Programa de certificação da bioeletricidade

12/04/2021 Energia POR: FERNANDA CLARIANO

Incentivando a participação da bioeletricidade na matriz energética brasileira e o consumo responsável

 

A busca pelo consumo responsável e pela sustentabilidade das cadeias de valor dos setores econômicos tem feito as geradoras e comercializadoras de energia elétrica ampliarem o portfólio de fontes renováveis e de baixa pegada de carbono, capaz de atender à demanda pelo consumo responsável por parte das empresas no setor de energia elétrica.

Com esta preocupação, a Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, em parceria com a CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e o apoio da Abraceel - Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia, criaram o Programa de Certificação da Bioeletricidade - Energia Verde. Projeto focado na produção de energia estritamente a partir da biomassa da cana-de-açúcar. O Certificado e Selo Energia Verde reconhece geradoras, comercializadoras e consumidores no mercado livre de energia elétrica que contratam bioeletricidade gerada a partir da biomassa de cana-de-açúcar, uma energia neutra em emissões de gás carbônico. Trata-se da primeira iniciativa no mundo focada estritamente no setor sucroenergético.

O selo é emitido pela Unica, tem renovação anual e adesão voluntária. Para conseguir o Certificado Energia Verde, a usina deve atender a determinados requisitos, como cumprir critérios de eficiência energética na produção de energia elétrica, além de ser o combustível principal empregado na geração de biomassa. Em 2021, as diretrizes do programa foram atualizadas quanto à concessão para comercializadoras e consumidores livres.

A Unica, em parceria com a CCEE e apoio Abraceel, realizou no dia 4 de março, um webinar para apresentar as diretrizes da nova edição, ano 2021 do Programa de Certificação da Bioeletricidade, e contou com a participação da vice-presidente do conselho de administração da CCEE, Talita Porto, e do presidente-executivo da Abraceel, Reginaldo Medeiros, além de duas palestras: “A sustentabilidade ambiental na matriz elétrica brasileira: perspectivas para a próxima década”, com a superintendente-adjunta de meio ambiente da EPE - Empresa de Pesquisa Energética, Glauce Botelho, e “Os fundamentos e as diretrizes do Programa de Certificação da Bioeletricidade Unica/CCEE/Abraceel – Edição 2021”, com o gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza.

Na abertura, Talita Porto enfatizou a atenção do setor com a sustentabilidade. “Quando analisamos o setor de bioeletricidade percebemos que a preocupação com a sustentabilidade sempre esteve presente. Temos convivido com cenários adversos nos últimos anos e a bioeletricidade seguiu crescendo no Brasil, o que demonstra seu potencial e sua solidez. Acredito que o número de empresas certificadas deve crescer cada vez mais num ritmo acelerado para que possamos colher os frutos   de um setor sustentável”, disse a executiva da CCEE.

Já o presidente-executivo da Abraceel aproveitou a ocasião para destacar a crescente preocupação com sustentabilidade. Segundo ele, uma pesquisa da Abraceel aponta que 90% dos consumidores gostariam de produzir sua própria energia renovável.

“O consumidor final tem, cada vez mais, vontade de ter acesso a uma energia renovável e certificada, isso gera valor e é um produto diferenciado. Esse selo traduz, em termos de mercado, o desejo de sustentabilidade, não só das empresas, mas também dos consumidores de terem uma energia certificada e renovada”.

O Plano Decenal de Expansão de Energia é um documento informativo voltado para a sociedade, com uma indicação, e não determinação, das perspectivas de expansão futura do setor de energia

 

O plano de expansão de energia do Governo Federal foi um dos temas discutidos durante o seminário “Sustentabilidade Ambiental, Bioeletricidade” promovido pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

Aprovado no final de fevereiro pelo (MME) Ministério de Minas e Energia, o documento traz perspectivas para o setor nos próximos 10 anos.

Do total, R$ 2,3 trilhões devem ser destinados a petróleo, gás natural e biocombustíveis e R$ 365 bilhões para a geração e transmissão de energia elétrica.

Segundo o documento, depois de uma queda de oferta de energia por conta da pandemia da Covid-19 em 2020, haverá recuperação em 2021.

O texto prevê crescimento médio da economia de 2,9% ao ano, e da oferta de energia, de 3,0% ao ano até 2030 no cenário de referência.

Durante o seminário, Glauce Botelho, apresentou a estratégia decenal de expansão de energia do Governo Federal e destacou que o plano “é um documento informativo voltado para a sociedade, com uma indicação, e não determinação”, com caráter indicativo.

De acordo com a profissional, um dado importante da análise, foi o resumo dos aspectos positivos dessa expansão decenal como, por exemplo, a expansão de 28% da capacidade instalada de biodiesel, que somada com a expansão de 37% da oferta de etanol, vai significar no final uma redução de emissões de poluentes e gases de efeito estufa.

Há também a previsão de entrada de novas unidades de tratamento em refinarias existentes permitindo que a produção do diesel aconteça com menor teor de enxofre e aumento do fator de utilização, isso em relação à matriz energética.

Para a matriz elétrica, as boas notícias são em relação à micro e minigeração distribuída, contribuindo com o aumento de 4,6% da carga total de energia em 2030. Estima-se uma renovabilidade da matriz elétrica acima de 85%, sendo que desses 47% virá das fontes eólica e solar.

Há também a previsão de 10% por meio da modernização das UHEs (usinas hidrelétricas) com aumento da capacidade sem a construção de novas usinas - 2% da expansão relativas para empreendimentos da biomassa de resíduos e também a perspectiva de interligação de sistemas isolados, aumentando a confiabilidade, reduzindo custos e a emissão de gás de efeito estufa.

Glauce - “O Brasil é um país diferenciado em relação à sustentabilidade”

 

“Estima-se que até 2030 haverá expansão termelétrica da biomassa de 1.095 MW, dos quais 80% serão provenientes de bagaço da cana e 20% será de resíduo florestal. O Brasil já é um país diferenciado em relação à sustentabilidade nesse quesito, a matriz brasileira é um pouco mais de três vezes mais renovável do que a média mundial”, afirmou Glauce. A executiva também apontou os principais desafios e oportunidades para a biomassa (bagaço da cana). Como desafio, apontou o aumento da eficiência do processo produtivo e da cogeração em promover um melhor aproveitamento dos resíduos, palha e ponta, o que vai requerer aperfeiçoamento de aspectos logísticos, tecnológicos, ganhos de escala e redução de custos.

“O PDE aponta estudos que estimaram que ao final do período decenal, que existe um potencial técnico de aproveitamento de palha e ponta que poderá incrementar no final do período uma capacidade de exportação de energia de 11,5 GW, considerando um fator de exportação de 787,5 kWh/tonelada. É um potencial bem expressivo”, analisa.

Outra oportunidade de aumento de eficiência do processo produtivo de acordo com Glauce é o maior aproveitamento da vinhaça para a produção de biogás. “Só quero lembrar que em 2016 o primeiro empreendimento a biogás oriundo de bagaço de cana vendeu no mercado regulado e entrou em operação em 2020 e esse fato poderá estimular a implantação de novas plantas e a produção de biogás a partir da vinhaça em todo o país”.

O parque termelétrico a biomassa brasileira atualmente é responsável pela produção de 15,4 GW (giga watts), segundo estimativa feita pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). 76% dessa energia gerada vêm do bagaço de cana-de-açúcar, seguido por 16% de lixívia; 3% de resíduos florestais; 1% de biogás de restos de sólidos urbanos; e, 4% de outros combustíveis.

O relatório prevê que nos próximos 10 anos haverá uma expansão total estimada de 1.095 MW (megawatts), sendo, entre 2021 e 2025, uma estimativa de 635 megawatts contratados. Dessa quantidade, 508 MW virão de usinas a bagaço de cana (80%); 127 MW serão de biomassa florestal como, por exemplo, cavaco de madeira ou resíduos florestais (20%).

Os dados indicam ainda outra expansão entre 2026 e 2030 em mais 460 MW contratados. Desse montante 400 MW virão de usinas a bagaço de cana (87%) e, 60 MW de biogás de resíduos sólidos urbanos (13%).

Zilmar - “O Brasil tem uma fotografia muito interessante do ponto de vista da sustentabilidade”

 

Zilmar Souza, da Unica, detalhou as diretrizes do programa de cultivação da bioeltrecidade para 2021 e destacou a relevância da energia proveniente da cana na matriz energética brasileira. Conforme Souza, desde o ano de 2007, o setor da cana participa com a segunda posição entre as fontes de energia, superando a fonte hídrica. Em 2019, fechou com recorde, representando 18% da oferta interna de energia.

“Temos verificado uma demanda muito grande pelo mercado livre de energia elétrica em apoiar iniciativas que estimulem práticas sustentáveis e, ao buscar o Selo Energia Verde, os consumidores e as comercializadoras estão ajudando a expansão da bioeletricidade na matriz elétrica brasileira e o meio ambiente como um todo”, conclui Souza.

Certificação

O programa Selo Energia Verde certificou, até o momento, 60 usinas em 2021, que juntas irão produzir mais de 12 mil GWh ao longo do ano. Deste total, 59% serão exportados para a rede e 41% serão para o autoconsumo. O potencial oferecido à rede pelas usinas certificadas é capaz de atender seis milhões de unidades consumidoras residenciais, além de ser equivalente a toda a energia elétrica produzida no Brasil, em 2020, com carvão mineral. A energia gerada nessas usinas também é importante para a qualidade do ar, pois vai evitar a emissão de mais três milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, marca que somente seria atingida com o cultivo de 23 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.