidência desse composto no solo.

Já o pesquisador da AgroQuatro-S Experimentação e Consultoria Agronômica Aplicada, Sérgio Gustavo Quassi de Castro, mostrou as estratégias de manejo que deram certo em condições de pré e pós-estresse em cana-de-açúcar. Dentro dessa temática, Castro destacou que a fertilidade deve andar com a nutrição e apresentou testes reais em suas lavouras, mostrando que é possível obter ótimos resultados quando se investe no preventivo.

Desafios para novos tratos culturais


O engenheiro agrônomo Carlos Manochio, durante o terceiro painel que falou sobre o manejo de plantas daninhas

 

Os principais pontos discutidos nesse terceiro painel foram as novas formas de manejo para plantas daninhas, o combate as pragas da cana-de-açúcar e como é possível maximizar o uso de subprodutos na cultura. O engenheiro agrônomo e consultor Carlos Manochio abriu esse painel trazendo a temática "Manejos de plantas daninhas, na prática, caos e s oluções". Em seguida, foi a vez de José Garcia falar sobre a problemática do Sphenophorus e de outras pragas do solo. O painel também teve a participação do professor dr. Pedro Henrique de Cerqueira Luz, que falou sobre a maximização do uso de subprodutos. Finalizando a temática, o professor Rafael Otto explicou sobre as mudanças na adubação de cana-soca para potencializar a produtividade.

O estímulo aos novos profissionais

Este ano, além das temáticas, um fato chamou a atenção de quem teve a oportunidade de participar do X Simpósio, foi que grande parte dos profissionais convidados era mais jovem. De acordo com o professor Pedro Luz, a ideia é estimular ainda mais a participação de novos técnicos que possam trazer ainda mais informações que possam agregar mais ao setor sucroenergético. "O simpósio tenta trazer esse pessoal novo justamente para somar conosco, eles oferecendo essas novas técnicas e nós transmitindo toda a nossa experiência", destaca.

Dentro dessas experiências, o professor Vitti destacou a participação do agrônomo da Copercana, Ruan Betiol, ex-aluno que volta como convidado. "Para mim é um orgulho, porque o Ruan foi nosso orientado, quer dizer, eu tô deixando um legado, principalmente da minha parte e espero que ele continue com o meu trabalho com entusiasmo, com saúde, com técnica e respeitando a pátria e a família", frisou.

Experiências do setor


Ruan Betiol, agrônomo da Copercana

Como o próprio subtítulo diz, foi o momento de acompanhar as experiências dos profissionais que atuam no setor. Destaque para a participação do engenheiro-agrônomo da Copercana, Ruan Betiol. Convidado como palestrante pela primeira vez, Betiol discutiu a temática da Rotação na reforma da cana-de-açúcar: soja ou amendoim. “Fiquei feliz com esse convite e pela oportunidade de mostrar um pouco do resultado do nosso trabalho na Copercana e passar a nossa experiência nesse sistema de produção e renovação de cana-de-açúcar”, ressaltou Ruan Betiol.

Na palestra, o profissional apresentou dados sobre o potencial produtivo da região Centro-Sul com relação à cana-de-açúcar e uma forma eficiente que é possível usar na cultura da soja e do amendoim nessas áreas de reforma. Betiol citou os principais pontos da fisiologia das duas leguminosas e suas características e aproveitou para falar sobre os ensaios feitos pela cooperativa na Fazenda Santa Rita, em Terra Roxa, onde é possível analisar de forma plena os benefícios do plantio e sinergia entre o plantio das culturas. “Foi uma oportunidade de falar tanto do amendoim como também da cultura da soja, que são duas leguminosas que têm uma forte atuação, principalmente nas regiões da Alta Mogiana e Alta Paulista”, destacou Betiol que finalizou “Mostrei que é possível utilizar de forma eficiente cada uma dessas oleaginosas nas áreas de renovação”.

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